Da cidade sacra à cidade laica. A extinção das ordens religiosas e as dinâmicas de transformação urbana na Lisboa do século XIX

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Designação
Recolhimento de Santa Isabel da Hungria

Código
LxConv105

Outras designações
Oratório de Santa Isabel de Hungria

Sumário
O Recolhimento de Santa Isabel de Hungria foi fundado por Isabel de Jesus em data anterior a 1578, em sua casa, na Rua das Madres (ao antigo bairro do Mocambo) num edifício que até à sua morte, em 1612, não terá sofrido alterações. Por testamento da fundadora, a posse do recolhimento passou para os Padres Terceiros dos Cardais com a condição de que nele habitassem mulheres da referida ordem. Prosseguiu activo pelo menos até ao início da segunda metade do século XVII, existindo notícia de ter tido como regente Joana da Cruz e Maria da Cruz, a última a partir de 1656/1657. Em 1668, depois de um degredo de cinco anos no Brasil, Maria da Cruz regressa com esmolas para a concretização das obras iniciadas antes da sua condenação.

Caracterização geral


Ordem religiosa
Ordem dos Frades Menores. Província da Ordem Terceira Regular

Género
Feminino

Fundador
Isabel de Jesus

Data de fundação
Anterior a 1578

Tipologia arquitetónica
Arquitetura religiosa\Monástico-conventual

Descrição


Enquadramento histórico
O Recolhimento de Santa Isabel de Hungria foi fundado na Rua das Madres (que, tal como a Travessa das Isabéis, terá por esse motivo ganho tal topónimo), ao antigo bairro do Mocambo (actual Madragoa) por Isabel de Jesus, natural de Viana de Caminha e "casada com hum mareante da carreira da India (para onde elle navegava) [que] fez com superior moção, voto de continência condicional, & no mesmo tempo o marido (quasi soçobrada de huma improvisa tempestade a nao em que ia) se obrigou ao mesmo" (CARDOSO, 1657, p. 40). Professando a Terceira regra da Penitencia de São Francisco, Isabel de Jesus funda em sua casa, em data anterior a 1578 ("em tempo da Rainha D. Catharina", IDEM, p. 49), um recolhimento que até à sua morte, em 1612 com setenta anos, não terá sofrido alterações, visto nunca ter consentido que "seu humilde, & limitado aposento se reedificasse, estendesse, ou ampliasse, vivendo com generoso coração atè morte no mesmo aperto" (IDEM, p. 41).

Por testamento da fundadora, o recolhimento ficou "aos Padres Terceiros dos Cardaes, para que nelle habitassem sempre mulheres da ditta Ordem, debaixo da obediência dos seus Prelados" (IDEM, p. 48). Prosseguiu activo pelo menos até ao início da segunda metade do século XVII, existindo notícia de ter tido como regente Joana da Cruz (provavelmente no final da primeira metade de seiscentos - ANTT, Processo de Joana da Cruz) e de Maria da Cruz. Esta última fundou, provavelmente em 1651 e a curta distância, um recolhimento para mulheres penitentes dedicado a Santa Madalena, que se constituiria em 1654 como a génese do Convento de Nossa Senhora da Nazaré (ou das Bernardas), cuja clausura se fecha a 6 de Janeiro seguinte. Menos de dois anos depois de nele ter dado entrada como noviça, Maria da Cruz deixa o convento tornando-se regente do Recolhimento de Santa Isabel de Hungria. Em 1659 é-lhe aberto um processo pela Inquisição por acusação de "fingimento de visões", sendo condenada em Outubro do ano seguinte a um degredo de cinco anos no Brasil (chegando a Pernambuco em Setembro de 1661), impossibilidade de regresso a Lisboa e açoitamento público. Cumprida a pena (a 20 de Agosto de 1667), chega no ano seguinte a Lisboa, pedindo autorização ao Santo Ofício para permanecer na cidade "com intento de acabar de aperfeiçoar o d.to Recolhim.to [de Santa Isabel de Hungria] pª q trouxe do Brazil algumas esmolas q lá lhe deram os fieis pª as obras da d.ta caza, q está empenhada e individada, e com demanda q actualm.te corre com o pedreiro sobre o ajustam.to das obras e pagam.to dellas por ficar tudo embaraçado e imperfeito com sua prizão" (ANTT, Processo de Maria da Cruz, f. 457). Por essa data estaria o recolhimento "feito estalagé com venda pública de couzas q nelle se vendiao, tendo alugado o pedreiro a quem quer q queria morar nelle pª pagam.to das obras q tinha feito" (IDEM).

Cronologia


Anterior a 1578 Fundação do Recolhimento de Santa Isabel da Hungria.
1612 Morte de Isabel de Jesus, fundadora do recolhimento. Por testamento, a sua posse passa para os Padres Terceiros dos Cardais.
1659-08-20 Abertura de um auto de fé a Maria da Cruz, regente do recolhimento.
1660-10-17 Condenação de Maria da Cruz a um degredo de cinco anos no Brasil e proibição de retorno a Lisboa.
1661 Chegada de Maria da Cruz ao Brasil.
1668 Maria da Cruz regressa a Lisboa, pedindo autorização para permanecer na cidade por via a acabar as obras do edifício, iniciadas ainda antes do seu degredo. Por essa altura o edifício estaria feito "estalagé [...] tendo alugado o pedreiro a quem quer que qu[isesse] morar nele".

Fontes e Bibliografia


Cartografia

[Planta da Cidade de Lisboa na margem do rio Tejo: desde o Bairro Alto até Santo Amaro].

Manuscrito

Processo de Joana da Cruz. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 557.

Processo de Maria da Cruz. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 4372.

Monografia

CARDOSO, George - Agiologio lusitano dos sanctos, e varoens illustres em virtude do Reino de Portugal, e suas Conquistas [...]. Lisboa: Na Officina de Henrique Valente d´Oliveira, tomo II, 1657.

COSTA, Padre António Carvalho da - Corografia Portugueza e Descripçam Topográfica do Famoso Reyno de Portugal [...]. Lisboa: Na Officina Real Deslandesiana, tomo terceyro, 1712.

Periódico

Espaço Pedagógico: Revista da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UPF. Volume 19, Passo Fundo: Universidade do Passo Fundo, [2013].

PIERONI, Geraldo - No Purgatório mas o olhar no Paraíso: o degredo inquisitorial para o Brasil-Colônia in Textos de História. Revista do Programa de Pós-graduação em História. Brasília: Universidade de Brasília. Volume 6, nº 1-2, 1998.

Material Fotográfico


Recolhimento de Santa Isabel da Hungria | Planta da Cidade de Lisboa na margem do rio Tejo... (1598).


Inventariantes


Tiago Borges Lourenço - 2015-01-13


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Câmara Municipal de Lisboa
 Data: 2024-04-19