DesignaçãoNoviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz em ArroiosCódigoLxConv075Outras designaçõesNoviciado das Missões da Índia; Casa do Noviciado para as Missões da Índia; Noviciado de Nossa Senhora da Nazaré; Noviciado de Arroios; Colégio de Arroios; Colégio de Nossa Senhora da Nazaré; Seminário das Missões; Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz de Arroios; Convento de Nossa Senhora da Conceição; Convento das Religiosas de Arroios; Convento de ArroiosMorada actualRua Quirino da Fonseca, 2-2CSumárioO Noviciado das Missões da Índia pertencia à Companhia de Jesus. Destinado a formar missionários para a evangelização no Oriente, resultou duma vontade do clérigo João Serrão que, em 1697, deixou em testamento bens destinados à fundação, em Frielas, de um edifício para esse fim. Por imposição régia foi escolhida uma localização mais perto de Lisboa, numa quinta em Arroios, junto à Estrada de Sacavém. Como o valor da doação era insuficiente para levar a cabo a construção, foi necessário recorrer ao patrocínio de D. Catarina de Bragança que determinou que o noviciado tivesse como invocação São Francisco Xavier. Para satisfazer o desejo de João Serrão, atribuiu-se o orago de Nossa Senhora de Nazaré à igreja.
Com planta traçada pelo arquiteto João Antunes, a construção do edifício tem início em 1705 mas as obras prolongam-se até 1735, ano em que entram os primeiros noviços e é inaugurada a igreja. Os Jesuítas são expulsos em 1759 e em 1765 o edifício é doado por D. José às freiras da Ordem da Imaculada Conceição. O noviciado passa então a denominar-se Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz em Arroios.
Em 1890, logo após a extinção do convento, o edifício foi requisitado pelo governo para nele se instalar um hospital para coléricos. Entre 1916 e 1917 a Câmara adquiriu ao Estado 10.615 m2 da cerca do hospital para fazer o 2º troço da Avenida Almirante Reis (entre a Estrada da Circunvalação e a Alameda) e construir a rotunda da futura Praça do Chile.
O Hospital de Arroios foi desativado em 1992 e o edifício mantém-se devoluto desde entãoOrdem religiosaGéneroMasculino - Até 1758. Feminino - A partir de 1766.FundadorPadre João Serrão - Cláusula testamentária D. Catarina de Bragança - Iniciativa régiaData de fundação1698-10-24Data de construção1705-10-01Data de extinção1890-06-10AutoriaJoão Antunes - Arquitecto, Contrato, Autoria da forma da planta do noviciado e segundo avaliador das obras de carpintaria. Bartolomeu Antunes - Ladrilhador, Atribuição, Santos Simões atribui-lhe os azulejos da portaria (VELOSO e ALMAQUÉ, 2016, p. 80).Tipologia arquitetónicaArquitetura religiosa\ColegialComponentes da Casa Religiosa - 1834Convento Pátio Igreja Cerca de recreio e produçãoTipologia de usoInicial - Religioso Intermédia - Civil\Equipamento Atual - Sem usoSituaçãoConvento - Existente Igreja - Existente Cerca - Urbanizada
OcupaçãoConvento - Devoluto(a) Igreja - Ocupado(a)
AcessoEdifício - Privado\Condicionado Igreja - Privado\Condicionado
Disposições legaisMonumento de Interesse Público; Portaria 740-M/2012; 24-12-2012
Enquadramento históricoA história deste edifício está diretamente ligada ao legado do padre João Serrão, Vigário Geral do Arcebispado da cidade de Lisboa, que em testamento lavrado a 2 de Dezembro de 1696 deixa bens para se construir um colégio destinado à formação de missionários para as províncias jesuítas do Oriente, junto à ermida da sua quinta de recreio, em Frielas. Institui como invocação a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, que se encontrava na ermida, e nomeia os padres da Companhia de Jesus como seus testamenteiros perpétuos.
O Procurador-Geral das Províncias da Índia, padre Francisco Sarmento, pede então a D. Pedro II autorização para a fundação do noviciado mas o rei questiona o local determinado por João Serrão, por ser afastado de Lisboa. É por isso necessário solicitar ao Papa que comute a vontade do instituidor sobre o sítio e lugar de fundação, o que vem a acontecer em 1698.
Escolhida a nova localização - numa quinta em Arroios, comprada ao almotacé-mor -, verifica-se que a doação é insuficiente para a concretização do desejado edifício, pelo que foi necessário recorrer ao patrocínio da Rainha D. Catarina de Bragança, grande devota a São Francisco Xavier. Assim, a rainha toma à sua conta a fundação do noviciado, para a qual doa a quantia de 20.660 réis e também uma "esmola" anual de vinte moedas de 48$0 atribuída durante 7 anos ao Padre Francisco Sarmento (FLOR, 2014).
Nos termos de instituição do noviciado fica disposto que haja um padre reitor e que "fosse mestre de noviços", um padre "que fosse companheyro do Reytor e o ajudasse na boa creaçam dos noviços", um padre "que fizesse o officio de Ministro", outro "que fosse Procurador da Casa" e ainda mais dois "Irmãos Coadjutores temporaes, que tivessem a seo cuydado os officios necessarios como ser sachristam, porteyro, roupeyro e despenseyro". Só podem ser admitidos doze noviços - três para cada Província - que são sustentados pelas rendas deixadas por João Serrão e pela Rainha (História dos Mosteiros..., II, 1972, pp. 218-219).
A construção do edifício começa a 1 de Outubro de 1705, segundo planta da autoria do arquitecto João Antunes (FLOR, 2014) mas a obra, supervisionada pelos padres da Companhia, prolonga-se até 1735, ano em que entram os primeiros noviços e se inaugura a igreja. De modo a satisfazer os desejos dos dois patrocinadores, é atribuído o orago de Nossa Senhora da Nazaré à igreja e o de São Francisco Xavier ao noviciado. A instituição funciona pouco mais de 20 anos, pois os religiosos jesuítas são expulsos do noviciado e presos em Fevereiro de 1759.
Algum tempo depois, em 1766, o edifício é ocupado pelas religiosas da Ordem da Imaculada Conceição, cujo convento, em Carnide, ficara muito danificado pelo Terramoto de 1755, e passa a designar-se Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz em Arroios.
Em 1807, na altura da primeira invasão francesa, as freiras Concepcionistas começam a fazer distribuição diária de sopa à população carenciada, dando origem ao termo "sopa de Arroios".
Em Outubro de 1859, quando é feito o primeiro inventário dos bens do convento, estão registadas 25 religiosas - 13 professas e 12 noviças (ANTT, Inventário de extinção do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz a Arroios em Lisboa, f. 0003). A extinção do convento ocorre a 10 de Junho de 1890, quando morre a última religiosa professa - madre Maria de São José. Para além de algumas noviças, à época encontravam-se a viver provisoriamente no convento as religiosas da Congregação das Irmãs Hospitaleiras da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, cuja residência habitual - o Convento de Nossa Senhora da Soledade (LxConv063) - estava em obras (ANTT, Idem, f. 0743).
Cerca de um mês depois, na sequência de um pedido do Ministro dos Negócios do Reino ao seu colega da Fazenda para que não seja permitida nenhuma ocupação provisória do edifício (ANTT, Idem, f. 0932), este é dado como"indispensável aos serviços sanitários da Capital, na presente conjunctura em que o Governo lucta com grandes difficuldades para arranjar casa para aquelles serviços" (ANTT, Idem, f. 0930). Com base nesta informação, os dois ministros dão ordem para "que se proceda quanto antes à organização de um hospital para coléricos no edifício [...] por não haver outro que melhor se preste a esse fim" (ANTT, Idem, f. 0922). Assim, depois de providenciada a transferência das Irmãs Hospitaleiras para o Convento de Santa Joana (ANTT, Idem, f. 0922-0923), o edifício é entregue provisoriamente ao Governador Civil de Lisboa, a 6 de Outubro de 1890 (ANTT, Idem, f. 0369).
Os bens do convento, depois de inventariados e avaliados, são vendidos ou distribuídos por vários serviços públicos, e o edifício (com a cerca) é anexado ao Hospital Real de São José, passando a designar-se Hospital de Arroios.
Destinado inicialmente ao tratamento de doenças infecto-contagiosas como a cólera, a varíola e a peste bubónica, que assolavam a cidade na época, a partir de 1898 passa a concentrar apenas duas especialidades: a varíola, que ocupa um pavilhão construído para o efeito, e o tratamento e prevenção da tuberculose, serviço implantado no edifício principal. Com a reforma hospitalar de 1901 é construído um novo hospital para doenças infecto-contagiosas em Lisboa (Hospital Curry Cabral, inaugurado em 1906), e o Hospital Rainha D. Amélia (nome atribuído ao Hospital de Arroios entre 1998 e 1911) adquire o perfil de hospital geral, com serviços de "Medicina Interna" e "Cirurgia-geral".
Entre 1919 e 1925, o hospital acolhe e trata milhares de militares mutilados e feridos na 1ª Guerra Mundial (novaflorestablogspot).
A época áurea da instituição - entre 1925 e 1950 - dá-se com a nomeação de Reynaldo dos Santos para o cargo de Director do Serviço de Cirurgia. Juntamente com os professores Aníbal de Castro (medicina), Roberto Chaves (histologia e semiótica laboratorial) e Pereira Caldas (semiótica radiológica) organiza uma unidade médico-cirúrgica com estreita ligação ao laboratório e à radiologia (http://www.vidaslusofonas.pt/reynaldo_dos_santos.htm). A investigação experimental de alto nível na área da arteriografia dos membros levada a cabo no hospital conduz à descoberta de um novo exame radiológico - a aortografia- e capta o interesse de numerosos estudantes, dando origem ao termo "Universidade de Arroios".
A partir da década de cinquenta do século passado o hospital entra em progressiva decadência, e antes do seu encerramento em 1992 já só tem uma enfermaria de "Medicina Interna", a funcionar sem apoio local de meios complementares de diagnóstico.
Devoluto desde então, o edifício serviu ainda como depósito do Arquivo Morto dos Hospitais Civis de Lisboa durante alguns anos e foi vendido em 2004.
Presentemente com destino incerto, aguarda decisão judicial para que possa prosseguir a apreciação do projecto que prevê a demolição do antigo edifício do noviciado para construção de blocos de apartamentos.
Evolução urbanaO Noviciado das Missões da Índia foi construído numa quinta situada em Arroios, junto à Estrada de Sacavém (actual Rua Quirino da Fonseca), via que ligava o Largo de Arroios ao núcleo rural de Sacavém, no termo de Lisboa. O edifício, a igreja e as casas anexas, virados a poente, implantaram-se no lado nascente da estrada, e a propriedade rústica - dividida em cerca pequena e cerca grande - desenvolvia-se para sul, um pouco abaixo da actual Praça do Chile, e para nascente até à actual Rua Carlos Mardel (ver leituras arquitectónicas - planta de implantação).
As grandes transformações urbanas desta zona da cidade dão-se a partir da 2ª década do século XX embora já se encontrassem parcialmente previstas no Plano Geral de Melhoramentos da Capital, de 1877. Este Plano, delineado pelo município sob coordenação de Frederico Ressano Garcia, incluía a construção de uma grande avenida para ligar, numa 1ª fase, a Rua da Palma à Estrada de Circunvalação que confinava a norte com a cerca do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz. Numa foto de 1900, de Alberto Carlos Lima, pode observar-se a avenida já construída precisamente até ao cruzamento com a Circunvalação, junto ao muro do antigo convento, à época o Hospital de Arroios. O prolongamento da avenida até à Alameda estava dependente da expropriação de uma área significativa da cerca conventual (AML, Lisboa 1900. Planta mostrando o traçado completo da Avenida dos Anjos e das Ruas adjacentes [...], 1906), situação que embora tenha sido acautelada pela câmara logo após a extinção do convento (ANTT, Inventário de extinção do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz a Arroios, f. 0008), só se concretizaria a partir de 1916.
O município começa por adquirir 430m2 para se fazer o alargamento da via junto à entrada na Rua Morais Soares, com vista a prolongar a linha de eléctrico até ao Alto do Pina (ANTT, Idem, f. 0069-0079; Actas..., 1916, p. 468), e em 1917 compra mais 10.185m2 para realizar um conjunto de operações urbanísticas que deram a esta zona da cidade a configuração urbana que hoje conhecemos. Desses 10.185m2, 6432m2 eram para via pública e 3753 para venda (Actas..., 1917, pp. 14-16).
Esta expropriação permitiu fazer a rotunda da futura Praça do Chile (designação atribuída em 1928); regularizar o troço da antiga Estrada da Circunvalação entre o Largo do Leão e a nova praça (Rua António Pereira Carrilho); prolongar a Avenida Almirante Reis até à Alameda; e ainda lotear algum terreno para construção (cft. plantas de enquadramento urbano: 1834 e 2015). No centro da praça esteve a estátua de Neptuno que hoje se encontra no Largo D. Estefânia, substituída em 1950 pela estátua de Fernão de Magalhães (oferecida pelo governo do Chile e inaugurada a 17 de Outubro de 1950).
Como memória urbana permanece o troço da antiga Estrada de Sacavém entre o Largo de Arroios e a Alameda (as ruas Alves Torgo e Quirino da Fonseca) e, na toponímia, a Azinhaga das Freiras de Arroios, que corresponde à antiga mas regularizada Azinhaga do Leão (cft. cartografia actual; FOLQUE, 1856/1858, plantas 6 e 113; PINTO, 1904/1911, planta 11K).
Inventário de extinçãoANTT, Ministério das Finanças, Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz a Arroios em Lisboa, Cx. 1952.
O processo relativo a extinção do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz a Arroios em Lisboa, com 935 fólios digitalizados, abrange o período de 1857 a 1928 e contém informação sobre os inventários de bens do convento realizados em 1857 e em 1890-1891 e as respectivas avaliações, sobre a cedência do edifício ao Hospital Real de São José, e sobre o processo de aquisição dos terrenos da cerca conventual por parte da Câmara Municipal de Lisboa.
a) Inventários e avaliações
O 1º inventário de bens do convento realiza-se em 1959 (f. 0016-f.0185), no seguimento da Portaria de 21 de Julho de 1857, do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e Justiça, que estabelece a obrigatoriedade da elaboração de inventários pormenorizados dos conventos de religiosas e de todos os seus bens.
Previamente, a 13 de Maio de 1857, por serem muito insuficientes os esclarecimentos sobre as casas religiosas femininas compreendidas no território do Patriarcado, e porque era indispensável o Governo ter o conhecimento mais exacto e completo possível sobre este assunto para que pudesse propor e solicitar as providências adequadas quanto à sorte futura destas casas e ao modo de atender às suas necessidades presentes, Sua Majestade solicita ao Cardeal Patriarca de Lisboa que faça expedir as ordens às preladas de todos os mosteiros e conventos da Diocese Patriarcal para que franqueiem os documentos e prestem os devidos esclarecimentos à autoridade ou pessoa eclesiástica nomeada para presidir ao inventário dos bens da respectiva casa religiosa, dos encargos de qualquer natureza com que esses bens estiverem onerados, das dívidas activas e passivas, do número de conventuais e do estado material das mesmas casas (f. 0019-0028 e f. 0115-0122).
A 12 de Maio de 1859 o Provisor e Vigário-Geral interino do Patriarcado nomeia António Francisco Franco, Prior da freguesia da Pena, como responsável pela realização do inventário do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz em Arroios (f. 0019 e f. 0114). A 6 de Outubro de 1859, na sua 1ª deslocação ao convento com o escrivão Francisco Xavier de Sousa, nomeia como inventariante a madre abadessa - soror Joaquina Maria do Coração de Jezus (f. 0018 e 0029).
O inventário tem início a 17 de Outubro, após o termo de juramento aos louvados (f. 0031-0032 e f. 0124-0125), com o auto de entrada em clausura (f. 0033-0034 e f. 0126-0127). Trata-se do processo de entrada no convento, mediante autorização do prelado da diocese, em que o responsável pelo inventário, os avaliadores e o escrivão, acedem ao interior do convento acompanhados por 2 capelães, pela madre abadessa e pela porteira, soror Mathilde Maria de Jezus. À data residiam no convento 25 religiosas - 13 conventuais e 12 seculares - com idades entre os 15 e os 90 anos (f. 0008).
O Caderno nº 1 contém a descrição e avaliação do convento, da cerca e dos edifícios anexos (f. 0038-0048 e f. 0129-0137). Este inventário realiza-se a 17 de Outubro e os avaliadores são Nicolau José dos Reis, carpinteiro, José Joaquim de Almeida, pedreiro e Manuel José Ferreira, fazendeiro (f. 0031 e f. 0039).
O edifício, a igreja e a cerca pequena são avaliados em 8:200$000 e descritos nos seguintes termos: o convento "está situado ao nascente da estrada de Sacavem (...) e tem a sua frente principal para o lado do Poente [assim como a igreja]. Há junto à porta [da igreja] um vestíbulo com seu guarda-vento. Tem logo ao lado do Sul uma pequena casa onde estão os confessionarios. No corpo da mesma egreja há dous altares além do da capella mór, onde ha de cada lado uma caza que serve de sachristia. Em roda do corpo da egreja ha uma teia de pau santo torneado, e de cada um dos lados duas peanhas de cantaria em que estão collocadas quatro imagens, de pedra marmore, de Santos da Companhia de Jezus. A entrada do Convento (...) consta de uma caza de lajedo, chamada a portaria, com um oratorio na frente, tendo para o lado do Sul o quarto da (Velleira e para o do Norte a caza das grades, ou locutorio. Do lado do Nascente está a porta da entrada, a qual começa por um corredor em direcção ao claustro, no centro do qual ha um pequeno jardim. Ao Sul do mesmo claustro ha tres cazas que servem de lavatorio, refeitorio e cozinha, tendo esta ultima uma meza de pedra ao centro. Junta à cozinha ha uma escada de cantaria que dá serventia a uma pequena cêrca, havendo no fundo da mesma escada, de um lado a caza do forno, e do outro a caza de recolher a criação. Segue-se a cerca pequena que se compõe de uma rua de parreiras com alegretes em direcção a uma capella que fica para o lado do Sul, coberta de abobada com a inscrição da Senhora dos Anjos, e tendo dentro e em roda assentos de pedra. Tem mais esta pequena cêrca chão de horta, parreiras sobre pilares de pedra, um poço com engenho real coberto com um terreiro, dous tanques e uma almacega, e arvores de fructo, e é toda murada sobre si com muro alto. Para o mesmo lado do Sul há quatro cazas subterrâneas, cobertas de abobada, uma das quaes tem entrada pelo pateo, e as outras tres pela cêrca grande, servindo todas de officinas e accommodaçoens.
Voltando ao claustro, ha ali ao lado de Nascente uma grande caza com cinco cellas contiguas que servem de enfermaria havendo ahi uma capella fechada com portas de vidraça. Proximas ha mais duas casas que servem de confissionarios, e em seguimento está a sachristia interior com seus armarios e arcazes de madeira. Todas estas cazas são de abobada. Segue-se no mesmo pavimento o coro de baixo com assentos de madeira sobre cachorros de pedra. Em continuação fica a escada de cantaria que da serventia ao segundo pavimento, o qual é dividido em quatro dormitorios com vinte e quatro cellas, entre as quaes ha uma capella de Nossa Senhora da Conceição e dous oratorios. No mesmo pavimento estão a caza da rouparia, com os competentes armarios, o côro de cima com assentos de pau santo polido em forma de cadeiras de costas, e uma outra capella de Nossa Senhora das Dores. Ha uma outra escada de cantaria para o lado do Sul que dá entrada ao terceiro pavimento, que começa por uma caza que dá passagem para uma capella do Senhor dos Passos, ao lado da qual há duas cazas servindo uma de entrada para a dita capella, e a outra para estudo. Para o Nascente há uma grande salla com um presepio em ponto grande e dous oratorios, e em seguida um dormitorio com quinze cellas. Em frente da dita escada há três vãos sobre abobadas que ficam debaixo da perna do madeiramento, e ao Norte destes um corredor onde está a torre com quatro sinos, e em seguida um pequeno terraço onde está o relogio com dous sinos de horas e quartos. Sendo tudo de que se compõe o mencionado Convento, que fica descripto, e que se acha no melhor estado de conservação possível, lhe dão os louvados abaixo assinados o valor de oitocentos e duzentos mil reis" (f. 0040-0043).
As casas anexas são avaliadas em 1:340$000 e 480$000 respectivamente: "Unida ao citado edifício, e ao Norte dele, ha uma propriedade de cazas com a frente para a mencionada estrada de Sacavém, e com os números de polícia sessenta e cinco a sessenta e oito. [...] A porta número sessenta e oito também dá entrada para a igreja do Convento. Esta propriedade onde residem os capelães e outras pessoas pertencentes ao mesmo Convento pode render sessenta e sete mil e duzentos reis anuais [...]" (f. 0043-0044).
"Ao Sul do Convento ha um pateo que tem dentro dous assentos de cazas abarracadas [...]. Há no fundo do citado pateoo outro telheiro que serve para guardar lenha. Esta parte, que é toda fechada, tem porta para uma caza subterranea já mencionada na discripção do edificio do Convento, a qual corresponde com a cêrca grande. As barracas alludidas, que são occupadas por empregados do convento, podem render anualmente vinte e quatro mil [...]" (f. 0044- 0045).
A cerca grande do convento, avaliada em 1:600$000, "[...] fica ao nascente do mesmo, e tem entrada por um portão que fica ao sul e à frente da estrada que vai ao Poço dos Moiros. Consta de chão de horta, dois poços com engenhos reais cobertos com telheiros, dois tanques, duas almácegas, ruas de parreiras sobre pilares de pedra e esteios de pau, oliveiras, árvores de fruto e canavial; sendo dividida em ponte por socalcos. É toda murada em roda, e está custeada por conta do convento. Pode render anualmente sessenta mil réis. Confronta pelo norte com horta de Francisco José Sacavém; nascente com horta de Joaquim Telles da Costa; pelo sul com a estrada do Poço dos Mouros; e pelo poente com o convento, pátio e cerca pequena do mesmo e com a estrada de Sacavém. A referida cerca vale um conto e sessenta mil réis." (f. 0045).
No conjunto, convento, cerca e propriedades anexas são avaliados em onze contos e trezentos e vinte mil réis (11:320$000).
O Caderno nº 2 contém a descrição e avaliação das propriedades urbanas e rústicas pertencentes ao convento (f. 0050-0059 e f. 0141-0149) e que tinham sido doadas pelos fundadores. A avaliação realizou-se a 12 de Dezembro de 1859 e refere-se a uma propriedade e a várias casas no sítio da Luz, onde se localizara o primitivo convento (LxConv015). A 21 de Outubro de 1861, a Direcção Regional da Fazenda envia à Direcção Geral dos Próprios Nacionais cópia destes autos (f. 0419-0426 e 0577-0578).
O Caderno nº 3 contém a descrição de um foro do convento, realizada a 31 de Janeiro de 1860 (f. 0062-0065 e f. 0151-0155).
O Caderno nº 4 contém a descrição dos títulos de crédito público, padrões e capitais - 31 Janeiro 1860 (f. 0068-0084 e f. 0157-0171).
O Caderno nº 5 contém a descrição dos objectos preciosos e alfaias - 17 de Outubro de 1859 (f.0086-0099 e f. 0173-0185).
A avaliação total dos bens do convento é de 71:399$832: edifício e prédios anexos - 11:220$000; propriedades urbanas e rústicas - 4:076$000; foro - 20$000; inscrições - 31:950$000; padrões da câmara municipal - 3:000$000; depósitos de juros reais - 16:816$632; capitais mutuados - 3:6000$000; objectos preciosos e alfaias 717$200 (f. 0186 e 0575).
A acompanhar estes inventários 3 mapas do ano de 1856, relativos a dívidas activas e passivas (f. 0105), despesas (f. 0106) e receitas do convento (f. 0107).
O convento é extinto a 9 de Junho de 1890 por morte da última religiosa (madre Maria de São José) e no dia seguinte o Ministério da Fazenda, através da Direção Geral dos Próprios Nacionais, envia o inventário de 1862 à Repartição da Fazenda do Distrito de Lisboa para que, nos termos das instruções de 31 de Maio de 1862, mande proceder à tomada de posse do convento (f. 0675-0676).
Assim, a 12 de Julho de 1890, Henrique Francisco Bizarro, da Repartição da Fazenda, determina que o Administrador do 2º Bairro - Antonio Augusto de Sousa Azevedo Villaça - tome posse provisória do convento e dos seus bens e mande fazer os respectivos inventários e avaliações (f. 0197-0199). Os objectos de culto e quaisquer outros deverão ser entregues à autoridade eclesiástica até que superiormente seja determinado o procedimento a seguir (f. 0365-0367).
Este processo (índice f. 0193) tem início a 17 de Julho de 1890 e termina a 31 de Dezembro de 1891. Depois de finalizados os inventários estes deveriam ser enviados à Repartição da Fazenda do distrito de Lisboa (f. 0211-f. 0212).
No próprio dia 17 de Julho, na presença da pupila Soror Maria da Encarnação, encarregada da gerência do cenóbio no tempo da última religiosa, é lavrado o auto de posse provisória para a Fazenda Nacional, que inclui a descrição da igreja, das dependências conventuais (ver caracterização arquitectónica), da cerca e das casas anexas que se encontravam arrendadas (f. 0203-0208).
A 20 de Agosto de 1890 são lavrados o auto de saída das 7 pupilas que moravam no convento aquando da morte da última religiosa, da veleira e de um criado e de sua filha (f. 0219-0220 e f. 0741), e o auto entrega da chave do extinto convento ao representante da Fazenda Nacional (f. 0216-0217).
A 28 de Agosto realiza-se o inventário e avaliação dos móveis (149 itens), estando assinalados a encarnado os itens que foram entregues à administração do Hospital de São José a 4 de Dezembro de 1890 (f. 0465-0489). Inclui termo de juramento dos louvados.
A 6 de Setembro de 1890 é lavrado o auto de entrega do extinto convento ao Governador Civil de Lisboa (f. 0223-0224).
A 27 de Janeiro de 1891 o Reverendo presbítero António Rodrigues de Figueiredo é nomeado pelo Cardeal Patriarca para proceder à verificação e arrecadação de todos os objectos pertencentes ao culto religioso (f. 0201-0202).
Os inventários de títulos e bens móveis são realizados entre Setembro e Outubro de 1891:
- 20 Títulos, avaliados em 712$000 (f. 0225-0228).
- 355 objectos do culto divino (30 de Setembro de 1891): itens 1 a 355, avaliados em 703$000 (f. 0229-0286).
- 28 objectos de ourivesaria (4 de Setembro de 1891): itens 356 a 383, avaliados em 227$590 (f. 0287-0293).
- 55 quadros (16 de Setembro de 1891): itens 384 a 438, avaliados em 437$200 (f. 0295-0305). O avaliador foi Manuel Victor Rodrigues, professor de desenho e arquitecto.
- Biblioteca (14 de Outubro de 1891): itens 439 a 624 (185 livros e manuscritos), avaliados em 235$900 (f. 0307-f. 0343). O avaliador foi Luiz Carlos Rebello Trindade, Inspector das Bibliotecas Públicas.
- Móveis da igreja: itens 625 a 640, avaliados em 57$700 (f. 0345-0347).
O inventário é dado como encerrado a 30 de Dezembro de 1891 (f. 0349-0350).
A 6 de Agosto de 1892 realiza-se um inventário adicional de móveis, no total de 32 itens, avaliados em 238$500 (f. 0509-0515).
A 24 de Dezembro de 1892 o Director da Repartição da Fazenda de Lisboa envia ao visconde de Mangualde, Director dos Próprios Nacionais, um extenso ofício relatando todos os procedimentos realizados pelo Administrador do 2º Bairro em relação à tomada de posse do convento, ao inventário dos bens, e a outras questão relacionadas com a ocupação do edifício, a entrega da igreja, etc. (f. 0365-0375). É neste documento que se fica a saber que:
- as Irmãs Hospitaleiras Portuguesas permaneceram no convento até receberem ordens para o desocupar. Foram transferidas para Convento de Santa Joana (ofício de 11 de Agosto de 1890 - f. 0213), deixando assim o edifício livre e disponível para ser entregue provisoriamente ao Governador Civil para hospital provisório de coléricos (f. 0368-0369).
- a 10 de Dezembro de 1890 foram entregues ao Hospital de São José todos os móveis de uso ordinário (f. 0370);
- por ofício de 10 de Dezembro de 1890 foram declarados caducos os arrendamentos dos anexos e cerca do convento, e mandados despejar os rendeiros, sendo tudo entregue ao Hospital de São José (f. 0370).
- a igreja é a única frente do convento ainda na posse da Fazenda. Deveria ter sido entregue à autoridade eclesiástica a 21 de Janeiro de 1891 mas tal não se concretizou porque estava por resolver a entrega dos objectos de culto e dos livros e quadros (f. 0371).
- o inventário que se remete consta de 3 partes: 1ª - descrição dos edifícios e anexos, títulos de crédito e objectos de culto (cópia enviada ao Patriarcado), móveis da igreja, e ainda uma relação dos objectos que ainda havia dentro do convento quando este foi entregue para hospital de coléricos e que não puderam ser avaliados; 2º - inventário dos móveis; 3º - inventário adicional, também de móveis. O valor total da avaliação, excluindo o edifício do convento e anexos, é de 44.224$400. É enviado também o inventário antigo e as fichas dos salários dos louvados (f. 0373/-0374).
Os bens do convento foram distribuídos pelas seguintes entidades:
- Um retrato do Bispo de Elvas (frei Angelo de Nossa Senhora da Boa-Morte, já falecido) foi entregue a uma familiar a 28 de Agosto de 1890 (f. 0517-0518).
- Os sinos e o relógio da igreja foram entregues à Igreja matriz do Olival, concelho de Ourém - 26 de Novembro de 1890 (f. 0491).
- Vários móveis foram entregues ao Hospital Real de São José - 4 de Dezembro de 1890 (f. 0499).
- Uma série de objetos de arte previamente escolhidos foram entregues ao Museu de Belas-Artes e Arqueologia a 10 de Abril de 1891 (f. 0523-0534, f. 0715 e f. 0723) e a 22 de Julho de 1892 f. 0355-0362).
- O órgão da igreja e as estantes do coro foram entregues à Igreja da Valada, concelho do Cartaxo - 15 de Outubro de 1891 (f. 0535-0536).
- Em Março de 1892, uma série de objectos que não tinham sido avaliados (quadros, estantes e cortinas, etc.) é confiada à guarda da administração do Hospital Real de São José (f. 0351-0354).
- A 2 de Março de 1893 é lavrado o Termo de entrega de livros à Mesa da Arquiconfraria do Santíssimo Sacramento da freguesia de São Julião (f. 0399-0403);
- A 3 de Março de 1893 é lavrado o Termo de entrega da igreja e objectos do culto divino e móveis ao cardela Patriarca(f. 0437-0438), autorizada por ofício de 23 de Fevereiro de 1892 (f. 0411).
- A 6 de Março de 1893 é lavrado o Termo de entrega dos livros e manuscritos da biblioteca conventual à Inspecção Geral das Bibliotecas e Arquivos Públicos (f. 0405-0409).
- A 8 de Abril de 1895 procede-se à arrematação de três altares de talha (f. 0565-0569).
- A 1 de Outubro de 1917 a Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França e de São João Baptista solicita a cedência de uma imagem do Senhor dos Passos em vulto natural e outra da Senhora da Conceição, com seus pertences, que se encontravam na igreja do antigo Convento de Arroios, para que lhes seja prestado culto na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França (f. 0707). A entrega acontece a 9 de Setembro de 1918 (f. 0695 e 0697).
Por ofício de 30 de Março de 1894, da Repartição da Fazenda do Distrito de Lisboa para o Director Geral dos Próprios Nacionais, são enviados o inventário dos livros do cartório, os termos das entregas da igreja e objectos de culto ao prelado, e dos livros da biblioteca à Inspecçao Geral das Bibliotecas e Arquivos Públicos (f. 0377-0379). Remete-se também o processo de arrematação dos móveis que restaram depois da entrega ao Hospital de São José, realizada em 1893 (f. 0383-0386 e 0563).
b) Cedência do edifício e da igreja
A 11 de Julho de 1890 o Ministro do Reino, tendo tido conhecimento que havia morrido a última religiosa do convento, solicita ao Ministério da Fazenda (Direcção Geral dos Próprios Nacionais) que expeça ordens para que não seja permitida nenhuma ocupação provisória do edifício e que este fique sob administração do Ministério do Reino (f. 0932).
Este pedido é reforçado a 22 de Julho pelo Ministério do Reino / Direcção Geral da Administração Política e Civil pois "As averiguações a que se mandou proceder relativamente ao extinto convento das freiras de Arroios indicam o mesmo edifício como indispensável aos serviços sanitários da Capital, na presente conjunctura em que o Governo lucta com grandes difficuldades para arranjar casa para aquelles serviços, sem que a tenha podido arranjar, nem mesmo á custa de pesados sacrifícios, em condições semilhantes ás d´aquelle extincto convento" (f. 0930).
O edifício passa para a posse da Direcção dos Hospitais a 4 de Agosto (f. 0810); e é neste contexto que, a 12 Agosto, o Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça oficia ao Conselheiro Director dos Próprios Nacionais sobre as providências a tomar pelo Cardeal Patriarca para que Irmãs Hospitaleiras abandonem o suprimido Convento de Arroios, pois o Ministério dos Negócios do Reino e o Ministério da Fazenda decidiram "que se proceda quanto antes à organização de um hospital para coléricos no edifício [...] por não haver outro que melhor se preste a esse fim" - O Prelado sugere Santa Joana ou Santo Alberto e pede-se que o Ministério da Fazenda ceda um desses edifícios com urgência, para que se possa providenciar a transferência (f. 0922-0923). As religiosas tinham sido transferidas provisoriamente do Convento das Trinas do Mocambo (LxConv063) por Portaria régia de 13 de Março de 1890 (f. 0808).
A 29 de Outubro de 1890, um grupo de fiéis moradores da zona que frequentava a igreja e contribuía para o sustento da mesma, e que tinha formado recentemente a Irmandade de Nossa Senhora da Luz (orago do extinto convento) solicita que esta lhes seja cedida com as suas imagens, alfaias e paramentos, e as casas contíguas (f. 0814-0821).
A 10 de Outubro de 1894, a propósito de uma informação do Enfermeiro-mor do Hospital de São José de que estavam a ser feitas diligências para que a igreja fosse entregue ao culto público, a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino / Direcção Geral de Administração Pública e Covil, envia um ofício dirigido ao diretor geral dos Próprios Nacionais, solicitando que tal não seja permitido, pois "seria nocivo à saude pública" (f. 0460).
c) Aquisição da cerca
Pouco tempo depois da morte da última religiosa, a 9 de Agosto de 1890 o Governador Civil de Lisboa remete ao Ministro dos Negócios da Fazenda um ofício da Câmara Municipal de Lisboa em que esta solicita que lhe seja cedida a parte da cerca do Convento de Arroios assinalada em planta anexa, para que a Câmara possa executar os "melhoramentos municipais aí projectados" (f. 0001-0005 e f. 0679). A cedência só se viria a concretizar entre 1916 e 1917 (f. 0769-f. 0807), depois de parecer favorável da Direcção do Hospital de São José, de 22 de Novembro de 1915 (f. 0795 e 0797).
Por despacho do Sub Secretário de Estado das Finanças de 2 de Setembro de 1916 "foram cedidos à Câmara Municipal de Lisboa, a título de expropriação de utilidade pública, 430 metros quadrados de terreno pertencente á cêrca do suprimido convento da Conceição da Luz em Arroios, para o assentamento imediato da linha dos Carris de Ferro de Lisboa, com o fim de prolongar a da Avenida Almirante Reis, até ao Alto do Pina, ao preço de quatro escudos por metro quadrado" (f. 0789). A CML fica obrigada a cobrir convenientemente o poço, que depois da obra ficará na via pública, deixando uma claraboia por onde se possa tirar a água, e uma galeria ou tubagem para dentro do terreno na posse do hospital por onde se possa também fazer o seu aproveitamento (f. 0791-0792),
O pagamento ao Banco de Portugal dos 1720$00 relativos à aquisição de 430 m2 da cerca do Hospital de Arroios é feito a 13 de Setembro (f. 0783 e 0785).
A 29 de Setembro é lavrada escritura da " expropriação feita ao Estado de um terreno proveniente da cerca do hospital de Arroios ligação e concordância da Avenida Almirante Reis com a Rua Conselheiro Morais Soares" mas as obras são embargadas pelo director dos Hospitais Civis, pelo que, a 23 de Outubro, a CML oficia ao Ministro da Fazenda a solicitar a cessação do embargo (f. 0779). Novo pedido é feito a 6 de Novembro pelo Presidente da Comissão Executiva da CML, face aos transtornos causados pelo embargo às obras iniciadas para "ligação e concordância da Avenida Almirante Reis com a Rua Morais Soares" (f. 0771). O embargo é suspenso a 11 de Novembro (f. 0769).
O processo inclui ainda documentação relativa ao litígio entre o Estado e os herdeiros da última freira professa do convento, nomeadamente acerca de títulos de dívida pública e acções (f. 0637-0656).
1697-02-13 Morte do clérigo João Serrão que deixa em testamento bens para a fundação, em Frielas, de um seminário destinado à formação de missionários para as Províncias da Companhia de Jesus na Índia Oriental. 1698-10-24 Autorização papal para que o noviciado possa ser construído em Arroios. 1705-10-01 Colocação da primeira pedra do edifício, financiado em grande parte por doação da rainha D. Catarina de Bragança. 1735-04-27 Entrada dos primeiros noviços. 1735-08-05 Inauguração da igreja, consagrada a Nossa Senhora da Nazaré. 1758-12-13 O noviciado é cercado por tropas. 1759-02-06 Auto de sequestro do edifício, cerca e anexos. 1759-02-11 Os padres do noviciado são expulsos e presos. 1760-05-06 Portaria do Governo mandando entregar ao Hospital de São José a botica que foi do Noviciado de Arroios. 1766-07-10 As religiosas da Ordem da Imaculada Conceição, cujo convento ficara profundamente arruinado pela Terramoto de 1755 (LxConv015) mudam-se para o edifício do noviciado, que passa a denominar-se Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz em Arroios. 1807 Por altura da primeira invasão francesa, as freiras começam a fazer distribuição diária de sopa à população carenciada, dando origem ao termo "sopa de Arroios". 1831 A condessa da Ribeira Grande e a Condessa de Ficalho são encarceradas no convento por ordem do Governo, e libertadas em 1833 após a vitória do duque da Terceira. 1832-10-27 No âmbito do Aviso de 19 de Setembro, do Ministério dos Negócios da Guerra, relativo aos donativos de lenços e roupas para os hospitais militares, as religiosas do Convento de Arroios entregam «11 lenços de linho, 7 arrateis de linho, 96 chumaços para curativo, e 3 arrateis de panno para dito». 1833 Um regimento fica aquartelado no convento e as freiras vão temporariamente para o Convento de Santos-o-Novo. 1833-08-09 Decreto proibindo a manutenção de cenóbios com menos de 12 religiosas. 1834-05-30 Decreto de extinção de todas as casas religiosas masculinas das ordens regulares e incorporação dos seus bens nos Próprios da Fazenda Nacional. 1848-04-25 A Câmara envia ofício ao Barão de Nossa Senhora da Luz, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, sobre a necessidade de se proceder à reparação do muro do convento junto à estrada que vai para o cemitério do Alto de São João, que estava em via de desabar. 1859-05-12 O Prior da freguesia de Nossa Senhora da Pena, António Francisco Franco, é nomeado pelo Provisor e Vigário Geral interino do Patriarcado para superintender à realização do inventário e avaliação dos bens do convento, nos termos do disposto na Portaria de 21 de Julho de 1857, do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e Justiça. 1859-10-17 Dá-se início ao inventário. O edifício é avaliado em oitocentos e duzentos mil réis. (8:200$000) e a cerca em um conto e sessenta mil réis (1:600$000). 1861-04-04 Carta de Lei sancionando o Decreto de Cortes de 28 de Março de 1861, que estabelece os termos em que deve proceder-se à desamortização dos bens eclesiásticos. O artº 11º refere que "Todos os bens que, no termo d´esta lei, constituírem propriedade ou dotação de algum convento que for supprimido na conformidade dos canones, serão exclusivamente aplicados á manutenção de outros estabelecimentos de piedade ou instrucção e á sustentação do culto e clero". E que uma lei especial regulará esta aplicação. 1862-05-31 Decreto que regula a execução do artigo 11º da Carta de Lei de 4 de Abril de 1861. Inclui as instruções "sobre a administração e rendimento dos conventos de religiosas suprimidos". 1890-03-13 Autorização régia para que a Associação das Irmãs Hospitaleiras da 3ª Ordem da Penitência de São Francisco de Assis se possa instalar numa parte do edifício enquanto não estiverem acabadas as obras no Convento das Trinas do Mocambo, onde residiam. 1890-06-10 Morre a última religiosa professa da Ordem da Imaculada Conceição e o Convento de Nossa Senhora da Conceição da Luz em Arroios é extinto. 1890-06-17 A Fazenda Pública toma posse do convento e dá-se início ao inventário e avaliação dos bens móveis e imóveis. 1890-07-11 O Ministro dos Negócios do Reino solicita ao Ministro da Fazenda que expeça ordens para que não seja permitida nenhuma ocupação provisória no edifício. 1890-08-04 Despacho para que se faça a entrega do suprimido convento aos Hospitais Civis de Lisboa, para a instalação de um "hospital de internamento de coléricos". 1890-08-09 Ofício da CML para o Governador Civil do Distrito de Lisboa, solicitando que este providencie superiormente a cedência de uma parte de terreno do antigo convento, para que "se possam realizar os melhoramentos municipais ali projectados" (prolongamento da Avenida dos Anjos e regularização da Estrada da Circunvalação). 1890-08-11 É emitido o despacho de transferência para o Convento de Santa Joana das 60 Irmãs Hospitaleiras que estavam a residir provisoriamente em Arroios. 1890-08-20 As 7 pupilas que moravam no convento aquando da morte da última religiosa abandonam o edifício e a chave é entregue ao representante da Fazenda Nacional. 1890-09-06 O edifício é entregue ao Governador Civil de Lisboa para nele se instalar um hospital provisório de coléricos, na dependência do Hospital Real de São José. 1890-10-10 São declarados caducos os arrendamentos dos anexos e cerca do convento e é ordenado o despejo dos rendeiros, para que edifícios e propriedade sejam entregues ao Hospital Real de São José. 1890-11-26 Os sinos e o relógio da igreja são entregues á igreja matriz do Olival, concelho de Ourém. 1890-12-04 O Enfermeiro-mor do Hospital de São José solicita ao Director Geral dos Próprios Nacionais a entrega dos paramentos da igreja para serem aplicados ao culto religioso do hospital. 1891-01-21 A igreja é a única parte do convento ainda em posse da Fazenda. 1891-01-27 O reverendo António Rodrigues de Figueiredo é nomeado pelo Cardeal Patriarca para proceder à verificação e arrecadação de todos os objectos pertencentes ao culto religioso. 1891-10-15 O orgão da igreja e as estantes do coro são entregues à igreja de Valada, concelho do Cartaxo. 1891-12-30 Termo de encerramento do inventário. 1892 O edifício passa a ser utilizado como hospital especializado no tratamento de doenças contagiosas, com o nome de Hospital de Arroios, na dependência do Hospital de São José. 1892-11-04 Orçamento para reparação urgente do telhado da ala norte do Hospital de Arroios que ruira. 1892-11-24 O inventário é remetido à Direcção Geral dos Próprios Nacionais. Os bens do convento (não incluindo o edifício e a cerca) são avaliados em 44.224$400. 1893-03-03 Termo de entrega da igreja e objectos do culto divino ao Patriarcado de Lisboa. 1893-04-20 Orçamento para obras exteriores no edifício. 1893-06-26 Conclusão das reparações do telhado da ala norte. 1894-05-14 Pedido de orçamento para obras interiores. 1894-08-11 Construção de canalizações para as casas de banho do hospital. 1894-10-10 Ofício da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino sobre um parecer do enfermeiro-mor do Hospital de São José acerca do perigo que representaria para a saúde pública a reabertura da igreja ao culto. 1895-02-24 Inicío das obras de conservação exteriores e interiores 1895-03-23 Edital do administrador do 2º Bairro de Lisboa sobre a arrematação de um altar de madeira com talha, composto por quatro colunas, quatro capitéis, quatro anjos, três serafins e diferentes peças soltas (avaliado em 10 mil réis), um altar e capela de talha, em casquinha pintada (avaliado em 10 mil réis) e uma capela e dois nichos com colunas torcidas e sete vidraças, em madeira de casquinha pintada e dourada (avaliada em 12 mil réis). A arrematação é marcada para o dia 8 de Abril. 1895-07-08 Por deliberação camarária, a Avenida no Prolongamento da Rua da Palma até à Estrada da Circunvalação passa a denominar-se Avenida dos Anjos. 1895-07-12 | 1897-12-31 Durante as obras na igreja de Arroios a paróquia fica instalada na Igreja de Nossa Senhora da Nazaré. 1897-11-09 Conclusão das obras de conservação do edifício (interiores e fachadas). Valor total da intervenção: 54:492$660 réis. 1898 A rainha D. Amélia toma a decisão de isolar no Hospital de Arroios os doentes tuberculosos dispersos pelos outros hospitais. Os inválidos que se encontravam ali internados são transferidos para o Hospital de Odivelas. 1898-05-03 O Hospital de Arroios passa a designar-se Hospital Rainha D. Amélia, em reconhecimento pelo seu apoio no combate à tuberculose. 1899-11-15 O Dr. Câmara Pestana, director do Instituto de Bacteriologia de Lisboa, morre no hospital de Arroios vítima de peste. 1903-06-26 A Avenida dos Anjos passa a designar-se Avenida Dona Amélia. 1906-08-09 Aprovada em sessão de câmara a proposta do vereador Ferreira da Silva para que o troço da Estrada da Circunvalação entre o Largo do Leão e a Estrada de Sacavém passe a denominar-se Rua Conselheiro Pereira Carrilho, e que o troço da Estrada de Sacavém até ao sítio das Casas Novas passe a denominar-se Rua Conselheiro Morais Soares. Ficou a aguardar-se que a 3ª repartição definisse os limites dos dois troços, face aos planos projectados para a Estrada da Circunvalação. 1906-09-13 Em relação à sua proposta de 9 de Agosto, o vereador Ferreira da Silva informa ter consultado na 3ª repartição o plano de melhoramentos para a Estrada da Circunvalação, e que dele constam importantes modificações de alinhamento e duas praças; uma, circular, no terminus da Avenida D. Amélia e outra, semi-circular, frente ao cemitério. Assim, a primeira rua, até à rotunda, mede 208m; e a segunda, da rotunda à parada do cemitério, mede 1020m. 1910 O Hospital rainha D. Amélia volta a chamar-se Hospital de Arroios. 1910-10 A igreja é encerrada ao culto depois da proclamação do regime republicano. 1910-10-13 Por deliberação camarária a Avenida dos Anjos passa a designar-se Avenida Almirante Reis (edital publicado a 5 de Novembro de 1910). 1910-12-14 É aprovada em sessão de câmara a expropriação de toda a parte da cerca do Hospital de Arroios a Sul do alinhamento Norte da Rua Morais Soares. 1916-02-02 A Câmara submete à apreciação das Comissões de Obras Públicas e de Finanças o processo relativo à aquisição de terreno da cerca do Hospital de Arroios, necessário para alargamento da concordância da Avenida Almirante Reis com a Rua Conselheiro Morais Soares. 1916-06-27 Deliberação de Câmara para aquisição de 430m2 de terreno da cerca do Hospital de Arroios, com vista ao prolongamento da linha de Carris de Ferro da Avenida Almirante Reis até ao Alto do Pina . 1916-09-29 Escritura da aquisição, pela CML, de 430m2 de terreno da cerca do Hospital de Arroios. 1916-11-23 Por deliberação de câmara, a Rua Conselheiro Morais Soares passa a denominar-se Rua Morais Soares e a Rua Conselheiro Pereira Carrilho passa a denominar-se Rua António Pereira Carrilho (Edital publicado a 27 de Julho). 1917-01-05 Proposta de Câmara para a aquisição ao Estado de 10.185 m2 de terreno do Hospital de Arroios, para prolongamento da Avenida Almirante Reis e para urbanização, pela quantia de 40 contos, a pagar em oito prestações anuais 1918-09-09 Uma imagem do Senhor dos Passos e outra das Senhora da Conceição, que se encontravam na igreja do antigo convento são entregues à Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França e de São João Baptista para que lhes seja prestado culto na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França (LxConv042). 1925 Nomeação de Reynaldo dos Santos para Director do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Arroios. 1960 São desenterradas dos terrenos da antiga cerca 3 lápides com inscrições latinas, no local onde estavam a cascata das hortas e o pomar dos padres. 1981 É descoberto um ossário abobadado do início do século XVIII por detrás do altar-mor da igreja, com esqueletos e inscrições murais de freiras. 1986 O Hospital de Arroios e o Hospital do Desterro são agregados ao Hospital dos Capuchos. 1992 O hospital é desativado e o edifício passa a ser utilizado como depósito do Arquivo morto dos Hospitais Civis de Lisboa. 1995 É estabelecido um acordo entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e os Hospitais Civis de Lisboa com o objectivo de instalar no edifício um hospital de rectaguarda mas o acordo é posteriormente anulado. 2001 A igreja é reaberta e afecta ao culto da comunidade ortodoxa ucraniana. 2001 O edifício é adquirido pela Estamo, Participações Imobiliárias, SA, pelo valor de 9.776.439 euros. 2003-12-28 Dá entrada na CML o processo 1718/EDI/2003, que prevê a demolição do edifício do antigo noviciado. 2004 A Estamo vende o edifício à Imofrança por 11.258.752 euros. 2004-04-14 Dá entrada na CML o processo 989/EDI/2004. O processo é aprovado a 26.11.2004 mas não foi licenciado porque se encontra suspenso, a aguardar decisão judicial. 2011-09-19 Publicação do Anúncio 13021/2011, relativo à abertura do procedimento de classificação da igreja. 2012-12-24 Publicação da Portaria 740-M/2012, que classifica a igreja como Monumento de Interesse Público e fixa uma Zona Especial de Protecção.
Material gráficoCartografiaManuscritoMonografiaElectrónicoPeriódico | Noviciado das Missões da Índia de São Francisco Xavier | Exterior | Frente de rua. DSF6283. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2013. |
| Noviciado das Missões da Índia de São Francisco Xavier | Exterior | Frente de Rua. DSF6281. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2013. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada nascente. _DSF6669. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014
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| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada sul. _DSF6672. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada sul. _DSF6677. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada poente. _DSF6680. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Igreja. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Igreja. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Igreja. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Igreja. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Portaria. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Capela. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Capela | Pormenor. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Pátio. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Pátio. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Pátio | Galeria. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Pátio | Pormenor. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada sul / nascente. NEV001249. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada nascente. N29983. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Zona do actual Mercado de Arroios. BAR000478. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Final da Avenida D. Amélia. LIM002812. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Final da Avenida D. Amélia. FAN003631. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada poente | Igreja. POR059193. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada poente | Porta do Noviciado. EDP000841. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior |. N28797. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Azulejos. N28798. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Azulejos. N28799. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Interior | Azulejos. N28800. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
| Noviciado das Missões da India de São Francisco Xavier | Exterior | Fachada poente. POR051079. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
Rita Mégre José Manuel Garcia Última atualização - 2022-07-22
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