Da cidade sacra à cidade laica. A extinção das ordens religiosas e as dinâmicas de transformação urbana na Lisboa do século XIX

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Designação
Convento de São Cornélio

Código
LxConv101

Outras designações
Convento de São Cornélio dos Olivais; Hospício de São Cornélio

Morada actual
Avenida de Pádua, atrás do 14

Caracterização geral


Ordem religiosa
Ordem dos Frades Menores. Província de Santa Maria da Arrábida

Género
Masculino

Fundador
João Borges de Morais | D. Maria da Silva - Cláusula testamentária

Data de fundação
1664-09-29

Tipologia arquitetónica
Arquitetura religiosa\Monástico-conventual

Componentes da Casa Religiosa - 1834
Convento
Igreja
Cerca de recreio e produção

Caracterização actual


Situação
Convento - Demolido(a)
Igreja - Demolido(a)
Cerca - Urbanizada

Descrição


Inventário de extinção
ANTT, Ministério das Finanças, Convento de São Cornélio dos Olivais, Cx. 2240.

À semelhança da maioria dos conventos masculinos, é de pequena dimensão (cerca de 100 fólios) o inventário de extinção do Convento de S. Cornelio dos Religiosos Reformados d'Arrabida nos Olivaes Termo de Lisboa [que, por via da transcrição de um documento de 1824, é possível saber que foi fundado para convalescença e curativo dos seus Religiosos por João Borges de Moraes (f. 0093)].

A portaria régia de 10 de dezembro de 1833 (transcrita nos fólios 0037 e 0038) nomeia o padre Felix Joaquim da Silva Ribeiro para coordenar as diligências relativas à supressão do convento e à elaboração do respetivo inventário.

A 4 de janeiro de 1834 residiam no convento quatro sacerdotes e pregadores (Joaquim de Nossa Senhora das Neves, Manoel da Encarnação, Thomé do Coração de Jesus e Manoel da Estrella) e de um converso (Joaquim da Purificação) - f. 0009.

A 14 de janeiro são inquiridas três testemunhas [Antonio José Ribeiro (lavrador, morador na Quinta da Fonte) e José dos Santos e José António Carvalho (ambos com lojas de mercearia e moradores na freguesia dos Olivais)]acerca da pertinência da manutenção do funcionamento do convento que são unânimes na necessidade para o Povo da missa na Igreja e que nenhum outro bem espiritual conhecia[m] na conservação do convento (f. 0041-0043).

A portaria régia de 7 de março ordena ao Doutor Henrique Xavier Baeta que va escolher e marcar na cerca do Convento de São Cornelio aos Olivaes o terreno que lhe parecer adequado para Cemiterio d'aquella Freguezia, designando as obras necessarias para segurança e decencia do logar. O restante do terreno da dita cerca poderá por ora ser deixado para uso do dito parocho (f. 0079). A 24 de março seguinte é assinado o termo de entrega da restante cerca (f. 0083).

Nova portaria de 11 de março ordena ao Desembargador Vigário Geral do Patriarcado que nomeie Juiz para continuar as diligências que havia começado o Padre Felix Joaquim da Silva Ribeiro para a Suppressão do Convento (f. 0045), sendo para esse efeito, no próprio dia, escolhido Francisco de Paula Guerra (f. 0046).

A 20 de março são assinados os autos de inventário dos bens do convento pelo referido juiz supressor, pelo guardião do convento (Frei Joaquim de Nossa Senhora das Neves) e pelo escrivão José da Silva Mendes (f. 0058-0059). A elaboração deste inventário decorreu entre 20 e 21 de março: objetos do Culto Religioso [Imagens (f. 0060-0061), Prata (f. 0061-0062), Paramentos (f. 0062-0064), Armação (f. 0065-0066), Roupa de Sacristia (f.0066-0067), Utencílios da Igreja e Côro (f. 0067-0068) e Sinos (f. 0068)] da livraria (f. 0068-0069), dos objectos de commum, e cozinha, e Adêga (com indicação de terem sido vendidos por Portaria de 10 de Março- f. 0069-0071), propriedades (A casa do convento com suas officinas, e com sua cerca, que consta de doze oliveiras, algumas arvores fructiferas, e hórta com poço e nóra - f. 0071) e dívidas passivas (f.0 071-0072). A 21 de março são assinados os termos de encerramento e de entrega (f. 0072-0073).

Um conjunto de peças de prata (cuja relação consta do fólio 0075) ficam [en]carregadas ao Ilmo Snr. João Bernardo da Costa Sermenho, Deputado e Thesoureiro da Junta do Exame do estado actual e melhoramento temporal das Ordens Regulares.

Por portaria régia de 3 de abril seguinte é ordenada a entrega ao Parocho da respectiva Freguezia, a Casa do Convento e cerca do dito Convento; assim como todos os paramentos para culto da mesma Freguesia de que mandará fazer o termo competente com declaração de todos os objectos que são entregues juntando-se este depois ao inventario (f. 0085). No dia seguinte é assinado o termo de entrega da igreja, Tabernaculo, Imagens descriptas [no inventário], d'um calice de prata, liso, com sua paterna e colherinha, assim mais de todos os paramentos e utencilios descriptos [no inventário], e do Convento com todas as suas officinas (f. 0089-0090).

Autos de posse e avaliação do edifício e da cerca. A 20 de abril de 1836 são assinados os autos de posse e avaliação do edifício e cerca, encontrando-se presentes o delegado do provedor do distrito (António Dias de Sousa), o escrivão (António José Militão Baptista) e quatro louvados [Francisco da Silva Serra (mestre carpinteiro), António Joaquim Carreira (mestre pedreiro) e Agostinho José de Oliveira e Felis Francisco (fazendeiros)]. Estes últimos declaram que tendo visto e examinado hum Hospicio com todos os seus pertences estando em grande parte arruinado à excepção da Igreja lhes davão de renda trinta mil reis, e à Cerca que se compõe de chão para horta, com suas Parreiras, e alguns pilares de pedra, seo Poço com Engenho, e hum grande tanque, Caza de Abogaria, e Palheiro, e outro bocado de chão pela parte opposta do referido Palheiro sendo a Cerca toda murada em roda, e outro muro que faz a divizão do Cimiterio da freguesia dos Olivaes, contem a referida Cerca, Sessenta e nova varas de cinco palmos de comprido, e de largura, quarenta e cinto ditas, lhes davão de valor de renda, vinte quatro mil reis, e avaliavão toda esta propriedade pertecente à Fazenda Nacional o qual se acha bem confrontado e declarado no autto da posse d'esta, lhe davão o seu valor em suas consciencias, em novecentos, e cincoenta mil reis (f. 0029-0030).

Cronologia


1664-09-29 João Borges de Morais e sua mulher doam ao Provincial da Provícia de Santa Maria da Arrábida uma quinta nos Olivais para aí se erigir um hospício para religiosos arrábidos convalescentes.
1664-09-30 O síndico da Provincia de Santa Maria da Arrábida toma posse da propriedade, constituída por uma casa, ermida e pomar.
1666 Devido à exiguidade das acomodações, João Borges de Morais doa uma outra propriedade com casa, parreiral e poço, que manda murar para os religiosos ficarem em clausura.
1674 Fundação do Convento de São Cornélio.
1675 Inauguração do novo convento e igreja.
1718 O hospício é elevado a convento.
1833-08-21 A Secretaria dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça comunica ao Cardeal Patriarca que deve mandar providenciar a trasnsferência dos religiosos da Real Basílica de Mafra para outros conventos dos arredores de Lisboa e Setúbal, nomeadamente para o de São Cornélio.
1833-12-10 Portaria régia nomeando o padre Felix Joaquim da Silva Ribeiro como responsável pelas diligências relativas à supressão do Convento de São Cornélio. e elaboração do respetivo inventário.
1834-01-04 Residem no convento 4 sacerdotes e um converso.
1834-03-11 Francisco de Paula Guerra é nomeado pelo Vigário Geral do Patriarcado para substitui o Padre Felix Joaquim da Silva Ribeiro na condução das diligências realtivas à supressão do convento.
1834-03-20 | 1834-03-21 Realizam-se os autos de inventário dos bens do convento.
1834-03-24 Termo de entrega, ao pároco da freguesia dos Olivais, da parte da cerca conventual que não estava destinada a cemitério.
1834-03-24 Termo de entrega de uma parte da cerca ao pároco da freguesia dos Olivais.
1834-04-04 Termo da entrega do convento e da igreja ao pároco da freguesia dos Olivais.
1834-05-30 Decreto de extinção de todas as casas religiosas masculinas das ordens regulares e incorporação dos seus bens nos Próprios da Fazenda Nacional.
1834-08-19 Portaria do Tribunal do Tesouro Público sobre a venda e o arrendamento dos bens nacionais. Determina que o Perfeito da Província da Estremadura dê orientações para que se proceda à venda dos bens móveis e semi-móveis, excepto os objetos do culto divino, as peças de ouro e prata e as livrarias; e que arrende, por um ano, todos os prédios rústicos e urbanos da Fazenda Nacional.
1836-04-20 Autos de posse e avaliação do edifício conventual e da cerca. O edifício é avaliado em 30 mil rés (de renda) e a cerca em 900 mil réis.
1846-06-10 O edfício e cerca do antigo convento são arrematados em hasta pública por António Antão Barata Salgueiro pela quantia de 1:010$000.
1878-10-10 - O edifício e a propriedade são comprados por Manuel Matias, mestre da Saboaria de Valadares.
1906 Manuel Matias vende o edifício e a propriedade a Abel Correia Ribeiro.

Fontes e Bibliografia


Cartografia

[Enquadramento urbano | Convento de São Cornélio, 1834].

[Enquadramento urbano | Convento de São Cornélio, 2015].

Manuscrito

Arquivo Nacional da Torre do Tombo. ANTT, Ministério das Finanças, liv. 506, f. 283.

[Consultas da Comissão Eclesiástica da Reforma]. [Manuscrito]1822-1823. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios Eclesiásticos e Justiça, Maço 268, n.º 4, Caixa 214, Doc. 13.

Inventário de extinção do Convento de São Cornélio dos Olivais. [Manuscrito]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Convento de São Cornélio dos Olivais, Cx. 2240.

Inventário de extinção do Hospício de Nossa Senhora do Desterro de Lisboa. [Manuscrito]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Hospício de Nossa Senhora do Desterro de Lisboa, Cx. 2225, f. 0174-0176.

Monografia

BRANCO, Manuel Bernardes - Historia das Ordens Monasticas em Portugal, volume III. Lisboa: Livraria de Tavares, Cardoso & Irmão, 1888, pp. 349-355.

CONCEYÇÃO, Fr. Apollinario da - Claustro Franciscano, Erecto no Dominio da Coroa Portuguesa e estabelecido sobre dezeseis venerabilissimas columnas. Expoem-se sua origem, e estado presente. Lisboa Occidental: Na Offic. de Antonio Isidoro da Fonseca, 1740, p. 64.

DELGADO, Ralph - A Antiga Freguesia dos Olivais. Lisboa. 1969, pp. 52-55.

GOMES, Jesué Pinharanda - Arrábidos. Dicionário Histórico das ordens, institutos religiosos e outras formas de vida consagrada católica em Portugal. Lisboa: Gradiva, 2010, pp. 52-59.

MARIA, Fr. Joseph de Jesus - Espelho de Penitentes, Chronica da Provincia de Santa Maria da Arrabida [...], [Tomo Segundo]. Lisboa: Na Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1737, pp.506-514.

PORTUGAL, Fernando; MATOS, Alfredo de - Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa, 1974, p. 293.

Periódico

Chronica Constitucional de Lisboa, nº 27. Lisboa: Imprensa Nacional, [26 de Agosto de 1833], pp. 139-140.

Material Fotográfico


Convento de São Cornélio | Levantamento da planta de Lisboa, 1904-1911.

Convento de São Cornélio | Exterior | Zona da antiga capela. A80108.
© CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa

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Inventariantes


Rita Mégre
Tiago Borges Lourenço (Inventário de extinção)
Última atualização - 2019-11-19


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Câmara Municipal de Lisboa
 Data: 2024-04-18