DesignaçãoConvento de Nossa Senhora da AnunciadaCódigoLxConv103Outras designaçõesConvento de Santo Antão; Convento de Nossa Senhora da Anunciada de Lisboa; Convento da AnunciadaMorada actualLargo da Anunciada; Rua de S. José; Rua das PretasSumárioO Convento de Nossa Senhora da Anunciada pertencia ao ramo feminino da Ordem dos Pregadores, tendo sido fundado no seu local definitivo em 1538, na zona norte extramuros de Lisboa, perto das Portas de Santo Antão. As casas aí existentes, que acolheram antes os Cónegos de Santo Antão, sofreram uma profunda remodelação patrocinada por Fernão Álvares de Andrade, para acolher condignamente as religiosas provenientes do convento primitivo na Mouraria.
O padroado da capela-mor foi legado à família dos Andrades, transitando depois para os condes da Ericeira. A partir do final de Quinhentos, o convento alcançou grande prestígio e, no início do século XVII, remodelou-se a igreja, com a colaboração dos pintores de óleo e tempera, que tinham aí a sede da sua corporação. A igreja, considerada das melhores nas redondezas, foi alvo de nova redecoração uma centúria depois.
Pouco se sabe acerca da arquitectura da igreja e do convento, arruinados pelo Terramoto de 1755. Além da fama da igreja, parece que o cenóbio compreendia cinco claustros, em torno dos quais se distribuíam as diferentes áreas e dependências. Após o grande sismo, a comunidade de religiosas da Anunciada transitou para o convento de Santa Joana e vendeu, poucos anos depois, os terrenos da cerca à Irmandade do Santíssimo Sacramento da freguesia de São José, responsável pelo loteamento e urbanização dessa área a partir do final do século XVIII e pela construção da igreja paroquial de São José, que nunca chegou a ser concluída.Ordem religiosaGéneroFemininoData de fundação1519-11-12Data de construção1539Data de demolição1755AutoriaFernão Gomes - Pintor, fez a capela-mor Brás Cordeiro - Pedreiro Mateus Álvares - Pedreiro Domingos Vieira Serrão - Pintor Damião Matoso - PintorTipologia arquitetónicaArquitetura religiosa\Monástico-conventualSituaçãoConvento - Demolido(a) Igreja - Demolido(a)
Enquadramento históricoO convento de Nossa Senhora da Anunciada foi, originalmente, fundado pelo rei D. Manuel I na mesquita da Mouraria. Após a expulsão dos Judeus e dos Mouros de Portugal em 1496, o templo foi ocupado por uma comunidade de mulheres piedosas franciscanas. Em 1519, foi então fundado o novo convento feminino da Ordem dos Pregadores, para o que foram chamadas seis religiosas do convento de Jesus de Aveiro. À comunidade residente foi dada a possibilidade de professar na ordem dos Pregadores, mudando de hábito e de regra (CACEGAS e SOUSA, III,1767, pp. 10-11; História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 332; LOPES, 1994, p. 859). A antiga mesquita foi adaptada às funções do culto católico, mantendo a planta centralizada - quadrada ou poligonal (GOMES, 2001, pp. 93-94).
Devido às condições de insalubridade do local e à devassa da vida claustral pelas casas vizinhas na encosta do Castelo, as religiosas procuraram trocar de instalações com os Cónegos de Santo Antão. A transferência das 31 religiosas para o novo convento, no actual Largo da Anunciada, realizou-se em 1539. No entanto, as "novas" instalações e a igreja eram, já na época, de construção antiga (c. 1400) (CASTRO, 1762-1763, p. 287; ARAÚJO, XIV, 1993, p. 95), ameaçando ruína. Foi com o patrocínio do fidalgo Fernão Álvares de Andrade, proprietário das casas em frente ao convento, que se fizeram dois novos dormitórios, as oficinas necessárias ao recolhimento de 50 religiosas e se reconstruiu o tecto da igreja. As religiosas da Anunciada, em agradecimento, solicitaram a D. João III, padroeiro do convento, a cedência da capela-mor da igreja para panteão de Fernão Álvares de Andrade, de sua mulher Isabel de Paiva e de seus descendentes (CACEGAS e SOUSA, III, 1767, pp. 12-15; História dos Mosteiros..., II, 1972, pp. 329-331). O padroado da capela foi, mais tarde, integrado no morgadio dos condes da Ericeira (Lisboa em 1758, 1974, p. 130).
O convento da Anunciada foi ainda dotado pela rainha D. Catarina, que patrocinou as obras de divisão do dormitório em celas, e por D. Joana de Noronha, filha do 2º conde de Linhares D Francisco de Noronha, doando rendas na ordem 183 mil réis em padrões de juro, para pagar um serviço de cinco merceeiras que assistiam à missa. Ali se recolheu D. Joana, juntando-se às suas quatro irmãs professas e sendo, após a morte, sepultada no coro baixo (CACEGAS e SOUSA, III, 1767, pp. 40-43; História dos Mosteiros..., II, 1972, pp. 333 e 340-341). No último quartel do século XVI era considerado dos principais conventos femininos da corte, onde professavam numerosas filhas da nobreza, algumas delas escritoras e artistas (CÂNCIO, 1953; MONTEIRO, III, 1734, pp. 289-290; ARAÚJO, XIV, 1993, p. 95).
Entre 1602 e 1607, fizeram-se obras de reconstrução, ampliação e decoração da igreja, onde agora tomava sede a importante Irmandade de São Lucas, a corporação dos pintores de óleo e de têmpera [CACEGAS e SOUSA, III, 1767, p. 41; História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 338; SERRÃO, 1989, pp. 64-65; GOMES, 2001, p. 94; SERRÃO, 2008). Uma descrição de Lisboa de 1625, considerou a "igreja das mais bem feitas, mais perfeitas, e acabadas, que tem toda a redondeza" (Relaçam..., 1625), facto que não obstou, no início da centúria seguinte, a uma nova campanha de redecoração.
A comunidade cresceu para mais de o dobro entre 1539 e 1708, ano em que já contava com 65 professas, 3 noviças, 5 educandas, 16 conversas, 5 escravas (História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 343). Em 1755, o Terramoto arruinou o convento de Nossa Senhora da Anunciada, obrigando à transferência das religiosas para o Convento de Santa Joana (Lisboa em 1758, 1974, p. 130; CASTRO, III, 1762-1763, p. 287). Ao abandonarem o convento destruído, as religiosas levaram consigo todos os materiais e peças de toda a sorte que haviam sobrevivido: as pedrarias lavradas e alvenaria, madeiras e forros, telhas e ladrilhos, azulejaria, talha, escultura e pintura (MATOS e PAULO, 2013, p. 107).
Fisicamente extinto o convento, os terrenos foram vendidos, em 1765, por 6.400.000 réis à Irmandade do Santíssimo Sacramento da freguesia de São José, detentora de várias propriedades nesta paróquia (Idem, pp. 107-108). Em 1856, deu-se início à construção da igreja paroquial de São José, que veio ocupar simbolicamente o local do convento da Anunciada e que para aí estava pensada desde 1756 [ARAÚJO, XIV, 1993, p. 95; ATAÍDE, II, 1975, p. 111; ANTT, Livro das plantas das freguesias de Lisboa, Planta da freguezia de S. Jozé, f. 25 (imagem 0064)].
Evolução urbanaO Convento da Anunciada erguia-se na zona norte extramuros de Lisboa, na estrada que ia das Portas de Santo Antão ao lugar de Nossa Senhora da Luz. Era uma área desafogada, onde, ao longo da Época Moderna, se instalaram hortas, quintas e casas religiosas. Parte desta via antiga é ainda hoje a Rua de São José, que constituía o limite nascente da cerca do convento da Anunciada. A delimitação da cerca corresponderia ao quarteirão actualmente formado pelo Largo da Anunciada, Rua de São José, Rua das Pretas e Avenida da Liberdade. A área edificada conventual era extremada pela Rua Direita de São José e, no limite oposto, ficavam as hortas [AML, Livro de Cordeamentos, 1710-1719, f. 391-92, 599-600; AML, Livro de Cordeamentos, 1741-1744, f. 116-117v]
A memória do antigo convento é hoje evocada pela toponímia: no Largo da Anunciada, erguia-se a fachada da igreja conventual, da mesma forma que hoje se ergue a da igreja paroquial de São José da Anunciada, que a veio substituir.
Caracterização arquitectónicaSegundo a História dos Mosteiros (II, 1972, p. 343), no século XVIII o Convento de Nossa Senhora da Anunciada compreendia cinco claustros - o claustro de dentro e quatro claustros de fora. O claustro de dentro tinha, ao centro, quatro canteiros, com alegretes e flores e um pequeno poço; e, nos cantos, rasgavam-se nichos para exposição de imaginária. Dos claustros de fora, sabe-se terem tido as galerias decoradas por pintura figurativa, representando os passos das vidas de santos. O primeiro tinha três capelas; no segundo localizavam-se o refeitório e o hospício; e no terceiro, a sala azulejada do capítulo. As conversas tinham dormitório, refeitório e coro separado (CACEGAS e SOUSA, III, 1767, p. 41). A igreja era composta por altares e pelos coros de cima, de baixo e das conversas, cada um destes com as suas capelas e altares (História dos Mosteiros..., II, 1972, pp. 341-343).
Século XVIII - início Obras de dotação da igreja patrocinadas por uma religiosa professa e uma conversa: retábulo e tribuna da capela-mor e sacrário em prata do Santíssimo Sacramento, que custaram, respectivamente 5 e 8 mil cruzados. 1515 Bula de autorização de fundação do convento de Nossa Senhora da Anunciada promulgada pelo papa Leão X a pedido do rei D. Manuel I. 1519-11-12 Fundação do convento na mesquita Mouraria, no local do Colégio de Santo Antão-o-Velho. O templo foi adaptado a igreja, com orago em Nossa Senhora da Sagrada Anunciação. Para fundar o novo convento, vieram 6 religiosas do convento de Jesus de Aveiro. 1538-02-22 Escritura de troca de conventos com os frades de Santo Antão, cujo convento se situava extra-muros da cidade, na antiga Corredoura e actual Rua de São José. 1539 Entrada das religiosas no novo convento da Anunciada. Patrocínio de obras no convento por Fernão Álvares de Andrade, fidalgo da Casa Real. Edificaram-se dois novos dormitórios e as oficinas necessárias à morada de 50 religiosas e reconstruiu-se o tecto da igreja . 1542 Alvará de D. João III, padroeiro do convento da Anunciada, autorizando a cedência da capela-mor da igreja para panteão de Fernão Álvares de Andrade, de sua mulher Isabel de Paiva e de seus descendentes. 1551 Comunidade composta por 53 freiras e 15 servidores. A renda anual do convento rondava os 1.000 cruzados . 1588 Decoração da sala do capítulo com pintura a fresco da autoria do pintor Fernão Gomes - alegoria «Triunfo da Obediência». 1602-02-12 Contrato do convento da Anunciada com os pedreiros Brás Cordeiro e Mateus Álvares para a obra do arco do cruzeiro, arcos das capelas laterais e nichos de pedra vermelha. 1602-10-17 Instituição da irmandade de São Lucas, corporação dos pintores de óleo e de têmpera, na igreja. Segundo o contrato com o convento, a irmandade ficava obrigada a decorar a respectiva capela e a fazer outras obras na igreja, nomeadamente a pintura da cobertura de igreja e douramento e estofagem de altares e imagens. Domingos Vieira Serrão viria a pintar o tecto da capela e da igreja. 1607 Obras de reconstrução, ampliação e decoração da igreja - abóbada de pedra, novas cantarias, pinturas de brutesco. 1616-02-18 A Câmara dá uma esmola de 100$000 réis às freiras do Convento da Anunciada. 1620 O convento da Anunciada acolhia 60 religiosas professas. 1625 A igreja é considerada «das mais bem feitas, mais perfeitas, e acabadas, que tem toda a redondeza». 1701 Execução do douramento da frontaria do coro da igreja pelo mestre pintor Damião Matoso, morador em Lisboa. Obra patrocinada por Roque Monteiro Paim, comendador da Ordem de Cristo. 1708 O convento acolhia 65 professas, 3 noviças, 5 educandas, 16 conversas, 5 escrava.s 1713-04-01 Petição da Prioresa e mais religiosas do Convento da Anunciada ao Senado da Câmara de Lisboa para proceder a obras no muro exterior das casas conventuais, do lado da Rua Direita de São José, substituindo os portais existentes de tijolo por portais de pedraria. 1716-03-24 Petição da Prioresa e mais religiosas do Convento da Anunciada ao Senado da Câmara de Lisboa para murar uma horta que lhes pertencia, sita junto ao convento, na travessa que ia para a Calçada da Glória. A obra é autorizada após vistoria e cordeamento. 1741-07-07 Petição da Prioresa e mais religiosas do Convento da Anunciada ao Senado da Câmara de Lisboa para demolir e reedificar a parede arruinada que distava da portaria até ao fim do dormitório, da banda das hortas. A obra é autorizada após vistoria e cordeamento. 1755 O convento da Anunciada ficou arruinado pelo Terramoto. A abóbada da nave da igreja abateu, vitimando dez religiosas. Na totalidade morreram doze freiras professas, uma noviça leiga, duas seculares e uma criada. 1756 Por determinação de D. José I, as comunidades de religiosas dominicanas dos conventos da Anunciada e da Rosa são unidas e incorporadas no Convento de Santa Joana. Nesse mesmo ano, é projectado um plano urbanístico para a freguesia de São José, da autoria de José Monteiro de Carvalho, onde se delinearam os novos quarteirões e se definiu o local da antiga igreja de Nossa Senhora da Anunciada para acolher a nova paróquia de São José . 1765-05-25 As religiosas do convento da Anunciada vendem os terrenos do convento e da cerca à Irmandade do Santíssimo Sacramento da freguesia de São José, por 6.400.000 réis, com excepção do património integrados e materiais de construção que haviam sobrevivido ao grande terramoto. 1863 Início da construção da igreja paroquial de São José nos terrenos do antigo convento da Anunciada. O projecto original era de António Tomás da Fonseca (1859), mas, em 1868, sofreu alterações de Domingos Parente da Silva e, em 1881, a obra passou a ser dirigida por José Luís Monteiro. A iniciativa pertenceu à Irmandade do Santíssimo Sacramento, que desde 1567 tinha sede na igreja de São José dos Carpinteiros, por diligências do monsenhor D. Miguel da Cunha, da casa dos condes de Povolide. 1883-08-15 Abertura ao culto da igreja de São José. Encontravam-se apenas erguidas a capela-mor, o transepto e parte da fachada axial sobre o Largo da Anunciada, ficando a igreja, desde esta altura, incompleta, faltando-lhe a nave. As capelas são decoradas por retábulos provenientes de igrejas destruídas pelo Terramoto: o da capela-mor pertencia à igreja do colégio de Santo Antão-o-Novo e o da antiga capela do Santíssimo Sacramento à do convento dos Lóios.
Material gráficoCartografiaManuscritoMonografia Relaçam em que se trata, e faz hua breve descrição dos arredores mais chegados à Cidade de Lisboa, e seus arrabaldes, das partes notaveis, Igrejas, Hermidas, e Conventos que tem, começando logo da barra, vindo correndo por toda a praya até Enxobregas, e dahi pella parte de cima até São Bento. Lisboa: Antonio Alvarez, 1625. |
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Cátia Teles e Marques - 2014-05-07
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