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Da cidade sacra à cidade laica. A extinção das ordens religiosas e as dinâmicas de transformação urbana na Lisboa do século XIX

(1/98)

Designação

Mosteiro de São Bento da Saúde

Código

LxConv025

Outras designações

Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa; Convento de São Bento da Saúde; Convento de São Bento

Morada actual

Praça de São Bento

Sumário

Como o Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela, primeira casa religiosa da Ordem de São Bento em Lisboa se tornara exígua, os monges iniciaram em 1598, por diligências de frei Pedro Quaresma, a construção de um novo cenóbio segundo projecto de Baltazar Álvares. O novo mosteiro, com evocação de São Bento da Saúde, foi edificado num local mais aprazível e de maior acessibilidade aos habitantes da cidade. A comunidade monástica transferiu-se para o novo mosteiro em 1615, ficando o anterior a funcionar como noviciado.

Após o Terramoto de 1755, catástrofe que não casou grandes danos no edifício, as suas instalações foram dividas com a Patriarcal de Lisboa, a Academia Militar e o arquivo da Torre do Tombo.

Em 1834, no âmbito da reforma eclesiástica, por decreto de D. Pedro IV, as Cortes (Câmara dos Pares e Deputados) passam a funcionar nas dependências do Mosteiro de São Bento da Saúde. Com sucessivas obras de adaptação do final do séc. XIX e início do séc. XX, principalmente da responsabilidade de Joaquim Possidónio da Silva e Miguel Ventura Terra, o edifício é completamente remodelado e adaptado aos novos fins. A partir de 1975 passou a denominar-se de Assembleia da República. O Arquivo Nacional Torre do Tombo deixou as salas do edifício em 1990, ano em que passou para as novas instalações no Campo Grande.

Caracterização geral

Ordem religiosa

Ordem de São Bento

Género

Masculino

Data de construção

1598

Autoria

Baltazar Álvares - Arquitecto

Tipologia arquitetónica

Arquitetura religiosa\Monástico-conventual

Componentes da Casa Religiosa - 1834

Mosteiro
Claustro: 2
Igreja
Cerca de recreio e produção

Caracterização actual

Situação

Igreja - Vestígios
Convento - Existente
Cerca - Parcialmente urbanizada

Cronologia

1598 Início da construção do segundo mosteiro beneditino de Lisboa
1615 Transferência dos monges do Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela para o novo cenóbio.
1816-08-20 A Câmara dá uma esmola de oitenta mil réis aos religiosos do mosteiro «em vista das necessidades em que estavam».
1823-08-26 Anunciado na Gazeta de Lisboa que a Herdade de São Bento do Porto, em Alcácer do Sal, pertença do Mosteiro de São Bento, está para arrendar.
1826-09-11 Anúncio relativo ao arrendamento da Quinta de São Bento, em Beirolas, pertencente ao Mosteiro de São Bento da Saúde.
1828-12-31 A 10ª Companhia de Voluntários Realistas, comandada por D. Tomás da Cunha, realiza uma missa em honra de D. Miguel na igreja do Mosteiro de São Bento.
1830-04-18 D. Miguel, enquanto protector da Real irmandade de Nossa Senhora das Angústias e Soledade, sita na igreja do Mosteiro de São Bento, está presente na Festividade da Santíssima Virgem, sendo recebido pelo D. Abade frei João de Santa Rita.
1830-05-22 Aviso régio de aprovação da Pauta da nova Mesa da Real Irmandade de Nossa Senhora das Angústias e Soledade, sita na igreja do Mosteiro de São Bento.
1830-06-22 Tomada de posse da nova Mesa da Real Irmandade de Nossa Senhora das Angústias e Soledade.
1830-08-02 Anunciado na Gazeta de Lisboa que quem quiser alugar umas casas com quintal na Travessa de Santa Escolástica, 31-34, e um terreno na Travessa de São Plácido, entre os nºs 13 e 16, tudo foreiro ao Mosteiro de São Bento, deverá dirigir-se a esta casa religiosa e falar com frei José de Santa Rita.
1831-08-02 Anunciado na Gazeta de Lisboa de que irá ser posta à venda uma casa nobre na Rua de São Bernardo (junto à Calçada da Estrela, 74), que pertencia à falecida condessa das Galveias e que paga 14$120 réis de foro ao Mosteiro de São Bento da Saúde.
1831-08-27 D. Miguel visita as 10ªs companhias da Guarda Real da Polícia, e de Voluntários Realistas Urbanos, ambas aquarteladas no Mosteiro de São Bento.
1832-04-30 Dão entrada na Comissão estabelecida na Casa da India, donativos para a aquisição de capotes e outros objectos para os Corpos de voluntários Realistas e de milícias. Da lista de doadores faz parte o Abade do Mosteiro de São Bento, com a quantia de 20$000 réis.
1833-09-04 Na lista de poços da cidade de Lisboa mandados examinar pela Conta do Administrador da Real Fábrica das Sedas e Obras das Águas Livres, na cerca de São Bento são identificados 3 poços de água salobra: um com 30 palmos de profundidade de água e 16 de diâmetro; outro com 10 palmos de profundidade de água e 15 de diâmetro; e outro com 44 palmos de profundidade de água e 15 de diâmetro.
1834-05-30 Decreto de extinção de todas as casas religiosas masculinas das ordens regulares e incorporação dos seus bens nos Próprios da Fazenda Nacional.
1834-08-19 Portaria do Tribunal do Tesouro Público sobre a venda e o arrendamento dos bens nacionais. Determina que o Perfeito da Província da Estremadura dê orientações para que se proceda à venda dos bens móveis e semi-móveis, excepto os objetos do culto divino, as peças de ouro e prata e as livrarias; e que arrende, por um ano, todos os prédios rústicos e urbanos da Fazenda Nacional.
1835-08-12 Venda em hasta pública de 5 lotes - Rua de São Bento, 1-7, 8-12, 13-19, 20-24 e 29-42 (14 lojas), arrematados por 53.230$000.
1835-09-11 Venda em leilão de várias casas e parte da cerca do mosteiro. O prédio rústico foi arrematado por 10.250$00.
1868-01-13 A Câmara aprova que se peça ao Governo a cedência de um frontal de mármore preto arrancado duma capela mortuária da igreja do convento, na posse da Irmandade do Santíssimo Sacramento da freguesia de São José, para ser colocado na nova igreja do cemitério dos Prazeres.
1876-06-16 Termo de expropriação amigável, por utilidade pública, de uma parte da cerca do extinto Mosteiro de São Bento, assinado por Joaquim Machado Cayres, proprietário do terreno.
1878-05-04 Inauguração do monumento à memória de José Estevão Coelho de Magalhaes, no Largo de São Bento.
1881-12-19 Por proposta da Comissão de Obras e Melhoramentos Municipais, o largo onde está construído o novo mercado de São Bento passa a designar-se Praça de São Bento.
1887-02-07 Em sessão de câmara é remetido à Comissão de Obras, para parecer, o processo relativo ao legado de Joaquim Machado Cayres, de uma porção de terreno da extinta cerca do Convento de São Bento, e à conclusão da rua que irá ligar a parte construída da Rua da Imprensa com a Rua dos Ferreiros e as travessas de Santo Amaro e São Plácido.
1887-12-26 É aceite em sessão de câmara o legado de Joaquim Machado Cayres da parte da cerca do extinto convento necessária para duas ruas de 12m de largura. uma entre a Calçada da Estrela e a Travessa de Santo Amaro, e outra entre a primeira e a Rua dos Ferreiros à Estrela. De acordo com o legado, a Câmara devia dar início às obras dentro de dois anos após a morte do testador e concluí-las dentro de 3 anos.

Fontes e Bibliografia

Material gráfico

GAMEIRO, Alfredo - Palácio das Cortes. Museu de Lisboa [1903].

Grande vista de Lisboa. Museu Nacional do Azulejo.

MICHELLIS, Alexandre de - Palacio das Cortes em Lisboa. Museu de Lisboa [1843/1844].

PEREIRA, Luís Gonzaga - Igreja, e Convento dos monges de S. Bento em Lisboa. Museu de Lisboa [05-07-1835].

SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Lisboa antes do Terramoto de 1755. Museu de Lisboa [1955-1959]. 17 tabuleiros, 10.260 x 4060mm, esc. 1: 500.

Audiovisual

- Levantamento laser scanning do claustro do Mosteiro de São Bento da Saúde. Lisboa: CMLisboa, Agosto 2014. (00:43 mn) .

- Levantamento laser scanning do claustro do Mosteiro de São Bento da Saúde - galeria do claustro. Lisboa: CMLisboa, Agosto 2014. (00:51) .

Cartografia

CARVALHO, José Monteiro de; - [Livro das plantas das freguesias de Lisboa]. Códices e documentos de proveniência desconhecida, nº 153, Planta da freguezia de Santa Izabel, f. 16 (imagem 0046).

[Enquadramento urbano | Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa, 1834].

[Enquadramento urbano | Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa, 2015].

Manuscrito

[Consultas da Comissão Eclesiástica da Reforma]. [Manuscrito]1822-1823. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério dos Negócios Eclesiásticos e Justiça, Maço 268, n.º 4, Caixa 214.

Inventário de extinção do Convento de São Bento da Saúde de Lisboa. [Manuscrito]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Convento de São Bento da Saúde de Lisboa, Cx. 2224.

Inventário de extinção do Hospício de Nossa Senhora do Desterro de Lisboa. [Manuscrito]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Hospício de Nossa Senhora do Desterro de Lisboa, Cx. 2225, f. 0174-0176.

Termo de expropriação amigável. [Manuscrito]1876-06-16. Arquivo Municipal de Lisboa - Núcleo do Arco do Cego. PT/AMLSB/CMLSB/AGER-N/02-02/00064.

Monografia

Actas das Sessões da Câmara Municipal de Lisboa no anno de 1887. Lisboa: Imprensa Democrática, 1887.

Archivo Municipal de Lisboa. 1868. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, Primeira série, nº 418, p. 3402.

Archivo Municipal de Lisboa. 1878. Lisboa: Typographia do Futuro, Segunda serie, p. 341.

Archivo Municipal de Lisboa.1881. Lisboa: Typographia do Futuro, Segunda serie, p. 656.

BRITO, Gomes de - Lisboa do Passado. Lisboa de nossos dias. Lisboa: Livraria Ferin, 1911, p. 117.

Collecção de Contas da Commissão Interina da Junta do Crédito Público até 10 de Setembro de 1836. Lisboa: Imprensa Nacional, [s.d.].

CONCEIÇÃO, Fr. Cláudio da - Gabinete Histórico que sua Magestade Fidelissima, o Sr. Rei D. Miguel [...] oferece. Desde Janeiro de 1755 a Dezembro de 1758, Tomo XIII. Lisboa: Impressão Régia, 1829, pp. 68 e 122-126.

História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, tomo II, 1972, pp. 23-34.

OLIVEIRA, Eduardo Freire de - Elementos para a história do município de Lisboa. Lisboa: Typographia Universal, 1ª parte, tomo II, 1887, p. 383.

PORTUGAL, Fernando; MATOS, Alfredo de - Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa, 1974, pp. 140 e 308.

SARAIVA, José - Situação dos edifícios de institutos religiosos ao serviço do estado e das corporações, Volume I. Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, 1941.

Periódico

BARATA, Martins (1899-1970); REBELO, Domingos (1891-1975) - O Palácio de S. Bento - Assembleia Nacional. Olisipo - Boletim do Grupo Amigos de Lisboa. Lisboa: Editorial Império, Limitada. Ano XIII, nº 50, abril de 1950, pp. 62-67.

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Gazeta de Lisboa, nº 11. Lisboa: Na Impressão Régia, [13 de Janeiro de 1829], pp. 43-44.

Gazeta de Lisboa, nº 148. Lisboa: Na Impressão Régia, [25 de Junho de 1830], p. 599.

Gazeta de Lisboa, nº 180. Lisboa: Na Impressão Régia, [2 de Agosto de 1831], p. 734.

Gazeta de Lisboa, nº 180. Lisboa: Na Impressão Régia, [2 de Agosto de 1830], p. 730.

Gazeta de Lisboa, nº 2. [8 de Janeiro de 1756], p. 14.

Gazeta de Lisboa, nº 212. Lisboa: Na Impressão Régia, [8 de Setembro de 1831], p. 862.

Gazeta de Lisboa, nº 213. Lisboa: Na Impressão Régia, [11 de Setembro de 1826], p. 840.

Gazeta de Lisboa, nº 94. Lisboa: Na Impressão Régia, [22 de Abril de 1830], pp. 381-382.

LEITÃO, Joaquim - Para a história do Palácio de S. Bento. Olisipo - Boletim do Grupo Amigos de Lisboa. Lisboa: Imprensa Libanio da Silva. Ano V, nº 19, Julho de 1942, pp. 129-134.