DesignaçãoConvento de Nossa Senhora da Boa-Hora de BelémCódigoLxConv001Outras designaçõesConvento de Nossa Senhora da Boa-Hora; Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora e de Santa Rita; Convento da Boa-HoraMorada actualTravessa da Boa-Hora à Ajuda, 2SumárioO Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém, da Congregação dos Agostinhos Descalços, foi um dos poucos conventos de Lisboa fundados após o Terramoto de 1 de novembro de 1755. Construído de raiz em 1756 em terras doadas por D. José I, e tendo como padroeira a rainha D. Mariana Vitória, destinava-se a acolher os religiosos do Convento da Boa-Hora de Lisboa que ficara muito danificado pelo sismo. A igreja foi edificada na década seguinte, tendo a primeira pedra sido lançada a 7 de abril de 1766.
No final de 1833, quando são iniciados os procedimentos para a extinção do convento, nove dos onze religiosos da comunidade já tinham sido transferidos para a casa-mãe da Ordem, o Convento de Nossa Senhora da Conceição do Monte Olivete. A igreja é entregue ao pároco da freguesia a 18 de dezembro, e em Julho de 1834 a Fazenda Nacional toma posse do edifício e de parte da cerca, onde prontamente se instalam várias guarnições do exército.
Anos mais tarde o antigo convento sofre obras de adaptação para acolher o Hospital Regimental de Infantaria nº 1, futuro Hospital Militar de Belém, cuja atividade se inicia em janeiro de 1890. Na parte norte e nascente da cerca (afeta ao hospital) são construídos vários edifícios de apoio a partir de 1911. A zona poente é arrendada em 1834 e urbanizada no final do século XIX - abre-se uma rua particular (Travessa Nova de Dom Vasco) e é construída a frente nascente da Rua de Dom Vasco que foi parcialmente substituída na 2ª metade do século XX.
Em 2013, com a criação do Polo de Lisboa do Hospital das Forças Armada, o Hospital da Boa-Hora é desativado e o antigo edifício conventual fica devoluto.Ordem religiosaGéneroMasculinoFundadorVigário-geral da Congregação dos Agostinhos Descalços - Intenção religiosaData de fundação1756-01-16Data de extinção1834-05-30Tipologia arquitetónicaArquitetura religiosa\Monástico-conventualComponentes da Casa Religiosa - 1834Convento Pátio Igreja Cerca de recreio e produçãoTipologia de usoInicial - Religioso Intermédia - Civil\Equipamento\Saúde Atual - Sem usoSituaçãoConvento - Existente Igreja - Existente Cerca (área poente) - Urbanizada Cerca (áreas norte e nascente) - Existente / parcialmente construída
OcupaçãoConvento - Devoluto(a) Igreja - Ocupado(a)
AcessoConvento - Privado\Condicionado Igreja - Público\Condicionado
Disposições legaisMonumento de Interesse Público; Portaria 177/2013; 5 de Abril
Evolução urbanaO Convento de Nossa Senhora da Hora foi edificado no Alto da Ajuda, no sítio do Espargal, a nordeste do núcleo urbano de Belém e a sudeste da «Real Barraca», onde a corte se instalou em 1761 na sequência do Terramoto de 1 de novembro de 1755. Esta era uma zona de baixo risco sísmico, predominantemente rural, onde havia terreno suficiente para se construir um edifício conventual de raiz e com uma cerca de dimensões generosas. O convento e a igreja tinham frente para a Travessa da Boa Hora (atualmente Travessa da Boa Hora à Ajuda e Largo da Boa Hora à Ajuda) e a cerca desenvolvia-se para norte até à Travessa do Guarda-Jóias, para nascente até à Calçada do Guarda-Jóias e para poente até à Calçada de Dom Vasco (atual Rua de Dom Vasco (FAVA, c. 1828).
Em julho de 1834, depois do convento ter sido extinto, a cerca - composta por horta em três tabuleiro com parreiras sobre pilares de pedra, algumas árvores de pevide e caroço, terra de semeadura com oliveiras, um tanque e algumas barracas - é avaliada e dividida (ANTT, Inventário de extinção [...], f. 0121-0122); e o terreno de sequeiro e oliveiras, situado a poente da igreja, é desanexado e arrendado pela Fazenda Nacional (FAVA, c. 1828; Enquadramento urbano 1834). A restante propriedade, na qual o edifício conventual fica integrado, mantém-se indivisa (excetuando a igreja) e é cedida à Inspeção das Obras Militares (ANTT, Inventário de extinção [...], f. 0077-0078). Este facto determinou que a evolução urbana das duas zonas se tenha processado de forma distinta (Enquadramento urbano 1834 e Enquadramento urbano 2015).
No terreno de sequeiro desencadeia-se um processo normal de urbanização (novas edificações e abertura de ruas). São construídas casas térreas em banda na frente nascente da Rua de Dom Vasco, que definia o limite poente da cerca, e no início da década de 1890 é aberta uma pequena rua particular paralela à Travessa do Guarda-Jóias (PINTO, Plantas 5D e 5E, maio 1909). Nesta rua, rasgada no interior da antiga cerca entre 1892-1893 (denominada Travessa Nova de Dom Vasco em Junho de 1922) são construídas duas correntezas de casas de 1/2 pisos (AML, Obra 18973, vol. 1, proc. 6047/DAG/PG/1891, p. 2).
As construções da Rua de Dom Vasco foram quase todas demolidas a partir de 1955, dando lugar uma frente de quarteirão com características morfológicas muito heterogéneas que ficou concluída na década de 1970; a Travessa Nova mantém uma imagem urbana coesa, próxima da que apresentava em final de Oitocentos (PINTO, Plantas 5D e 5E, maio 1909; Planta da Cidade de Lisboa, 1950; Planta da Cidade de Lisboa, 1970/1983).
Os limites da zona norte e nascente da cerca permaneceram inalterados até hoje, contidos no espaço do Hospital de Belém. O espaço começa a ser ocupado depois de 1911, com a construção de três enfermarias no topo norte da propriedade. Estas enfermarias foram demolidas por volta de 1970 para dar lugar a um novo edifício hospitalar, inaugurado em 1972 (Planta da Cidade de Lisboa, 1950; Planta da Cidade de Lisboa, 1970/1983).
Inventário de extinçãoO inventário de extinção do Convento da Boa Hora de Lisboa (128 fólios digitalizados) contém informação relativa aos autos de supressão e inventário, aos autos arrematação e aos autos de tomada de posse e avaliação.
A portaria de 26 de novembro de 1833 da Junta do Exame do Estado actual e Melhoramento Temporal das Ordens Regulares determina que o Padre Felix Joaquim Ribeiro se desloque ao convento da Boa-Hora, «e de acordo com o Deputado Thesoureiro desta Junta e o Fiscal da Fazenda Publica faça Avizo ao Desembargador Vigario Geral do Patriarcado, entre no dito convento fazendo authuar esta Portaria [...] e procederá a indagar na presença dos referidos, e de três testemunhas [...] quaes são as vantagens que a Religião, ou o Estado alcanção na conservação do referido Convento, se elle está na letra dos Decretos de 5 e 9 de Agosto do corrente anno para ser conservado, ou suprimido, e finalmente qual o numero de religiosos que formão a Comunidade formando uma Relação de seus nomes, aptidão, e qualidades, e serviços ou desserviços feitos à Religião, à Cauza da Rainha e da Nação Portugueza, ordenando que eles assignem seus próprios nomes na mesma Relação, e achando que o Convento não tem o numero de doze Religiosos Professos passe a formar o Inventário Geral. 1º Dos objectos de culto religioso que entregará ao pároco da freguesia do districto com a igreja do referido convento para que ele guarde o tabernáculo e as coisas santas, e responda não só pelos objectos religiosos que lhe são confiados em depósito, mas para que faça com que na igreja do convento se diga missa ao povo, assinando o referido pároco o mesmo inventário. 2º Da livraria, com expressa declaração de cada uma das obras. 3 - Dos objectos do comum do convento, de enfermaria, cozinha, cerca, e mais utensílios e mobília. 4º Dos objectos preciosos. 5º Finalmente do Cartório, títulos, dívidas activas e passivas, encargos pios, foros, censos, padrões de juros [...] e ordenando que um dos padres do referido convento, ou um só com procuração de todos, a qual será junta aos autos, sirva de cabeça de casal o inventariante assine o termo respectivo de juramento, e encerramento, e na falta ou ausência dos ditos padres, ou padre nomeará um curador que os represente [...], feito o que, e apensando o dito inventário aos autos da Portaria e mais diligências para a supressão mande extrair traslados de cada classe dos objectos escritos no inventário geral apenso [...] e de acordo com o Deputado Tesoureiro remeterá os autos e traslados à repartição por onde esta se expediu [...]» (f. 0011-0012).
A 1ª parte do inventário é dirigida pelo reverendo Félix Joaquim da Silva Ribeiro, coadjutor da paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, e a 2ª parte pelo reverendo João Carlos de Andrade, prior da Encarnação. O cabeça de casal inventariante é frei Manuel da Anunciação, prior do convento, e o escrivão é José da Silva Mendes.
As diligências começam a 7 de dezembro de 1833 com os termos de juramento do juiz comissário da supressão e do escrivão (f. 0010). Dos onze religiosos do convento, nove já tinham ido para o Convento do Grilo e um tinha «fugido para os rebeldes», pelo que o único residente era frei Manuel da Anunciação, prior do convento - que ficara a guardar o cenóbio (f. 0005 e 0015-0016). Para autuação da primeira parte da portaria procedeu-se à inquirição das 3 testemunhas sobre a manutenção do convento. Todos eles se mostraram favoráveis à supressão, embora fosse de grande utilidade que se realizasse missa ao domingo e nos dias santos, dada a grande distância a que ficava a igreja da paróquia (f. 0017-0019).
Os autos de inventário, realizados em duas fases (f. 0031-0059), decorrem entre 18 de dezembro de 1833 e 19 de abril de 1834 e incluem:
- Termo de juramento do representante do convento (f. 0032).
- Inventário de objetos de culto religioso (imagens do altar-mor, do altar do sacramento, do primeiro e do altar do lado do evangelho, do primeiro, segundo e terceiro altares do lado da epístola, do altar, da sacristia e do coro, painéis, objetos de prata, paramentos brancos, roupa da sacristia, utensílios de metal, ditos de pão), realizado a 18 de dezembro (f. 0033-0039).
Nesse mesmo dia é notificado o reverendo Fernando António de Carvalho Serra, prior da Paroquial de Nossa Senhora da Ajuda, para que lhe seja entregue a igreja e respetivos objetos (f. 0039). Segue-se termo de entrega e relação dos utensílios entregues (f. 0040-0042).
- Inventário da Livraria, com indicação do título da obra, nº de volumes e de exemplares (f. 0043-0044).
- Inventário de objetos do comum e cozinha (f. 0045).
- Inventário dos prédios urbanos e da cerca: «A casa do convento que consta de dois andares, com uma cerca que se compõe d´um pedaço de terra de lavoura com vinte e quatro pés d´oliveira, e d´hórta com algumas arvores de fruta» (f. 0045-0046). A seguir elencam-se uma propriedade de casas com dois andares na Rua do Jardim Botânico e várias barracas na mesma rua e na Rua das Mercês (f. 0046-0048).
- Inventário dos Fundos: um fundo de três contos de réis e um fundo de um conto e 700 mil réis (f. 0048-0049).
- Inventário de encargos pios e inventário de encargos civis (f. 0049). A cerca era foreira à Casa do Conde da Ega e pagava à Casa Real 7$846rs, proveniente de foros das barracas e da propriedade de casas que possuía no sítio de Belas.
- Não havia dívidas ativas nem passivas (f. 0049).
A 21 de dezembro o juiz supressor solicita orientações sobre a possibilidade de vender em leilão os objetos de reduzido valor, por ser mais dispendioso o seu transporte para depósito (f. 0105).
A 30 de dezembro de 1833, o solicitador da Fazenda Pública - António Germano Barreto de Pina, é de parecer que a louça de cozinha e outros objetos de pouco valor possam ser vendidos em leilão no convento. E refere que a biblioteca tem mil e tal volumes, quase toda trocada. E considera que se deve guardar em depósito as obras que se puderem apurar completas. Quanto à cerca, afirma ser indispensável que se proceda à sua arrematação (f. 0103-0104).
A 30 de dezembro de 1833 os objetos de prata (relicários, crucifixos, etc.) são entregues ao Tesoureiro da Junta do Exame (f. 0061-0062).
A 1ª parte do inventário (f. 0033-0050) é dada como terminada a 18 de Janeiro de 1834.
Nesse mesmo dia é autuada a portaria régia de 10 de janeiro, na qual se determina que se deve proceder à «almoeda» dos objetos inventariados de reduzido valor e em mau estado, pois «seria mais util a Fazenda Nacional darse-lhe destino do que inventariarem-se». E quanto à livraria, deve-se guardar em depósito para se lhe dar o destino que for mais útil (f. 0067).
Os autos de arrematação (f. 0065-0075) referem-se à venda de alguns móveis do convento. O leilão realizou-se no dia 30 de Janeiro na presença do Juiz Comissário e do solicitador da Fazenda Pública (f. 0071-0074).
Entretanto, a 30 janeiro 1834 tinha sido publicado edital a anunciar que, por ordem da Junta do Melhoramento, ficava suspensa a arrematação dos rendimentos das propriedades pertencentes ao convento da Boa-Hora, anunciada para os dias 22, 23 e 24 do corrente mês (f. 0075).
A 18 de abril a Junta nomeia um novo Juiz Comissário - João Carlos de Andrade, prior da Encarnação - para dar continuidade ao inventário (f. 0053), e as diligências para a supressão do convento continuam a 19 de abril de 1834, com o inventário do Cartório (f. 0055-0058). O inventário é dado como terminado nesse dia (f. 0058), e no termo de encerramento é referido que se fez a entrega dos itens descritos nos diferentes inventários, e ainda da quantia de quarenta e dois mil e quinhentos réis (parte em dinheiro e parte em metal), proveniente dos juros da quantia de um conto e setecentos mil réis, que têm a juro de 5% os herdeiros de Estevão António de Montes (f. 0058-0059). Esta informação é novamente referida no relatório geral das diligências relativas ao processo de supressão e inventário, elaborado pelo juiz supressor a 20 de abril (f. 0021-0024).
A 2 de junho de 1834, Jerónimo Gomes de Abreu, arrendatário dos terrenos da cerca, vem requerer esclarecimentos sobre quais as oficinas que fazem parte do contrato de arrendamento. Diz ele que são a adega e um ou dois quartos, atualmente a serem utilizados pelo prior, um deles com coelhos, e que lhe fazem falta a ele. O despacho determina que se dê ordem ao padre da Igreja da Boa-Hora para dar ao requerente a adega e os quartos referidos (f. 0109-0110).
Os autos de posse e de avaliação são realizados em julho de 1834, na sequência de um Aviso da Prefeitura da Estremadura, de 9 de julho, no qual se determina que o Provedor do 6º distrito (Luís Gomes de Abreu) tome posse para a Fazenda Nacional do suprimido Convento da Boa-Hora de Belém e mande fazer a avaliação dos bens imóveis para poder ter lugar a sua venda, devendo os respetivos autos serem remetidos à Prefeitura à medida que forem concluídas as diligências. Recomenda-se que nos autos se indiquem as atuais confrontações dos bens, seus rendeiros ou foreiros; e nas propriedades rústicas qual a sua avaliação da renda até ao final do corrente ano; bem como outra informação que se seja necessária para o conhecimento dos prédios, seu estado e rendimento (f. 0113-0116). Este aviso é acompanhado por uma relação dos bens que devem ser avaliados, emitida pelo Tesouro Público em 5 de julho, na qual se incluem o convento e suas oficinas, exceto a igreja, e a cerca (f. 0117-0118).
O auto de posse, por parte da Fazenda Nacional, do convento, cerca e restantes propriedades realiza-se a 12 de julho (f. 0125-0126).
Para fazer as avaliações são nomeados José Maria de Almeida (carpinteiro) e José Coelho (pedreiro). O convento e a cerca são avaliados a 19 de julho, pelo valor de três contos e duzentos mil réis (3:200$000) e um conto de réis (1:000$000) respetivamente (f. 0121-0122).
A 21 e 22 julho 1834 são avaliados os quatro prédios urbanos pertencentes ao convento, dois dos quais foram posteriormente vendidos (f. 0122-0124): uma propriedade de casas na Rua do Jardim Botânico foi avaliada em 600$000 e vendida em 12 de agosto de 1835 por 701$00; e uma propriedade na Rua das Mercês foi avaliada em 300$000 e vendida por 301$000 a 12 de novembro de 1835.
Novas descrições a avaliações do convento e da cerca são realizadas a 21 de setembro de 1835.
Assim, por ordem do Provedor do 6º distrito da capital, João António de Araújo (Delegado e Comissário Geral da Provedoria) desloca-se ao convento com o Dr. Joaquim Thomaz Valladares (Chefe da Repartição da Saúde) e o arquiteto José da Costa Sequeira, para examinarem o edifício e a cerca do extinto convento. Declaram que «era mister, todo o Edeficio, á excepção de quatro Sellas de cada lado, no Pavimento baixo, a Sacristia e offecinas que dão serventia para a Igreja: e da Cêrca toda a Horta e mais hum quadrilongo exterior, que inclue o tanque fixado nos lemites do vivo interior de hum Portal para huma parede indicada pela façe enterior da Sacrestia, parte pelo Norte com as terras do Guarda Joias, pelo Sul com o Edeficio, pelo Nascente com a Calçada de João Antonio Pinto, e pelo Poente com a porção de Terreno que fica pertencendo à Fazenda. E sendo ahi igualmente presente o Tenente Coronel de Engenheiros Lourenço Justeniano Lima, por ordem do Inspector das Obras Militares, e lhe fez sciente ficar a parte do Edeficio e da Cêrca mencionada à sua disposição, do que tomou posse praticando as solenidades de lei» (f. 0077-0078).
Em cumprimento do aviso do Governador Civil do Distrito de Lisboa, de 17 de setembro, João António de Araújo e os peritos Apolinário Nunes de Figueiredo e Manoel Affonço (avaliadores de prédios rústicos) deslocam-se ao edifício do extinto Convento da Boa Hora para fazerem a avaliação de um pedaço de terreno de sequeiro murado, com algumas oliveiras que pertence à cerca. O terreno é avaliado em 300$000 e a renda em 19:300$000. Em nota à margem está escrito que o terreno foi vendido a 7 de dezembro de 1835 por 400$000. «Tendo o terreno mil quinhentos e quarenta palmos, em quadrilongo; pelo Norte trezentos e cincoenta e seis palmos; confrontando com a Traveça do Guarda Joias; pelo Sul duzentos e sincoenta palmos; confrontando com a Rua direita da Boa-hora; pelo Nascente quatro sentos e quatro palmos confrontando com a Horta da Cerca do mesmo extincto Convento; pelo Poente quinhentos e trinta palmos confrontando com a Calçada de Dom Vasco» (f. 0059-0080).
No 3º auto, João António de Araújo, (Delegado e Comissário Geral da Provedoria) o Dr. Joaquim Thomaz Valladares (Chefe da Repartição da Saúde), o arquitecto José da Costa Sequeira e o tenente-coronel de Engenheiros Lourenço Justiniano Lima, assim como os peritos Apolinario Nunes de Figueiredo e Manoel Affonço (avaliadores de prédios rústicos) e António Joaquim do Cabo (mestre carpinteiro) e Theodozio Jozé Salvaterra (mestre pedreiro) procedem à avaliação, medição e marcação da horta e parte do terreno de sequeiro da cerca do convento. Na avaliação incluem-se as oficinas pertencentes à horta.
A horta e o terreno são avaliados em um conto e quinhentos mil réis; e as oficinas valem cento e quarenta mil réis, «tendo o Terreno e Horta referida mil trezentos e sessenta palmos em quadrilongo; pelo Norte quatro sento e quarenta palmos; confrontando com a Traveça do Guarda Joias, pelo Sul duzentos e vinte e oito palmos confrontando com Casas de Francisca Barbora Xavier pelo Nascente tresentos e oitenta palmos, confrontando com a Calçada do Guarda Joias, pelo Poente, tresentos e doze palmos, que confronta com o resto do Terreno de sequeiro pertencente á indicada Cerca, e fica sendo da Fazenda Nacional; e finda a medição foi a mesma Horta e Terreno escolhido demarcado por estacas de madeira» (f. 0084-0085).
Junto a estes autos encontram-se dois documentos relativos às condições de arrendamento da cerca do convento da Boa-Hora: o primeiro é de 4 de janeiro de 1834 e tem seis cláusulas. O arrendamento é feito por três anos e termina em dezembro de 1936. A renda anual é paga semestralmente na Junta ou no Tesouro Público, livre de tributos para a Fazenda. O rendeiro deve conservar em bom estado os aquedutos de água, tanques e mais oficinas. O rendeiro fica sujeito a fornecer a água necessária para os aquartelados ou outras pessoas que habitem o antigo convento.
O segundo é de 12 de março de 1834, tem nove cláusulas e chancela de aprovação pelo tribunal. Difere do documento anterior porque tem um artigo que refere o valor da avaliação em
24$000rs. E refere também que ficam para o rendeiro as oficinas urbanas pertencentes ao convento e que não estiverem a ser utilizadas pelo aquartelamento (f. 0089).
1755-11-01 O Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora em Lisboa fica totalmente destruído pelo terramoto e incêndio que se seguiu. 1756-01-16 Os religiosos da Boa-Hora mudam-se para uma barraca de madeira que o seu Vigário-geral manda construir no sítio do Espargal, em Belém, num terreno doado pelo rei. 1766-04-07 Início da construção da igreja conventual, dedicada a Nossa Senhora da Boa Hora e Santa Rita. A primeira pedra é colocada pelo Vigário Geral dos Agostinhos Descalços, frei António da Anunciação. 1769-01 Depois de ter aceitado ser padroeira do convento, a rainha D. Mariana Vitória consigna-lhe a quantia de 80$000rs anuais, a pagar em quatro partes de três em três meses. 1789-10-05 Abertura do Livro do Tombo do convento, por frei Leonardo da Conceição, para nele «se lançarem todos os juros, Capellas foros e pensoens que esta Caza privativamente tem adquirido desde sua fundação e adquirir para futuro.» 1819-09-01 Resolução da Junta do Melhoramento, dando como suprimidos vários conventos e hospícios de Agostinhos Descalços. Os religiosos do Convento da Senhora da Assunção (Sobreda da Caparica) ingressam na comunidade da Boa-Hora de Belém. 1821-05-10 Anunciado no suplemento do Diário da Regência que o Vigário Geral da Congregação dos Agostinhos Descalços decidira arrendar ou aforar, entre outros conventos extintos, o de Nossa Senhora da Assunção, que se unira ao da Boa-Hora. 1821-05-14 Anunciado no suplemento do Diário da Regência que quem quiser aforar ou arrendar o antigo Convento de Nossa Senhora da Assunção deverá dirigir-se ao Prior do Convento da Boa-Hora de Belém. 1823-07-14 Em Consulta da Comissão Eclesiástica da Reforma a D. João VI, é referido que o convento tinha doze religiosos e cinquenta celas habitáveis, quase todas ocupadas pela tropa. 1833-11-26 Portaria da Junta do Exame do Estado actual e Melhoramento Temporal das Ordens Regulares, nomeando o padre Féllix Joaquim Ribeiro para proceder às diligências relativas à supressão do Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém. 1833-12-07 Início das diligências para a supressão do convento. No cenóbio encontrava-se apenas um religioso - frei Manuel da Encarnação. Nove religiosos já tinham ido para o Convento do Grilo (LxConv006) e um tinha «fugido para os rebeldes». 1833-12-17 Início dos autos de inventário. 1833-12-18 Inventário dos objetos do culto religioso. 1833-12-18 Termo de entrega da igreja do convento ao pároco da freguesia de Nossa Senhora da Ajuda. 1833-12-30 Entrega dos objetos de prata ao tesoureiro da Junta. 1834-01-18 Conclusão da primeira parte do inventário. 1834-01-22 Leilão de alguns móveis do convento. 1834-03-12 Contrato com os termos de arrendamento da cerca. 1834-04-18 A Junta do Melhoramento nomeia o Juiz Comissário João Carlos de Andrade, prior da Encarnação, para dar continuidade ao inventário. 1834-04-19 Inventário do cartório e Termo de encerramento do inventário geral. 1834-05-03 A freguesia de Nossa Senhora da Ajuda é transferida para a Igreja da Boa-Hora. 1834-05-30 Decreto de extinção de todas as casas religiosas masculinas das ordens regulares e incorporação dos seus bens nos Próprios da Fazenda Nacional. 1834-07-12 Auto de posse, por parte da Fazenda Nacional, do convento, cerca e restantes propriedades. 1834-07-19 O convento é avaliado em 3:200$000rs e a cerca em 1:000$000rs. 1834-07-21 | 1834-07-22 Avaliação das quatro «propriedades de casas» pertencentes ao convento. 1834-08-19 Portaria do Tribunal do Tesouro Público sobre a venda e o arrendamento dos bens nacionais. Determina que o Perfeito da Província da Estremadura dê orientações para que se proceda à venda dos bens móveis e semi-móveis, exceto os objetos do culto divino, as peças de ouro e prata e as livrarias; e que arrende, por um ano, todos os prédios rústicos e urbanos da Fazenda Nacional. 1834-12-18 Venda de uma propriedade de casas na Rua do Jardim Botânico por 800$000rs. 1835-02 O Batalhão Açoriano já se encontra instalado no edifício do antigo convento. 1835-08-12 Venda de uma propriedade de casas na Rua do Jardim Botânico por 701$000rs (valor da avaliação 600$000rs). 1835-08-29 O Inspetor dos Quartéis e Obras Militares informa o Ministério da Guerra de que se encontram concluídas as obras de adaptação do espaço do Quartel da Guarda de Corpos em Belém para acolher provisoriamente o Hospital Regimental. 1835-09-12 Venda de uma das propriedades da Rua das Mercês por 301$000rs (valor da avaliação 300$00rs). 1835-09-21 Vistoria e tomada de posse de parte do edifício e da cerca pela Inspeção das Obras Militares, representada pelo Tenente Coronel de Engenheiros Lourenço Justeniano Lima. 1835-11-02 As obras de adaptação do antigo convento a hospital militar são orçamentadas em três contos e quarenta mil réis (3:040$000). 1889-05-18 Por deliberação camarária, o troço da Travessa da Boa-Hora fronteiro ao antigo convento passa a denominar-se Largo da Boa- Hora (Edital de 8 de junho de 1889). 1890-01 Abertura do Hospital Regimental da Infantaria nº1 nas antigas instalações do Convento da Boa-Hora de Belém. 1890-06 O Hospital Regimental da Infantaria nº1 passa a designar-se Hospital de Campanha Imobilizado. 1899 O então designado Hospital Reunido de Belém constitui-se pela primeira vez como instituição hospitalar autónoma. A sua atividade clínica passa a especializar-se no domínio das doenças infecto-contagiosas. Nos primeiros anos do século XX, a sua designação passa a Hospital Militar de Belém. 1904-09-22 Deliberação da CML para que se solicite ao Ministério da Guerra a cedência do terreno contíguo ao Hospital Militar, junto à Calçada da Boa Hora. O município pretende instalar uma linha de elétrico nesta via mas precisa de proceder ao seu alargamento. 1908-01-09 Apresentada em sessão de Câmara a informação relativa à proposta da Direção Geral da Secretaria da Guerra para que, em troca da cedência de 242m2 do Hospital Militar da Boa-Hora para alargamento da rua, o município mande reparar as fachadas do hospital. O terreno é avaliado em 242$000rs e as obras em 18$000rs. 1922-06-02 Por deliberação camarária, a rua particular aberta na frente nascente da Rua de Dom Vasco passa a denominar-se Travessa Nova de Dom Vasco. 1926 O hospital perde a sua autonomia e passa a designar-se Hospital Militar Auxiliar, destinando-se exclusivamente ao tratamento de doenças infetocontagiosas. 1972 Construção de um bloco hospitalar com capacidade para 250 camas no topo nascente da antiga cerca conventual para substituir as velhas enfermarias instaladas no antigo convento. 1990 O hospital readquire a designação de Hospital Militar de Belém (HMB). 1998 Conclusão dos trabalhos de execução da nova cobertura da igreja. 2006 O Hospital Militar de Belém tem três serviços de internamento (infeciologia, oncologia médica e pneumologia) e 220 camas. 2012-08-16 Decreto-Lei nº 187/2012, do Ministério da Defesa Nacional, cria o Polo de Lisboa do Hospital das Forças Armadas (HFAR) e extingue o Hospital da Marinha, o Hospital Militar Principal, o Hospital Militar de Belém e o Hospital da Força Aérea, sendo as respetivas atribuições e competências transferidas para o Polo de Lisboa do HFAR. 2012-10-22 A Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura aprova a proposta de classificação da igreja e do antigo Convento de Nossa Senhora da Boa Hora como Monumento de Interesse Público. 2013-04-05 2013 Publicada em Diário da República a Portaria 177/2013, que classifica a Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Boa Hora como monumento de interesse público. 2013-04-05 Publicação da Portaria nº 177/2013, que classifica os edifícios da Igreja e do Convento de Nossa Senhora da Boa Hora como monumento de interesse público. 2013-05-17 Despacho nº 7002/2013, do Ministério da Defesa Nacional que determina a criação do Campus de Saúde Militar, sediado no Lumiar e estabelece um cronograma para o processo de fusão hospitalar. Até 30 de Abril já se tinha procedido ao encerramento da atividade no antigo Hospital Militar de Belém (HMB). 2013-11-26 Em sessão da Assembleia Municipal de Lisboa é apresentada uma proposta do Bloco de Esquerda (Moção nº 6) «para instalação de equipamentos sociais para usufruto da população» no edifício do antigo Hospital Militar de Belém. 2017-07-12 Anúncio nº 89/2017, sobre o projeto de decisão relativo à fixação de uma zona especial de proteção da Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora, na Ajuda.
Material gráficoCartografiaManuscritoMonografiaElectrónicoPeriódico | Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Fachada sul | Alçado da Igreja. DPC_20140423_118E. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Fachada sul | Alçado do Convento. DPC_20140423_122. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Perspectiva aérea. DPC_20140423_077E. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Cobertura Igreja. DPC_20140423_090. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Fachada nascente. DPC_20140423_001. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Fachada norte. DPC_20140423_064. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém| Interior | Pátio. DPC_20140423_042E. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Pátio. DPC_20140423_036. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Pátio. DPC_20140423_021. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Pátio | Galeria 1º andar. DPC_20140423_027. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Corredor | Piso térreo. DPC_20140423_006. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Corredor | Piso térreo. DPC_20140423_007. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Corredor | Piso térreo. DPC_20140423_010. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Entrada. DPC_20140423_024E. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Escada de acesso ao Hospital Militar, 1890. DPC_20140423_013E. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Antiga portaria do convento. DPC_20140423_097. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Nave da Igreja. DPC_20140423_098. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Coro Alto. DPC_20140423_112. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Capela-mor. DPC_20140423_106E. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Pormenor da decoração da abóbada (pintura em grisaille). DPC_20140423_113. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Abóbada da nave. DPC_20140423_101. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Coro Alto. DPC_20140423_102. © CML | DMC | DPC | José Vicente 2014. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Azulejos. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Azulejos. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Interior | Igreja | Azulejos. |
| Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Belém | Exterior | Hospital Militar de Belém | Fachada sul. B095358. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa. |
Rita Mégre - 2015-10-14 Última atualização - 2020-09-27
| Imagens: 26
|