Da cidade sacra à cidade laica. A extinção das ordens religiosas e as dinâmicas de transformação urbana na Lisboa do século XIX

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Designação
Convento de Santa Joana

Código
LxConv016

Outras designações
Convento de Santa Joana de Lisboa; Hospício de Santa Joana; Convento de Santa Joana Princesa

Morada actual
Rua de Santa Marta, 57-61

Sumário
O Convento de Santa Joana, da Ordem dos Pregadores, foi fundado em 1699 na antiga Quinta de Andaluz, situada no Vale de Pereiro, legada para o efeito por D. Álvaro de Castro em 1578. Destinado aos missionários que iam para a Índia Oriental, o convento ficou concluído, no essencial, cerca de 1712, construindo-se a igreja, de notável qualidade arquitectónica, e adaptando-se as casas nobres existentes na quinta para as oficinas conventuais.

Por ocasião do Terramoto de 1755, os religiosos foram para o convento de São Domingos de Benfica para dar lugar à instalação das comunidades femininas da Rosa e da Anunciada, cujos conventos tinham ficado arruinados. Nesta época houve uma nova campanha de obras patrocinada por D. José I.

O convento foi extinto em 1890, após a morte da última religiosa. Iniciou-se o processo de desamortização dos bens móveis e imóveis, o património artístico foi disperso e a igreja foi, finalmente, desafecta ao culto em 1924. Após a extinção, passaram pelo edifício diversas instituições, destacando-se a instalação do Arquivo da Fazenda Nacional e da Comissão dos Monumentos Nacionais. A cerca foi integrada no projecto urbanístico da zona oriental da Avenida da Liberdade e da Praça Marquês do Pombal, com a abertura da Rua Camilo Castelo Branco e da Avenida Duque de Loulé.

Embora se tenha demolido algumas áreas do primitivo convento, a maior parte do edificado mantém-se, embora despojado do seu património integrado e em franco mau estado de conservação.

O edifício foi recentemente vendido pela Estamo a um consórcio e vai ser reconvertido para outro uso.

Caracterização geral


Ordem religiosa
Ordem dos Pregadores

Género
Masculino
Feminino - A partir de 1756

Fundador
D. Álvaro de Castro - Cláusula testamentária

Data de fundação
1698-09-10

Data de construção
1699-11-25

Data de extinção
1890-03-15

Tipologia arquitetónica
Arquitetura religiosa\Monástico-conventual

Componentes da Casa Religiosa - 1834
Convento
Pátio: 3
Igreja
Cerca de recreio e produção

Tipologia de uso
Inicial - Religioso\Mosteiro ou Convento
Intermédia - Civil\Equipamento\Segurança Publica
Atual - Sem uso

Caracterização actual


Situação
Convento - Parcialmente demolido(a)
Igreja - Parcialmente demolido(a)
Cerca - Urbanizada

Ocupação
Convento - Devoluto(a)
Igreja - Devoluto(a)

Descrição


Enquadramento histórico
Em 1697, os frades do Convento de São Domingos de Benfica herdaram, finalmente, a Quinta de Andaluz que lhes fora destinada em cláusula testamentária por D. Álvaro de Castro, senhor do Paul de Boquilobo, antes de partir para Alcácer Quibir (1578). D. Álvaro determinou que, na quebra da linha sucessória de descendentes por linha directa, a quinta e olivais de Andaluz se destinavam à fundação de um novo convento da Ordem dos Pregadores, na dependência de São Domingos de Benfica, no prazo de dois anos a partir da morte do último titular do morgadio (SANTA CATARINA, V, 1866 (1767), pp. 234-235).

Os Dominicanos deram, imediatamente, início ao processo de fundação da nova casa, destinada à preparação daqueles que iam em missão para a Índia Oriental. Para orago da igreja, elegeu-se Joana Princesa de Portugal, poucos anos antes beatificada pelo papa Inocêncio XII (1693). Em face destas razões, o rei D. Pedro II autorizou a instituição do Convento de Santa Joana, por alvará de 10 de Setembro de 1698 (SANTA CATARINA, Idem, pp. 235-237; Colecção Chronologica de Legislação Portugueza 1683-1700, 1859, pp. 415-416).

O plano do convento e igreja deve ter sido elaborado até 21 de Setembro de 1699, data da escritura de contrato com os mestres pedreiros para a obra (ANTT, Idem, Cx, 1977, Doc. 148). Dois meses depois, a 25 de Novembro, realizou-se a cerimónia de lançamento da primeira pedra, presidida por D. Frei Pedro Fóios, bispo de Bona (SANTA CATARINA, V, 1866 (1767), p. 237). Em 1702, o Provincial da Ordem dos Pregadores solicitou licença ao Senado da Câmara de Lisboa para erguer o portal da igreja dentro do muro da mesma quinta e meter portais e sacadas ao longo do mesmo muro até ao chafariz de Andaluz (AML, Livro de Cordeamentos, 1700-04, f. 306-307v). No final de 1712, a obra estava concluída e terá sido nesta altura que o arquitecto João Antunes e o mestre pedreiro José Pereira foram chamados para realizar a medição e avaliação do trabalho, que estipularam em 8:124$605 réis [ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cx. 1978, Cap. 18, Doc. s/n). Nesta altura, os dominicanos habitavam o convento há já quatro anos (PEREIRA, 1909, p. 4).

A intervenção principal do projecto deve ter considerado, sobretudo, a igreja, um claustro e a adaptação do edificado existente à nova função de convento. As fontes referem que a quinta estava provida de boa casaria, palácio dos que naqueles tempos autorizavam uma casa de campo (SANTA CATARINA, V, 1866 (1767), p. 234). A conservação destas casas (ou de parte delas) permitia, simultaneamente, apressar a instalação da nova comunidade da Ordem dos Pregadores e controlar o orçamento das obras, dado que a fábrica conventual tinha poucos réditos (Idem, p. 238). Esta dedução é, aliás, reforçada pelas características de algumas das áreas sobreviventes, que apontam para a sua matriz arquitectónica residencial e civil (ver caracterização arquitectónica).

Após o Terramoto de 1755, os frades dominicanos abandonaram Santa Joana para permitir a sua ocupação pelas freiras dominicanas da Anunciada e da Rosa, em virtude dos estragos que o sismo provocara nestes conventos. Esta transferência foi ordenada pelo rei D. José I, que ainda doou 200 mil cruzados para adequar a casa conventual à clausura feminina e a uma comunidade bastante maior que a masculina que o habitava até então. Até se concluir esta intervenção, as religiosas ficaram a habitar numas casas provisórias construídas na cerca (CASTRO, III, 1762-1763, pp. 286-287). As obras de D. José I foram assinaladas pela exposição das armas reais no exterior, pedra brasonada que hoje se encontra no pátio escondida pelas ervas que sobre ela crescem (fotografia do brasão de armas de D. José I, in RIBEIRO, 1946, p. 26).

As comunidades de religiosas dominicanas habitaram o convento de Santa Joana até depois de decretada a extinção das ordens religiosas em 1833. Só após o falecimento da última freira, em 1890, o Estado tomou posse do edifício.

Ao longo de mais de cem anos passaram pelo edifício diversas instituições, destacando-se a instalação do Arquivo da Fazenda Nacional, da Comissão dos Monumentos Nacionais e da Polícia de Segurança Pública.

Em Setembro de 2014 o edifício foi vendido pela Estamo a um consórcio do qual faz parte o grupo hoteleiro Hoti, pela quantia de 11,2 milhões de euros.

Evolução urbana
O Convento de Santa Joana foi fundado na antiga Quinta de Andaluz, situada no Vale de Pereiro, ao norte de Lisboa, na estrada que ia das Portas de Santo Antão ao lugar de Nossa Senhora da Luz. Parte desta via antiga é ainda hoje a Rua de Santa Marta, onde se situa o acesso principal ao edifício.

Na Época Moderna, a área de implantação era uma zona de quintas e olivais provida de água, com abastecimento público no Chafariz do Andaluz. Construído em 1336 pela Câmara de Lisboa e em funcionamento até 1945, este é um dos mais antigos chafarizes da cidade, tomando o nome da zona e do largo que limitava a quinta.

A cerca do convento era delimitada pelas antigas ruas de Santa Joana, do Chafariz de Andaluz, do Vale de Pereiro e Travessa do Enviado de Inglaterra (designada no século XVIII por Travessa de Lázaro Verde (ARAÚJO, XIV, 1993, p. 91). Integrava duas áreas - a cerca de dentro e a de fora -, que, no total, tinham a área apreciável de 13.908 metros quadrados (ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cx. 1977, Doc. 190). A orografia do terreno era acidentada e compreendia um desnível entre o limite nascente e o poente, que ficava a uma quota superior. O muro da cerca media 3,5m altura e 0,5m de espessura e era rematado, originalmente, por capelo, depois substituído por um esbarro revestido de tijolo ou telha, com declive para o exterior, para evitar que a água da chuva penetrasse pelas faces em contacto com os edifícios que se foram construindo junto ao muro. [ANTT, Idem, Cx. 1977, Doc. 147). Os terrenos da cerca eram alimentados por uma mina de água privada.

A partir da última década do século XIX, a área de implantação do convento foi alvo de reordenamento urbano, integrado nos projectos de abertura das avenidas da Liberdade e Duque de Loulé, além da Avenida da Índia que obrigava à demolição dos edifícios conventuais, mas que não chegou a concretizar-se. Os limites da cerca foram alterados, com a regularização da Rua de Santa Joana (actual de Santa Marta), o prolongamento da Rua Camilo Castelo Branco (que obrigou à destruição de parte do edificado) e a supressão das Travessas do Vale de Pereiro e do Enviado de Inglaterra. O projecto considerou o nivelamento dos terrenos, ficando a Rua Camilo Castelo Branco e a Avenida Duque de Loulé a uma quota superior. No caso particular da Avenida Duque de Loulé, o desnível verificado no local de atravessamento da antiga Rua de Santa Joana foi superado pela construção de um viaduto. Por sua vez, a urbanização da cerca arrastou-se até às últimas décadas do século XX.

Caracterização arquitectónica
O Convento de Santa Joana apresentava, em meados do século XIX, uma planta irregular formada por diferentes corpos que se foram acrescentando e ajustando ao longo do tempo (AML, Planta geral dos novos arruamentos proposto pela 3ª Repartição do Serviço de Obras Públicas da Câmara Municipal de Lisboa, Augusto César dos Santos, 1898). Definindo a antiga Rua de Santa Joana (actual Rua de Santa Marta), um edifício (ou vários) formavam a fachada principal do convento, com portas e janelas de sacada abertas para a via pública (AML, Livro de Cordeamentos, 1700-1704, f. 306-307v). Transversalmente a este, erguia-se o corpo da igreja, prolongado por um edifício com a mesma cércea a poente. A norte da igreja localizava-se o claustro com uma área de 56,70m x 55,75m, de que se construíram apenas duas alas, ficando por concluir (ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cx. 1977, Doc. 190; FOLQUE, 1856-1658, Planta 19). A sudoeste, um pátio grande era conformado por um edifício assimétrico em U, o qual tinha ligação ao corpo da igreja pela ala nascente.

A fachada principal do convento, voltada para a Rua de Santa Marta, constitui uma obra de regularização do edifício e da via pública datável do primeiro quartel do século XX. A entrada faz-se por um portal, primitivamente ladeado pela torre dos sinos (PEREIRA, 1927, p. 297), que dá acesso ao terreiro do adro da igreja. Este terreiro é configurado pela fachada principal da igreja (à direita), um edifício do início do século XX (à esquerda), e parte do corpo conventual (em frente). Neste último, rasga-se uma galeria porticada pela qual se acede, actualmente, ao segundo pátio delimitado por mais dois corpos edificados e um muro de contenção. Este último confina com a Rua Camilo Castelo Branco, situada a uma quota bastante superior, que atinge o valor máximo de 12,20m de altura (AML, Processo de Obra nº 39747, Rua de Santa Marta, 61-61F).

A fachada principal da igreja é a lateral, apresentando portal de bom desenho arquitectónico, sobre o qual se expõe um baixo-relevo representando a "Anunciação à Virgem". Com uma área ampla (57,8 m x 11 m) (ANTT, Idem, Cx. 1977, doc. 19), que podia acomodar mais de 600 fiéis (PEREIRA, 1909, p. 4], a igreja apresenta planta rectangular. Actualmente, como de há décadas a esta parte, serve de garagem e oficina e encontra-se dividida em dois pisos. Na sua origem, tinha oito capelas: capela-mor ladeada de duas capelas, três capelas do lado do Evangelho e duas da Epístola (Idem, p. 5). Os elementos clássicos que estruturavam o interior e o piso de cantarias coloridas sobreviveram à adaptação da igreja aos diferentes usos atribuídos após a extinção. Destaca-se, em particular, as pilastras e capitéis jónicos da área do presbitério de grande erudição e rigor tratadístico, os arcos das capelas laterais e as tribunas de arcaria tripla que abriam para a capela-mor (actualmente entaipada), e a lápide tumular de D. Gonçalo de Sousa Coutinho no piso. O nível do desenho da área do presbitério e do portal, em particular, indicia a possível intervenção do arquitecto João Antunes no risco do projecto (como também avança Maria João Pereira Coutinho [2008]).

As grandes janelas rasgadas nos alçados laterais, entre os arcos das capelas, são adventícias e deverão datar da segunda metade do século XVIII, época em que se terá adaptado a igreja e a área dos coros para as religiosas assistirem às celebrações. O coro alto, medindo 23,5 m de comprimento, era ricamente decorado por pintura e talha e dispunha de um bom cadeiral. A igreja era decorada por altares de talha nas capelas, painéis azulejares nos alçados e estuques de relevo da escola de João Grossi na abóbada (PEREIRA, 1909, p. 6), dos quais não sobrevivem hoje vestígios no local. Algumas fotografias do primeiro quartel do século XX mostram o interior da igreja e das áreas do coro ainda com parte do seu património integrado - altares de talha, pintura, painéis de azulejo e cadeiral (ver fontes fotográficas).

Na continuidade da igreja, um edifício de três pisos aloja duas salas que conservam elementos de interesse patrimonial. Localizam-se no piso intermédio e davam acesso ao coro da igreja através de dois portais datáveis da segunda metade do século XVIII, um dos quais ricamente decorado por trabalho escultórico rocócó.

Finalmente, o edifício principal, que confronta com a entrada do convento, apresenta características singulares. A fachada, de três pisos e voltada a nascente, caracterizava-se pela simetria do desenho de cinco panos. O eixo central era marcado pela galeria porticada - formada por três arcos abatidos abertos e colunas toscanas - e as janelas de sacada do piso intermédio. Os panos dos extremos apresentavam arcos abatidos fechados, de desenho distinto dos centrais, e vãos de feição regular idêntica aos do terceiro piso. Na verdade, este terceiro piso parece ter sido, originalmente, uma loggia, a avaliar pelo desenho do pátio de Gonzaga Pereira em 1833 (PEREIRA, 1927, p. 297). As paredes da galeria central eram integralmente revestidas de painéis de azulejo de meados do século XVII - albarradas no registo inferior e padrão de tapete no superior - circundados por emolduramentos estreitos (SIPA, IPA.00019981, , foto 0540786). Actualmente, apenas uma das paredes mantém a decoração azulejar original, e a galeria foi alterada com o rasgamento do arco do extremo direito e de uma passagem que atravessa o edifício para o pátio grande nas traseiras.

Estas particularidades construtivas e decorativas indiciam que este edifício correspondia, originalmente, às casas nobres construídas, provavelmente em meados de Seiscentos, na quinta de Andaluz, propriedade do morgadio instituído por D. Álvaro de Castro. Tudo leva a crer, então, que esta "boa casaria" foi aproveitada para a função de convento a que se lhe acrescentou a igreja. Segundo a documentação do processo de extinção [ANTT, Idem, Cx. 1977, doc. 190), era por este edifício que se entrava no convento, pelo que se deduz que aí se localizasse a portaria. Tal facto é também sugerido pela pequena roda de cantaria que hoje ainda se encontra integrada numa parede do segundo piso.

Este edifício é prolongado por um corpo em L que configura o pátio grande e que foi amputado com a abertura da Rua Camilo Castelo Branco no início do século XX. O interior destas construções encontra-se devoluto e em estado de ruína. Nos extremos do corpo central, localizam-se as escadas que permitem a circulação na vertical (uma datável do século XVIII e arruinada; a outra adventícia). Ao nível da planta, o segundo piso do corpo central divide-se em duas alas de salas por um corredor central. É ainda possível observar alguns elementos de interesse, como a cave de construção primitiva onde se sucedem salas abobadadas estruturadas por grandes pilares quadrados, e cujos vãos entaipados denunciam o aterramento deste primeiro piso original.

Inventário de extinção
ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cxs. 1975, 1976, 1977, 1978 e 1979 - http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4224419

O convento de Santa Joana foi extinto em 15 de Março de 1890, data de morte da última religiosa. A Fazenda Nacional tomou, então, posse do edifício e deu-se início ao processo de desamortização, documentado por um longo processo conservado no ANTT. Este processo contém inventários de descrição e avaliação dos bens imóveis (rústicos e urbanos), móveis (imagens, alfaias, ornamentos, objectos preciosos, quadros, livros) e financeiros (títulos, foros, prazos, relações de padrões de juros reais). Contém ainda correspondência, ofícios, pareceres, projectos e plantas, relação de confrontações de propriedades de prazos foreiros, termos de entrega de objectos a instituições eclesiásticas e civis, listas de arrematações de bens móveis, listas de foros para arrematação, autos de arrematação, entre outros.

Inicialmente, a cerca foi arrendada por um privado (Frederico Augusto Davidson), as celas conventuais cedidas para residência de mulheres pobres e idosas e uma ala do convento para instalação da Congregação das Irmãs Hospitaleiras Portuguesas, antes sedeada no convento de Nossa Senhora da Luz em Arroios. Datará, igualmente, de 1890, o alojamento do Arquivo da Fazenda Nacional no convento de Santa Joana. Sete anos depois, a Comissão dos Monumentos Nacionais instalou-se na ala poente do convento, junto à Travessa do Enviado de Inglaterra, para o que se realizaram obras dois anos depois (Cx. 1976, Doc. 117; ANTT, MOP, DEPFM, Mç., Proc.º 50, Inspecção dos Serviços de Obras Públicas no Distrito de Lisboa, Processo nº 549, Instalação da Comissão de monumentos nacionais e Museu Etnológico no convento de Santa Joana, Capítulo 31 A].

Ao longo dos anos e décadas seguintes, outras instituições dividiram, entre si, os espaços do edifício: Garagem "San Giorgio" (1895) [AML, Processo de Obra n.º 11387, vol. 1]; Misericórdia de Lisboa (1898) [Cx. 1976, Doc. 122]; Firma Alberto Neves e Simplício (AML, Processo de Obra n.º 11387, vol. 1); Polícia Cívica (1913-1918); Biblioteca da Associação dos Condutores de Obras Públicas e Minas (1914) [ANTT, Idem, Cx. 1976, Doc. 115]; Obra de Assistência 5 de Dezembro (1918); Arquivo do extinto Corpo de Marinheiros da Armada (1918) [ANTT, AHMF, Convento de Santa Joana de Lisboa, Caixa 1976, Doc. 121 e 128]; Sociedade de Instrução Militar (1919), [ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Caixa 1976, Doc. 127]; Arquivo e vestiário do pessoal da Inspecção Geral do Tabaco (1933) [ANTT, Idem, Cx. 1976, Doc. 100 e 129]; sede da Sociedade Central de Torrefacção e Moagem (1944) [AML, Arquivo de Obras, Processo de Obra n.º 11387, vol. 1]; Sociedade de Transportes em Automóveis de Luxo, Ld.ª de Armando Jesus Resende (1940-50) [AML, Arquivo de Obras, Processo de Obra n.º 11387, vols. 1 e 2]; 16.ª Esquadra da PSP; Parada da Divisão de Trânsito e Serviço de Transmissões da PSP [AML, Arquivo de Obras, Processo de Obra n.º 39747, Rua de Santa Marta, 61-61F].

Em 1891, a Direcção-Geral dos Próprios Nacionais, juntamente com o Ministério das Obras Públicas, procedeu ao exame dos edifícios e terrenos, à sua avaliação em pequenos lotes e ao projecto das ruas necessárias [ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Caixa 1977, Doc. 190], tomando em consideração os estudos e planeamento de urbanização da cerca e os projectos de novos arruamentos elaborados pela Câmara Municipal de Lisboa a partir de 1886 [AML, Ref PT-AMLSB-CMLSB-UROB-PU-09-01257]. Entretanto, em 1895, erguia-se um barracão no pátio, para alojar a garagem automóvel "San Giorgio" [AML, Arquivo de Obras, Processo de Obra n.º 11387, vol. 1].

Em 1902, as obras de reordenamento urbano da CML encontravam-se em andamento e foram depositados na cerca os entulhos provenientes das obras de abertura da projectada Avenida da Índia, que atravessaria o convento, mas que não chegou a materializar-se [ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cx. 1975, Cap. 4]. No final de 1904, autorizou-se a demolição de construções, na área da cerca junto à Travessa do Enviado de Inglaterra cedida à Câmara Municipal de Lisboa por decreto de 1895-7-27, para aterro e prolongamento da Rua Camilo Castelo Branco [ANTT, Idem, Cx. 1977, Doc. 187]. Em 1908, procedeu-se ao loteamento dos terrenos da cerca e dependências do convento para arrendamento ou venda e, no ano seguinte, deu-se início à construção de um prédio na área da cerca [ANTT, Idem, Cx. 1975]. Em 1940, a maior parte do edificado conventual estava reduzido sensivelmente ao que hoje subsiste, mantendo-se na propriedade do Estado; e os prédios com fachada para a Avenida Duque de Loulé estavam construídos [AML, "Planta da Propriedade do Estado sita entre as Ruas Camilo Castelo Branco e Santa Marta", 1940. Arquivo de Obras, Processo de Obra nº 11387, vol. 2, folha 4, proc. 4ª/0/3819/40].

Após a extinção em 1890, a igreja manteve-se ao serviço do culto, mas em mau estado de conservação. O processo de degradação do edifício, registado logo em 1896 [ANTT, Idem, Cx. 1976, Doc. 137; ANTT, MOP, DEPFM, Mç. 492, Proc.º 15 - Reparos de que carecem os telhados, igreja, coros e casas anexas, do extinto convento de Santa Joana], é bem descrito por Gabriel Pereira em 1909:

"Hoje o edifício de Santa Joana está em grande parte destruído. Na parte que olha para a rua instalou-se, muito acanhadamente, um arquivo dos Próprios Nacionais; na construção baixa, na esquerda do pátio, está uma dependência da Santa Casa da Misericórdia. Os grandes dormitórios, as séries de quartos das freiras foram desfeitos. Está de pé a igreja e o coro de cima. Este ameaça ruína rápida, mas ainda lá avistei muita obra de talha dourada e polícroma, de que talvez fosse ainda possível salvar alguns trechos. O tecto da igreja está fortemente rachado, o abalo de 23 de Abril último alargou a fenda. Para conservar a igreja será preciso aguentá-la com linhas de ferro. Há nesta igreja coisas que merecem notar-se; as grades dos coros são muito interessantes, e de rara forma. Os azulejos são bons; tem imagens de boa escultura. Um grupo de devotos conserva o culto, e será isto base da salvação da igreja e das suas obras de arte se acaso as necessidades da civilização não destruírem tudo. Ainda há poucos dias ali houve lausperene; o antigo sino das freiras fez ouvir os seus repiques argentinos; passando por ali, ouvindo o repique festivo, e agudo, entrei um tanto admirado, porque imaginava que nada existia já da artística igreja" (PEREIRA, 1909, p. 14).

Além da espoliação do património integrado e móvel da igreja, não se registam quaisquer obras de conservação ou de reabilitação, e o processo de degradação do edificado continuou nas décadas seguintes (ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cx. 1976, Doc. 137).

O culto na igreja de Santa Joana foi reconfirmado e autorizado por Decreto de Possidónio da Silva em 1918, com a instalação da paróquia do Santíssimo Coração de Jesus e da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (ANTT, Idem, Cx. 1976, Doc. 131). Todavia, a afectação ao culto foi revogada, em 1924, por decreto da Direcção Geral de Fazenda Pública, que destinou a igreja ao alargamento do Arquivo do Ministério das Finanças e cedeu a Casa do Despacho à Junta de Freguesia de Camões. (ANTT, Idem, Cx. 1977, Doc. 184).

O valor artístico da igreja, reconhecido por Gabriel Pereira, fora já anteriormente alvo de uma proposta de musealização por Alfredo Keil (1905, 32-32), que sugeriu que não só a igreja como o convento fosse transformados num pólo do Museu Nacional de Belas Artes, onde se recolheria dos conventos e igrejas em processo de demolição ou arruinados. Essa noção do valor patrimonial do convento de Santa Joana chegou, ainda, a ser perfilhada pelo próprio Chefe da 3.ª Repartição da Direcção-Geral da Fazenda Pública que, em ofício de 31 de Outubro de 1916, demonstra preocupação pelo estado de conservação da igreja:

"Dos conventos suprimidos de Lisboa o que possuía igreja mais notável pela originalidade do coro, ante-coro e sub-coro, decorados de valiosas capelas e com variados objectos de culto de alto valor pela sua antiguidade e mérito artístico, era sem dúvida o de Santa Joana, onde se encontra instalado parte do arquivo desta Repartição. Todas essas preciosidades foram levadas para o Museu Nacional. No coro apenas ficou um altar de reconhecido valor pelo motivo de ser a repetição de outro. De modo, que todas as paredes daquelas dependências se encontram escavacadas, havendo aqui ou acolá um ou outro fragmento de obra de talha e vários objectos como algumas imagens, poucos móveis, armários antigos, quadros soltos e apainelados nos tectos. Todos estes objectos se encontram dispersos e deteriorando-se, não só pela má segurança dos telhados que deixam passar as águas pluviais como principalmente pelas obras de construção de alguns pavimentos, a que está procedendo o Ministério do Fomento (...)" (ANTT, Idem, Cx. 1976, Doc. 138).

No entanto, o processo de desamortização dos bens móveis e integrados prosseguiu, com a realização de leilões em 1917 e 1924 (ANTT, Idem, Cx. 1977, Doc. 143; BRITO, 1924), concluindo o caminho de dispersão das obras artísticas iniciado logo em 1891, após a realização do inventário. O processo de extinção informa sobre o destino de grande parte dos bens móveis e património integrado:

- Parte do conjunto de alfaias, imaginária, pintura, têxteis, sinos e outras peças foi entregue ao Museu Nacional de Belas Artes e Arqueologia (em 1891 e 1899), Patriarcado de Lisboa (1892), Irmandade do Santíssimo Sacramento de Belas (Sintra, 1890; ver FERREIRA, 2008, pp. 179-181), igreja de São Pedro da Ericeira, cemitério de Benfica (1897), Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e Senhor da Via Sacra (1918). Outra parte foi arrolada e vendida em leilão público (4 de Junho de 1917).

- Cadeirais - O cadeiral do coro de baixo, em pau-santo e vinhático, foi cedido às Irmãs Hospitaleiras Portuguesas, sedeadas no convento das Trinas do Mocambo (1892). O cadeiral do coro de cima, constituído por 92 cadeiras em pau-santo e espinheiro, foi dividido entre a igreja de Nossa Senhora do Rosário do Corpo Santo (Lisboa, 1894) e o convento de Cristo (Tomar).

- Duas lápides tumulares seguiram para o Museu Arqueológico do Carmo (1914).

- Cartório e Biblioteca - Os livros e documentos do Cartório, em virtude do Decreto de 2 de Outubro de 1862, foram transferidos para o Arquivo da Torre do Tombo em 1863. A biblioteca foi entregue, em 1891, à Inspecção Geral das Bibliotecas e Arquivos Públicos.

A fortuna patrimonial do restante património integrado foi relatada pelo tenente Armando Vitorino Ribeiro [RIBEIRO, 1946, 55, pp. 22-27): até Fevereiro de 1945, as paredes do átrio da 16ª Esquadra da PSP tinham estado decoradas com lápides tumulares da igreja; os azulejos da igreja haviam sido arrancados, numerados e encaixotados e oferecidos a uma igreja não identificada, a pedra de calcário amarelo do altar-mor fora aproveitada para o tampo de uma comprida mesa da messe dos guardas e de 16 outras mesas mais pequenas da sala de jantar da mesma messe.

Cronologia


1578-06-10 Antes de partir para Alcácer Quibir, o fidalgo D. Álvaro de Castro deixa, por cláusula testamentária, as casas, quinta e olivais de Andaluz ao convento de São Domingos de Benfica, para aí se fundar um novo cenóbio da mesma ordem, no prazo de dois anos após a morte do último titular do seu morgadio.
1693-04-04 Bula papal de beatificação da Princesa Joana pelo Papa Inocêncio XII.
1697 Falece D. João de Castro Teles, último titular do morgadio de D. Álvaro de Castro, e a Quinta de Andaluz passa para a posse do convento de São Domingos de Benfica.
1698-09-10 Alvará do rei D. Pedro, autorizando a fundação do convento de Santa Joana, destinado aos missionários dominicanos que iam para a Índia Oriental.
1699-07-03 Provisão do arcebispo cardeal Sousa, permitindo a construção do convento.
1699-09-21 Escritura do contrato com os mestres pedreiros para a edificação da igreja e do convento.
1699-11-25 Cerimónia de lançamento da primeira pedra, presidida pelo bispo de Bona D. Frei Pedro Fóios.
1702-08-25 Petição à Câmara de Lisboa do provincial da Ordem dos Pregadores acerca do novo convento de Santa Joana, que se construía na quinta de Andaluz. Solicita-se licença para erguer o portal da igreja dentro do muro da mesma quinta e meter portais e sacadas ao longo do mesmo muro até ao chafariz de Andaluz. O auto de vistoria indica que do portal da igreja até ao muro novo a parede media 35 palmos.
1702-08-26 Auto da licença do Senado de Lisboa para a edificação do convento de Santa Joana.
1705-06-11 O prior e vigário geral, frei António Pacheco, autoriza o padre frei João Galrão a empenhar e obrigar a sua livraria, avaliada em 200 mil réis, por empréstimo ou à razão de juro remível, para a continuação da obra do Convento de Santa Joana, dado que as rendas da fábrica não eram suficientes.
1706 A igreja estava concluída e é descrita por frei Lucas de Santa Catarina, que a visitou nesse ano, como obra de "arquitectura moderna". Assim à mão direita, como à esquerda, lhe fica campo direito, e desembaraçado para um proporcionado convento, com todas as suas oficinas, em que se trabalha com o vagar de fundação pobre, e desvalida".
1708 Funcionava já no convento o noviciado de missionários da Ordem dos Pregadores. "O convento era modesto e poucos os habitantes. Mas a cerca era vasta".
1712-10-07 Cerimónia de sagração da igreja.
1712-10-13 As dependências conventuais estavam concluídas.
1718 Fundação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e do Senhor Jesus da Via Sacra, no Convento de Santa Joana.
1755-11 O Terramoto não afecta significativamente o convento de Santa Joana, ao contrário do que sucedeu com os conventos da Anunciada e da Rosa, que ficaram arruinados. Em consequência, os dominicanos abandonam o convento para permitir a transferência das comunidades femininas. O rei D. José I patrocina obras no convento para recolhimento das religiosas dominicanas, despendendo cerca de 200 mil cruzados. Até à conclusão das obras, as religiosas "mudaram-se para a cerca de Santa Joana, acomodando-se em várias barracas, que mandaram erigir".
1756-08-23 Breve do Papa Bento XIV autorizando a transferência das religiosas do Salvador e Rosa para o Convento de Santa Joana.
1770-02-11 É instituída pelo Cardeal-Patriarca a nova freguesia de Santa Joana (depois Coração de Jesus), sediada na igreja do Convento de Santa Joana, onde se mantém até 1880.
1823-03-24 Numa Consulta da Comissão Eclesiástica da Reforma dirigida a D. João VI, é referido que o Convento de Santa Joana tinha vinte e duas religiosas dominicanas, uma de São Bernardo, e ainda duas pupilas educandas que serviam no coro. Tinha setenta celas, em bom estado, vinte e duas das quais ocupadas por doze seculares. A Comissão propõe que as religiosas do Convento do Salvador se juntem à comunidade de Santa Joana.
1833-09-03 Na lista de poços da cidade de Lisboa mandados examinar pela Conta do Administrador da Real Fábrica das Sedas e Obras das Águas Livres constam dois poços de água potável na cerca do Convento de Santa Joana, um quase seco e o outro com 4 palmos de água.
1834-05-30 É decretada a extinção de todas as casas religiosas masculinas das Ordens regulares e a nacionalização dos seus bens. As comunidades femininas mantêm-se mas ficam impedidas de emitir votos.
1856-05-07 Transferência da Instituição e Fábrica do Santo Sepulcro para a igreja do Convento de Santa Joana, originalmente fundada na capela de São Jacinto da igreja do Convento de São Domingos de Benfica (1662).
1861-04-04 Lei sancionando o decreto de cortes de 28 de Março de 1861, que estabelece os termos em que deve proceder-se à desamortização dos bens eclesiásticos. O artº 11º refere que "Todos os bens que, no termo d´esta lei, constituírem propriedade ou dotação de algum convento que for supprimido na conformidade dos canones, serão exclusivamente aplicados á manutenção de outros estabelecimentos de piedade ou instrucção e á sustentação do culto e clero". E que uma lei especial regulará esta aplicação.
1862-05-31 Decreto que regula a execução do artigo 11º da Lei de 4 de Abril de 1861. Inclui as instruções "sobre a administração e rendimento dos conventos de religiosas suprimidos".
1890 Encontrava-se instalado no convento o Arquivo da Fazenda Nacional.
1890-03-15 Após a morte da última freira o Convento de santa Joana é extinto. A Fazenda Nacional toma posse do edifício e dá-se início ao processo de desamortização. A cerca é arrendada por um privado, Frederico Augusto Davidson. Cedência de celas para alojamento de mulheres pobres e idosas.
1891-12-18 Ofício da 2.ª Repartição da Direcção-Geral dos Próprios Nacionais solicitando o envio do inventário ao Ministério das Obras Públicas a fim de se proceder com urgência ao estudo dos edifícios e terrenos, à sua avaliação em pequenos lotes e ao projecto das ruas necessárias, por forma a facilitar a venda dos terrenos. As áreas necessárias para os arruamentos seriam cedidas à Câmara Municipal com a obrigação da realização das respectivas canalizações e muros de suporte. "Desta forma apenas se conservaria a igreja, e a venda que conforme a avaliação actual era prejudicial, seria vantajosíssima pela divisão em pequenas parcelas acessíveis a todas as economias".
1896 Assinala-se o estado de avançada ruína da igreja, telhados, coros e casadas anexas, sendo necessárias obras de reparação. Procede-se à vistoria, que reconhece o perigo público da sua utilização, e à elaboração de orçamento para o efeito. A intervenção pelo Ministério das Obras Públicas é também solicitada em carta da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e do Senhor Jesus da Santa Via-Sacra ao Ministro das Obras Públicas. Um parecer da Direcção dos Serviços das Obras Públicas sobre o restauro do tecto da igreja nota a urgência de se dar utilidade ao edifício, desaconselhando as dispendiosas obras de conservação por a igreja "não ter merecimento algum artístico", "não celebrar nenhum facto histórico" e "em nada poder concorrer para o engrandecimento e brilho da religião".
1897 Obras de desobstrução e restauro da mina de água existente na cerca do convento.
1897 Instalação da Comissão dos Monumentos Nacionais na ala poente do convento, junto à Travessa do Enviado de Inglaterra.
1898 Processo relativo à concessão feita à Misericórdia de Lisboa de uma barraca existente no pátio do Convento de Santa Joana.
1899 Realização de levantamentos da planta do Convento de Santa Joana pelo Ministério das Obras Públicas. Neste ano, inicia-se, também, o processo de obras para instalação da Comissão de Monumentos Nacionais e Museu Etnológico numa área do convento de Santa Joana.
1902 São depositados na cerca os entulhos provenientes das obras de abertura da projectada Avenida da Índia .
1904 | 1905 Demolição de construções, na área da cerca junto à Travessa do Enviado de Inglaterra cedida à Câmara Municipal de Lisboa por decreto de 1895-7-27, para aterro e prolongamento da Rua Camilo Castelo Branco.
1905 Estava em construção o barracão no pátio, frente à fachada da igreja, pertencente à firma Alberto Neves e Simplício.
1905 Alfredo Keil propõe que o Convento de Santa Joana fosse agregado ao museu nacional, ficando como uma dependência, onde se recolheria dos conventos e igrejas em processo de demolição ou arruinados.
1906-02-20 Ofício do engenheiro director geral, chefe da 3.ª Repartição do Ministério das Obras Públicas, Frederico Ressano Garcia, com o ponto de situação sobre a construção das ruas projectadas na parte da cerca do Convento de Santa Joana.
1907 Instalação de um posto de vacinação na cerca.
1908-04-12 Loteamento dos terrenos da cerca e dependências do convento para arrendamento ou venda.
1909 Início de construção de um prédio na área da cerca, por Joaquim Rodrigues Simões. Neste ano, uma descrição de Gabriel Pereira dá nota do estado de conservação do edifício.
1914 A Associação dos Condutores de Obras Públicas e Minas tinha a sua biblioteca instalada numa divisão do convento.
1916-10-31 Ofício do Chefe da 3.ª Repartição da Direcção-Geral da Fazenda Pública dando conhecimento do estado de conservação da igreja do Convento de Santa Joana.
1917-06-04 Leilão de bens da igreja e do convento.
1918 Processos de cedência de dependências do convento para sede da Obra de Assistência 5 de Dezembro e das casas do convento ocupadas pela polícia cívica, ali instaladas desde 1913, para o arquivo do extinto Corpo de Marinheiros da Armada.
1918-02-22 Decreto nº 4391 e Portaria determinam a afectação da igreja conventual ao culto, autorizando a instalação da paróquia do Santíssimo Coração de Jesus e da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. São-lhes entregues bens do culto.
1919 Processo relativo à instalação da Sociedade de Instrução Militar numas dependências da ala esquerda do convento (1º e 2º andares).
1924-10-01 Decreto do Ministério das Finanças, Direcção Geral de Fazenda Pública nº 10146 de desafectação da igreja ao culto, destinando-a ao alargamento do Arquivo do Ministério das Finanças, e cedência da Casa do Despacho à Junta de Freguesia de Camões.
1933 Instalação do arquivo e vestiário do pessoal da Inspecção Geral do Tabaco no corredor do 2º piso do convento, onde também já estava o Arquivo da Fazenda Pública.
1935-10-04 A PSP promovia obras no edifício das traseiras do convento, que envolveram a construção de uma passagem de acesso pela Rua Camilo Castelo Branco - uma escadaria em cimento armado e terraços destinada a facilitar o abastecimento da cantina a instalar numa sala deste edifício.
1949-06-16 Inauguração das novas instalações da Secção de Trânsito da PSP.
1971 Encontrava-se instalada na Rua de Santa Marta n.º 61D a Parada da Divisão de Trânsito e o serviço de transmissões da PSP, além do Dispensário da Misericórdia de Lisboa. O edifício, entregue à Misericórdia de Lisboa, encontrava-se em mau estado de conservação, pelo que a CML solicita que se proceda a obras em ofício 1973-04-05.
2014 Encontra-se instalado no convento uma esquadra da Polícia e uma oficina de carpintaria. A igreja serve de instalações a uma oficina de mecânica.
2014-09-24 Assinatura do contrato-promessa de venda do imóvel à Sociedade Residence Convento de Santa Joana pelo valor de 11,2 milhões de euros. Este consórcio é composto pelo Grupo Hoti, a Lúcios Construções e a AM48.
2014-11-01 Segundo informações dadas ao expresso por Manuel Proença, presidente do Grupo Hoti, o projecto para o antigo Convento de Santa Joana inclui obras de requalificação e de demolição e incluirá 40 apartamentos na frente para a Rua de Santa Marta e um hotel de luxo com 160 quartos, a construir do lado da Rua camilo Castelo Branco, num investimento de 30 milhões de euros. O início das obras está previsto para 2015.

Fontes e Bibliografia


Material gráfico

GAMEIRO, Alfredo - Igreja de Santa Joana. Museu de Lisboa [1903].

Cartografia

CARVALHO, José Monteiro de; - [Livro das plantas das freguesias de Lisboa]. Códices e documentos de proveniência desconhecida, nº 153, Planta da nova freguezia de S. Joanna, f. 22 (imagem 0058).

[Construção da Rua Camilo Castelo Branco]. 3 folhas. PT-AMLSB-CMLSB-UROB-PU-09-02313, Folha 3.

[Enquadramento urbano | Convento de Santa Joana, 1834].

[Enquadramento urbano | Convento de Santa Joana, 2015].

FOLQUE, Filipe; - [Carta Topográfica de Lisboa e seus arredores, 1856/1858]. 1:1000. 65 plantas; 92 X 62,5cm, Planta 19 (Setembro 1857).

PINTO, Júlio António Vieira da Silva; - [Levantamento da planta de Lisboa, 1904/1911]. 1: 1000. 249 plantas; 80 X 50cm, Planta 10I (Junho 1910).

[Planta do parque e ruas contíguas]. 1: 1000. 1 planta. PT-AMLSB-CMLSB-UROB-PU-09-01257.

[Planta do Rossio ao Campo Grande]. PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/09/00067.



REVEREND, Carlos Ignacio de; - [Planta geométrica do Bairro de Andaluz, 1756]. MC.DES.0983.

Manuscrito


Direcção de Edifícios Públicos e Fornecimento de Materiais, Maço 454. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Ministério das Obras Públicas.
[Planta Topografica da porção do terreno que jaz entre os extremos de Lisboa [...], 1757]. MC.DES.0981.
[Planta Topographica da Cidade de Lisboa, comprehendendo na sua extensão a beira mar da Ponte d´Alcantara até ao Convento das Comendadeiras de Santos [...], 3º quartel do século XVIII]. 1 Planta, 1520 X 680 mm. MC.GRA.0495.
[Consultas da Comissão Eclesiástica da Reforma]. [Manuscrito]1822-1823. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios Eclesiásticos e Justiça, Maço 268, n.º 4, Caixa 214.

Direcção de Edifícios Públicos e Fornecimento de Materiais, Maço 492. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Ministério das Obras Públicas.

Inventário de extinção do Convento de Santa Joana de Lisboa. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Convento de Santa Joana de Lisboa, Cx. 1975 a 1979.

Livro de Cordeamentos de 1700-1704. [Manuscrito]Arquivo Municipal de Lisboa, f. 306-307v.

Monografia

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FERREIRA, Sílvia - Acerca do carácter transitório da obra de talha: o caso exemplar dos mosteiros de monjas dominicanas de Lisboa. Monjas dominicanas. Presença, arte e património em Lisboa. Lisboa: Alêtheia Editores, 2008, pp. 157-186.

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Material Fotográfico


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Inventariantes


Cátia Teles e Marques - 2014-05-07
Última atualização - 2020-08-27


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 Data: 2024-04-19