DesignaçãoQuinta dos Padres da Congregação do Oratório de São Filipe NeryCódigoLxConv010Outras designaçõesConvento de São Filipe Nery; Convento do Vale PereiroSumárioPor via a corrigir algumas imprecisões existentes em fontes que apresentam o presente caso como sendo um convento, tomou-se a opção de criar um registo de inventário alusivo à Quinta dos Padres da Congregação do Oratório de São Filipe Nery, ainda que esta não se insira no contexto do Projecto Lx Conventos.
Localizada ao Vale do Pereiro, foi uma quinta de recreio pertencente, pelo menos desde os primeiros anos de setecentos, aos padres da Congregação do Oratório de São Filipe Nery. Desempenhou um importante papel ao ter acolhido temporariamente a maioria dos religiosos dos conventos de Lisboa da ordem, arruinados no pós-terramoto de 1755; e principalmente devido ao facto de os diversos aforamentos feitos pelos padres oratorianos terem concorrido para o desenvolvimento urbano da área no decorrer da segunda metade do século XVIII. Vendida pelos padres oratorianos em 1775, manteve-se em mãos privadas durante quase século e meio, tendo sido expropriada pela Câmara Municipal de Lisboa em 1914, no âmbito do "projecto da 1ª zona da Picôas". Integralmente demolida a casa nos anos subsequentes, no seu local foram rasgadas as ruas Castilho e Rodrigo da Fonseca.Ordem religiosaGéneroMasculinoSituaçãoEdifício - Demolido(a) Cerca - Urbanizada
Enquadramento históricoPelo menos desde o início do século XVIII, os padres da Congregação do Oratório de São Filipe Nery possuiam uma quinta, ao Vale do Pereiro, surgindo já referenciada em e 1712 (COSTA, III, 1712, pp. 429-430) e em 1715 (OLIVEIRA, XI, 1901, p. 117). Depois de um processo relativamente moroso, os oratorianos tomaram igualmente posse de uma quinta confinante, conhecida como a "Quinta de D. Elena" [Maria de Melo], viúva de Rodrigo do Aro Farinha, fidalgo da casa real: "D. Rodrigo e sua mulher, tinham sôbre essas casas e essa quinta, pedido emprestado aos Congregados do Oratório nove mil cruzados a juro, dinheiro êste que pertencia a duas capelas instituidas pelos padres António da Cunha e Cláudio Caulet. Ora, sucedeu que o fidalgo duvidou do pagamento dêsses juros; estes atrasaram-se, as contas complicaram-se e os Oratorianos moveram-lhe uma execução que D. Elena, já então falecido seu marido, contestou, fundada na razão de que aqueles bens faziam parte do seu dote. Houve larga demanda, acabando a fidalga por convir no pagamento, em vista do que solicitou autorização régia para vender a propriedade a fim de satisfazer a dívida. Como, porêm, os Congregados não aceitassem esta solução, fez D. Elena uma escritura em que declarava ceder, por sua morte, aos seus credores, todas as acções e direitos à citade propriedade, sem pagamento do capital nem dos juros vencidos." (SEQUEIRA, III, 1922, p. 436). Morrendo em fevereiro de 1755, os padres oratorianos tomam de seguida posse da sua casa e propriedade "que se achava inculta e bravia" (Idem). Pouco depois decidiram aforar esta propriedade, abrindo, como determinado pelo Decreto de 25 de agosto de 1755, uma rua pública para serventia dos moradores (Rua de São Filipe Nery), na qual em 1767 o Desembargador Romão José da Rosa Guião e Abreu construiria aí o seu Palácio Guiões.
É, de resto, na antiga Quinta de D. Elena que tantos os padres oratorianos da Casa do Espírito Santo (LxConv079) e do Convento de Nossa Senhora das Necessidades (LxConv043), como os religiosos do Convento de São Francisco da Cidade (LxConv030) se acolhem após o Terramoto de 1755 arruinar significativamente os respetivos conventos. Não foram os únicos. Matos Sequeira refere a multiplicação de "barracas e telheiros. Os habitantes da cidade baixa espalharam-se por aquelas cercanias em abrigos improvizados e mais descampados. Dessa invasão por toda a quinta e circunvizinhanças nasceram novas sinonimias locais que vieram, a maioria delas, a formar os actuais arruamentos" (Idem, p. 440).
Em 1775, os oratorianos "cujas terras de pão e vinha se estendiam até à Quinta da Torrinha [...] venderam o casarão e terrenos, ao desembargador Bartolomeu Cardoso Geraldes Tavares [...] [cujos] descendentes [...] foram os Marqueses da Graciosa e dêstes a propriedade passou para a Condessa da Foz de Arouce, filha de um Geraldes" (ARAÚJO, XI, 1993, p. 97). Em 1869, o palácio foi habitado pelo Marechal Duque de Saldanha, pelo que o edifício passou também a ser conhecido como o Pátio do Saldanha.
No âmbito do "projecto da 1ª zona da Picôas", no qual constituía a parcela nº 18, o edifício e restante propriedade (à época em posse de Maria Joanna e Bourbon Mello Geraldes, herdeira do marquês da Graciosa) é expropriada por utilidade pública pela Câmara Municipal de Lisboa, em sessão de 3 de abril de 1914 (ver descrição - evolução urbana). O edifício foi integralmente demolido nos anos subsequentes e no local da quinta foram rasgadas as ruas Castilho e Rodrigo da Fonseca, efetivando-se as novas construções no decorrer da década de 1930. Norberto de Araújo refere que em 1939 sobravam ainda as bases das chaminés cónicas do edifício (ARAÚJO, XI, 1993, p. 97).
Atualmente não sobre qualquer vestígio do edifício.
Evolução urbanaA área em redor da implantação da quinta teve dois momentos de importante evolução urbana, uma na segunda metade do século XVIII (por responsabilidade dos padres oratorianos) e outra no início do século XX.
A quinta implantava-se originalmente na vertente poente do Vale do Pereiro, a nordeste da Mãe de Água (depósito do Aqueduto das Águas Livres) e do Convento de Nossa Senhora dos Remédios de Campolide (LxConv056), ao Rato. Não obstante não se encontrar excessivamente afastada do núcleo da Lisboa (e relativamente próxima do eixo Portas de Santo Antão/Rua Direita de São José/Rua Direita de Santa Marta/Rua de São Sebastião da Pedreira, principal via de entrada e saída a norte de Lisboa), era ainda assim uma zona isolada, com parcas construções em seu redor. O seu acesso era providenciado por um caminho que partia da Estrada de Entre Muros de Campolide (atual Rua de Artilharia Um).
Pouco depois de tomarem posse da vizinha Quinta de D. Elena, os oratorianos decidiram aforar parte dos terrenos desta. De acordo com o Decreto de 25 de agosto de 1755, podê-lo-iam fazer desde que abrissem uma rua pública para serventia dos moradores. Assim nasce a Rua de São Filipe Nery, que serviria de continuação da mencionada Estrada de Entre Muros de Campolide, permitindo assim a ligação direta entre Campolide e o Rato. No entanto, não seria este aforamento o único responsável pelo desenvolvimento urbano da área décadas subsequentes, concorrendo igualmente para o efeito a proliferação de construções mais ou menos provisórias que se seguiram ao terramoto: barracas e telheiros [que se mantiveram até ao início de oitocentos]. Os habitantes da cidade baixa espalharam-se por aquelas cercanias em abrigos improvizados e mais descampados. Dessa invasão por toda a quinta e circunvizinhanças nasceram novas sinonimias locais que vieram, a maioria delas, a formar os actuais arruamentos. Assim se originaram o Sítio do Carmo, sob os arcos do aqueduto, em 1756 [...]; o Telheiro dos Pobres, às Águas Livres, em 1765; o sítio da Mãe de Água, em 1762; o das Águas Livres, em 1755; os sítios da Muralha, Sóbre a Muralha, e Por cima do Chafariz, em 1764; o das Barracas, em 1765; o corredor da Cova da Onça, em 1772; o Chafariz de Pau, em 1764; os Arciprestes, em 1762; o sítio de Entremuros, em 1761; a Abóbada de São Francisco, em 1794; a Fábrica da Louça, em 1768; e o Alto de São Francisco, em 1802 (SEQUEIRA, III, 1922, p. 440), segundo informação recolhida por Matos Sequeira nos Róis de Confessados da freguesia de Santa Isabel. Assim, e confrontando a diversa cartografia, percebe-se que no decorrer do meio século após o terramoto se desenvolveu um pequeno aglomerado populacional encravado entre a quinta oratoriana, os arcos do aqueduto / Mãe de Água e a Praça do Rato, cuja toponímia essencialmente se reportava às unidades fabris aí existentes: Travessa da Fábrica dos Pentes, Travessa da Fábrica das Sedas, Calçada da Fábrica das Louças (atual Calçada Bento da Rocha Cabral). O ponto central deste aglomerado era o Jardim das Amoreiras.
As diversas cartografias até 1911 (Filipe Folque, Francisco Goullard e Silva Pinto) permitem perceber que ao longo do século XIX poucas alterações urbanas ocorreram em toda a zona envolvente da quinta.
No entanto, nesta última data encontrava-se já em curso o desenvolvimento de um projeto que profundamente alteraria toda a zona: no âmbito do projecto da 1ª zona da Picôas, no qual constituía a parcela nº 18, o edifício e restante propriedade (à época em posse de Maria Joanna e Bourbon Mello Geraldes, herdeira do Marquês da Graciosa) é expropriado por utilidade pública pela Câmara Municipal de Lisboa, em sessão de 3 de abril de 1914. Segundo as medições constantes no projeto, dos mais de 13ha da quinta, 29.414,66m2 foram destinados para via pública, 57.075,42m2 para talhões e 45.625m2 para o futuro Parque Eduardo VII (AML, Planta da propriedade da Snrª Condessa de Fóz de Arouce...). Este projeto previa que o edifício fosse integralmente demolido e em seu lugar se construísse o quarteirão compreendido pelas ruas Joaquim António de Aguiar, Castilho e Rodrigo da Fonseca, todas elas se rasgando igualmente sobre o local da sua implantação. O restante terreno da quinta foi urbanizado, nele se tendo construído parcialmente os referidos arruamentos, bem como o Parque Eduardo VII e a Rotunda do Marquês de Pombal.
Atualmente não sobre qualquer vestígio de qualquer construção primitiva da quinta nem da sua implantação.
Caracterização arquitectónicaSão raras as descrições do edifício. Norberto de Araújo refere as suas chaminés cónicas [das quais refere existirem ainda os vestígios das suas base em 1939] [...], sua frontaria armoria da, sua capela de belo pórtico e seu agradável conjunto solarengo (ARAÚJO, XI, 1993, p. 97).
No entanto, a confrontação das fotografias do início do século XX com a diversa cartografia dos séculos XVIII, XIX e XX permite compreender uma estrutura apalaçada cuja fachada principal se aparentava com a do Palácio Pimenta, desenvolvendo-se em torno de um grande pátio e apresentando, como principais características, duas chaminés cónicas. Possuía igualmente uma capela, adossada à fachada principal e a esta perpendicular.
1712 Por esta data os padres da Congregação do Oratório já possuíam a sua Quinta, ao Vale do Pereiro. 1739-02-16 O padre prepósito da Congregação do Oratório envia uma petição ao Senado solicitando licença para construir dois muros, na estrada que vai do Vale do Pereiro para Campolide, de forma a fechar a sua propriedade, composta por quinta e olival. 1755-02 Por morte de D. Elena, a posse da respetiva propriedade passa para os padres oratorianos. 1755-11-01 A ruína provocada pelo terramoto nos Conventos oratorianos da Pedreira e das Necessidades bem como no Convento de S. Francisco da Cidade, obrigou que os respetivos religiosos se abrigassem na antiga Quinta da D. Elena, então já em posse dos padres oratorianos. 1775 Os religiosos oratorianos vendem a casa e quinta do Vale do Pereiro ao desembargador Bartolomeu Cardoso Geraldes Tavares, cujos descendentes foram os Marqueses da Graciosa e posteriormente a Condessa de Foz de Arouce. 1869 Vive no edifício o Marechal Duque de Saldanha. 1914 No âmbito do "projecto da 1ª zona da Picôas", no qual constituía a parcela nº 18, o edifício e restante propriedade (à época em posse de Maria Joanna e Bourbon Mello Geraldes, herdeira do Marquês da Graciosa) é expropriada por utilidade pública pela Câmara Municipal de Lisboa, em sessão de 3 de abril de 1914. 1914 | 1936 Demolição do edifício. 1939 Existiam ainda vestígios das bases do edifício.
CartografiaManuscritoMonografia | Convento de São Filipe Nery | Exterior | Pátio do Geraldes. N17869. © Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Convento de São Filipe Nery | Exterior | Pátio do Geraldes. BAR000181. © Arquivo Municipal de Lisboa. |
Tiago Borges Lourenço - 2016-02-17 Hélia Silva
| Imagens: 2
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