Da cidade sacra à cidade laica. A extinção das ordens religiosas e as dinâmicas de transformação urbana na Lisboa do século XIX

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Designação
Convento de Nossa Senhora do Livramento

Código
LxConv044

Outras designações
Convento de Nossa Senhora do Livramento de Lisboa; Convento da Santíssima Trindade

Morada actual
Rua Prior do Crato, 68-72

Sumário
O Convento de Nossa Senhora do Livramento teve origem numa ermida fundada em 1610 por Rodrigo Homem de Azevedo, como agradecimento do voto religioso que o libertou da prisão onde se encontrava por ter apoiado D. António, Prior do Crato, na disputa do trono português contra Filipe II de Castela. Junto à ermida, localizada próximo da ponte de Alcântara, mandou edificar a sua residência e outras construções. O templo, que tinha no altar-mor a imagem da Senhora do Livramento, e os edifícios foram doados em 1677 à Ordem da Santíssima Trindade. Os Trinitários tomaram posse efectiva dos bens em 1686 e no ano seguinte a residência foi elevada a convento.

A igreja foi local de grande devoção pelos milagres que a população da cidade atribuía à interceção da imagem de Nossa Senhora do Livramento, sobretudo no salvamento de naufrágios. A Família Real também lhe dedicou grande devoção, nomeadamente na cura de doenças, obsequiando-a com doações e festividades.

O convento foi extinto em 1834 mas a igreja manteve-se aberta ao culto até cerca de 1896. As dependências conventuais foram demolidas em finais do século XIX e substituídas por novas construções. O edifício da igreja foi adquirido pela Caixa Geral de Depósitos em 1919 para instalação de uma agência bancária, e a fachada e os interiores foram alterados em 1921, com base num projecto do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro.

Caracterização geral


Ordem religiosa
Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos

Género
Masculino

Fundador
Rodrigo Homem de Azevedo - Agradecimento de benesse recebida

Data de construção
1686-05-10

Tipologia arquitetónica
Arquitetura religiosa\Monástico-conventual

Componentes da Casa Religiosa - 1834
Convento
Igreja
Cerca de recreio e produção

Tipologia de uso
Atual - Civil\Serviços

Caracterização actual


Situação
Convento - Demolido(a)
Igreja - Vestígios
Cerca - Parcialmente urbanizada

Propriedade
Caixa Geral de Depósitos

Acesso
Público\Livre

Descrição


Enquadramento histórico
Após a anexação das duas coroas ibéricas os ministros do rei mandaram prender os que se opunham a D. Filipe II por suspeita de inconfidência. Entre eles encontrava-se Rodrigo Homem de Azevedo, cuja mulher, Jerónima Jorge, muito devota da Virgem, pediu a sua intercepção na libertação do marido. Conta frei Agostinho de Santa Maria (SANTA MARIA, I, 1707, p. 171) que durante a Novena que dedicava à Virgem esta lhe aparecia em sonho todas as noites, sossegando-a quanto à futura libertação do marido e pedindo que, por gratidão, lhe erigisse um templo. Rodrigo Homem de Azevedo foi considerado inocente e mandado libertar pelo Cardeal Alberto. Tendo conhecimento dos sonhos de sua mulher mandou fazer uma imagem da Virgem na mesma forma como esta lhe aparecera, à qual deu o título de Senhora do Livramento, e mandou erigir um oratório enquanto não se edificava a igreja.

A época conturbada em que se vivia e a morte de Jerónima Jorge contribuíram para adiar a construção do templo. Rodrigo Homem de Azevedo casou segunda vez com Dona Maria de Alcaçova e, restabelecido monetariamente, escolhe um local junto à ponte de Alcântara para edificação da igreja. O sítio "era naquelle tempo aspero monte, e tosco rochedo; mas agradavel pela pureza dos ares, visinhança do mar, e recreio da vista " (S. JOSÉ, I, 1789, p. 309. O terreno pertencia a Francisco Poderoso, que o vendeu tendo em atenção o fim a que se destinava. Deu-se início à construção - uma capela de planta centralizada - com tanta brevidade que as paredes por mal assentadas não conseguiram sustentar a abóbada. O fundador manda construir um templo com nova planta e de modo mais robusto, e a obra inicia-se agora de jornal e não de empreitada como a anterior (História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 172). Junto à capela mandou edificar casas para sua residência, muros e outras construções. Sendo a despesa maior do que esperava foi necessário vender peças de ouro e prata, duas escravas e umas vinhas (S. JOSÉ, I, 1789, p. 309). Concluído em 1610, o templo recebeu com grande pompa a imagem da Senhora do Livramento que havia sido levada para a igreja de São Paulo, donde saiu em procissão por ruas ornadas de tapeçarias e grande afluência da população (História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 172; S. JOSÉ, I, 1789, pp. 309-310).

Após a morte de Rodrigo de Azevedo a capela e restantes edifícios passaram para um neto de nome Luiz de Sousa Ferraz que determinou entregar o culto a uma ordem religiosa. Não o conseguiu fazer em vida mas recomendou-o em testamento à sua tia D. Margarida de Alcaçova (Idem p. 310). Esta, desejando melhorar o culto e devoção da Senhora do Livramento na dita ermida, deliberou entregá-la a uma ordem religiosa da cidade de Lisboa. Não sabendo sobre qual decidir "fez muitas cedulas de papel, pondo em cada huma dellas o titulo de huma Religiam, e lançando todas as cedulas em hum vaso, do qual mandou tirar huma por hum innocente minino, e saindo a sedula que tirou com o titulo da Sanctissima Trindade, e tornando outra vez a meter a cedula no vaso e resolvidas todas tornou a tirar o mesmo innocente outra cedula que sahio segunda vez com o mesmo titulo da Trindade. E ha quem affirme que se repetio terceyra vez a mesma deligencia, com que ficou entendendo a devota senhora, neta do padroeyro Rodrigo Homem, que a Senhora se queria servir na sua casa dos Religiosos da Ordem da Sanctissima Trindade" (História dos Mosteiros..., II, 1972, pp. 172-173; S. JOSÉ, I, 1789, p. 310). A escritura de doação da ermida, casas e sítio com outras propriedades foi celebrada com os frades a 2 de Abril de 1677 e incluía a obrigação de missa quotidiana pela alma do seu testador e ascendentes (ANTT, Hospital de São José, Livro 30 - Registo de instrumento de doação e contrato de constituição de padroado de Luiz de Sousa Ferraz e Margarida de Alcaçova).

A doadora morreu a 29 de Julho de 1679 e os trinitários tomaram posse dos bens, mas não instituíram logo o convento. Durante alguns anos residiram no local apenas dois ou três religiosos, tendo o superior o título de Presidente (História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 173).

A casa da Ordem da Santíssima Trindade foi elevada a convento a 10 de Maio de 1686 e no ano seguinte, achando-se em Roma para o Capítulo Geral de 1687, o Padre Provincial Frei José de Azevedo conseguiu decreto para que o convento fosse oficializado pela Ordem e o superior tivesse o nome de ministro.

O Convento de Nossa Senhora do Livramento aparece na história da Ordem da Santíssima Trindade como uma doação, sem grande relevo na acção que caracterizava os religiosos desta ordem - o resgate dos portugueses cativos em terras norte africanas. No entanto, desde cedo foram escolhidos os religiosos de maior relevo na instituição para ministros do convento do Livramento. Basta citar os dois primeiros: Frei José de Melo, pregador geral da Ordem, e Frei Rodrigo de Lencastre, redentor geral de cativos. Em 1710 tomou posse como ministro Frei Simão de Brito, possivelmente o redentor de cativos mais importante do século XVIII.

Em 1698, Jerónimo de Oliveira, boticário de Lisboa, tomou o hábito no convento de Nossa Senhora do Livramento com o nome de Frei Jerónimo de Jesus, doando os seus bens para reedificar a igreja que depois ornou com pinturas e entalhados. Anos antes já havia instituído uma capela no convento, em seu nome e de sua mulher Madalena de Amburgo, com a obrigação de duas missas quotidianas pelo cômputo de quatro mil cruzados (ANTT, Hospital de São José, Livro 30 - Registo da instituição da capela de Jerónimo de Oliveira e Madalena de Amburgo, 6 de Março de 1687). A igreja reconstruída era de uma só nave com três capelas.

A imagem de Nossa Senhora do Livramento passou logo a ser alvo de grande devoção, tanto da população do reino como das terras conquistadas, assim como da família real, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres, nomeadamente relacionados com o livramento de naufrágios.

Duas notícias da Gazeta de Lisboa atestam a devoção à imagem de Nossa Senhora do Livramento. A 22 de Fevereiro de 1738, devido a uma prolongada estiagem, os religiosos trinitários levaram em procissão a imagem de Nossa Senhora do Livramento implorando por chuva, e quando chegaram à Pampulha o vento começou a soprar e caiu tanta água que a procissão teve que se recolher na igreja de Santo Alberto (Gazeta de Lisboa, nº 13, 27 Março 1738). Outra intervenção milagrosa esteve relacionada com o nascimento da quarta filha de D. José I e de D. Mariana Vitória, a 25 de Julho de 1746. Na Gazeta de Lisboa atribuía-se o feliz acontecimento a ter "Deus ouvido as frequentes preces que a este fim se fizeram em todas as communidades d´esta Corte, e com especialidade a dos religiosos Trinos de N. Snrª do Livramento, de Alcantara, cuja milagrosa imagem Sua Alteza visitou varias vezes no tempo da sua prenhêz, e mandou alimiar no seu throno desde as primeiras preces até o seu feliz parto" (Gazeta de Lisboa, nº 39, 27 Setembro 1746).

Na época em que frei Jerónimo de São José escreve (finais do século XVIII), a família real dirigia-se à igreja todos os sábados, mandava celebrar uma festa todos os anos em Novembro, tratava de toda a cera necessária e concedia avultadas esmolas. Assistia publicamente à missa da tribuna régia, mandada edificar na capela-mor. No caso de doenças graves a imagem da Virgem era conduzida ao Paço Real num coche, e outras vezes só o seu Menino Jesus (S. JOSÉ, I, 1786, p. 311).

O Terramoto de 1755 não causou grande dano no convento e os estragos foram logo reparados. Como a rainha D. Mariana Vitória era muito devota da imagem de Nossa Senhora do Livramento, ordenou que prontamente se fizesse na cerca uma igreja de madeira onde se celebrassem os ofícios divinos, e os religiosos também estiveram abrigados em barracas improvisadas, enquanto duraram as obras do convento (PEREIRA e RODRIGUES, IV, 1909, p. 258; CASTRO, III, 1763, p. 424).

A devoção por parte da Casa Real manteve-se por sucessivos reinados. A 21 de Junho de 1777 organizou-se uma grande procissão entre o Palácio da Ajuda e a igreja para a devolução da imagem da Virgem, que havia sido conduzida ao Paço por doença de D. José I, e a rainha ofertou a imagem com um novo manto e avultadas esmolas. A devoção de D. Mariana Vitória era tão grande que em 1780, em visita ao seu irmão, Carlos III de Espanha, fez-se acompanhar por um capelão que transportou a imagem do Menino Jesus. Em testamento deixou à imagem da Virgem uma riquíssima joia de peito, no valor de 10 contos de réis, e ao Menino Jesus outras peças de grande valor.

A enorme devoção votada a este convento é testemunhada também pelo grande número de pessoas que escolheu a igreja para seu jazigo. Citam-se, a título de exemplo, D. Joana Bernarda de Lencastre, mulher de João de Saldanha, vice-rei da Índia; o deão da Sé, João Carlos César, da casa dos Condes de Sabugosa e outros familiares, e pessoas da Casa dos condes de Alva, dos condes da Ponte e muitos outros fidalgos (S. JOSÉ, I, 1789, pp. 314-315).

As pormenorizadas descrições do Convento de Nossa Senhora do Livramento por frei Jerónimo de São José e outros autores seus contemporâneos terminam nas últimas décadas do século XVIII, pelo que pouco sabemos sobre o que aconteceu nos anos seguintes. Os trinitários fazem o seu último resgate geral de cativos em 1778 sob o patrocínio da rainha D. Maria I. A partir desta data os resgates passam para o foro da diplomacia e a Ordem vê-se assim sem a função para que fora criada. Pelos livros do cartório do Convento da Trindade sabemos que continuaram a receber bens das terras aforadas mas que se dedicaram apenas ao apoio religioso a partir das suas igrejas. Face a esta situação o convento poderá ter entrada em alguma decadência, principalmente após a morte de D. Mariana Vitória, em 1781.

Em 26 de Novembro de 1833, com a portaria expedida pela Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Regulares encarregada da Reforma Eclesiástica, deu-se início ao processo de inventariação e avaliação dos bens do Convento de Nossa Senhora do Livramento, no sentido de decidir sobre a sua manutenção ou encerramento. Na altura só havia dois religiosos no convento - frei António Correia e frei Luís da Fonseca - e uma parte do edifício já estava ocupada por uma Companhia da Guarda Municipal de Lisboa, dependente do Ministério do Reino para todos os assuntos respeitantes à segurança pública.

Em 1884, Manuel José Begarim pede autorização junto da Câmara para fazer alterações na sua casa da Rua do Livramento, 94 (actual nº 72), situação que demonstra que os edifícios já haviam sido alterados para dar lugar a prédios de habitação (AML, Obra nº 8036, processo nº 272).

A igreja manteve-se aberta ao culto pelo menos até 1896. No ano seguinte uma carta anónima dirigida ao engenheiro diretor dos Edifícios Públicos, Pedro Romano Folque, chamava a atenção para o estado "quasi em ruinas da igreja", que se encontrava fechada ao culto há mais de um ano, e "que pela sua antiguidade merece bem conservar-se". Esta denúncia foi encaminhada para a 9ª secção para informar e fazer a estimativa das obras. Na memória descritiva, o arquiteto Domingos Parente da Silva refere que "a Egreja encontra-se em mau estado de conservação tornando-a impossivel de n´ella se praticarem actos religiosos, necessitando portanto das reparações abaixo mencionadas e que constam do seguinte: 1º Elevação do piso na parte comprehendida entre a porta e o corpo da Egreja de maneira que o seu piso fique acima do nivel da rua e portanto ao abrigo das inundações; 2º Fazer desaparecer a escada que se encontra no corpo da Egreja do lado do envangelho e que da communicação para o coro; 3º Edificar ao lado da porta do guarda-vento uma outra escada para serventia do referido coro; 4º Fazer um pulpito volante para substituir os actuaes que não tem serventia e que se lhe não pode dar por se não poder construir uma escada de caracol na parede que tem só 0,75 de grosso; 5º Assoalhar e vigar todo o piso da Egreja, coro, tribuna e corredor que dá acesso á mesma tribuna; 6ºChapar e rebocar as paredes e caiar os tectos dos corredores e paredes da escada; 7º Levantar o telhado e desmanchar o madeiramento que está em mau estado; 8º Construcção de novo madeiramento e cobertura com telha Progresso; 9º Limpar e concertar a cantaria da fachada principal; 10º Pintar portas e balaustres; 11º Restauração do tecto da Egreja, de duas capellas e da capella-mor; 12º Construcção d´um novo throno no camarim"(ANTT, MOP, Processo nº 746 - Obras da Ermida de Nossa Senhora do Livramento em Alcântara, memória descritiva e orçamento, 22 Junho 1898). As obras foram orçamentadas em dois contos e cinquenta e oito mil réis (2.058$000).

A resolução régia de 3 de Novembro de 1899 aprovava o orçamento e determinava "que o engenheiro chefe da 1ª zona de serviços de obras publicas do districto de Lisboa faça proceder á execução das alludidas obras podendo dispender no actual anno economico até á quantia de 400$000 reis por conta do referido orçamento" (ANTT, Idem, resolução régia de 3 Novembro 1899).

A 16 de Novembro as obras na igreja do Livramento já tinham sido iniciadas (ANTT, Idem, ofício de 16 Novembro 1899, do engenheiro chefe da 1ª secção).

Apesar das obras de recuperação a igreja foi fechada ao culto no seguimento das resoluções dos governos republicanos. Datam de 1912 os inventários de arrolamento de bens e arrendamento da capela do Livramento (ACMF, Cópia do inventário feito pela Comissão de Arrolamento do 4º Bairro de Lisboa, aos haveres existentes na Ermida do Livramento, Cx. 363, 9 Janeiro 1912). No ano seguinte a igreja é incorporada na Fazenda Nacional (ACMF, Incorporação da antiga ermida do Livramento na Fazenda Nacional, Cx. 273, 15 Março 1913). A 28 de Maio de 1919, é solicitada pelo administrador geral da Caixa Geral de Depósitos a cedência definitiva da Capela do Livramento para instalação de uma agência da Casa de Crédito Popular. Na altura a igreja encontrava-se ocupada por uma carvoaria arredada a José Augusto Maria Estorninho por 10$00 anuais (Arquivo CGD, DNI - Carta do Administrador Geral da CGD ao Ministro da Justiça solicitando a cedência definitiva do edifício da extinta igreja do Livramento, 28 Maio 1919; HACMF, Pedido de cedência definitiva da Capela do Livramento, na freguesia de Alcântara, para a instalação de uma agência da Casa de Crédito Popular, pela Caixa Geral de Depósitos, Cx. 484, 20 Junho 1919).

Pelo decreto nº 5879 o edifício da antiga ermida do Livramento de Alcântara é cedido definitivamente à Caixa Geral de Depósitos mediante a indeminização única de 2500$000, paga directamente à Comissão de Execução da Lei de Separação (Diário do Governo de 17 de Junho de 1919) e é ainda hoje uma agência bancária da Caixa.

Caracterização arquitectónica
No início do século XVIII, de acordo com o autor anónimo do Manuscrito nº 145 da BNP, a frontaria da igreja nam he de muyta fabrica, a assim só tem suas quartelas e simalha, sobre a porta da igreja, e algumas janelas que dam claridade ao coro, acabando o frontispicio em angulo, em que tem por remate huma cruz de pedra (História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 174).

Sabe-se que foram realizadas várias obras no edifício da igreja do convento. Uma delas, de autoria de Mateus do Couto, Sobrinho, foi a da capela-mor, cujo contrato foi lavrado a 8 de Agosto de 1688 e envolvia os mestres pedreiros João Esteves e António Martins (COUTINHO, I 2010, pp. 189-193 e 432). Nos dois anos seguintes houve intervenções no altar-mor e nos dois altares laterais, segundo contrato celebrado para esse fim com o arquitecto e entalhador José Rodrigues Ramalho (Idem, pp. 195-199 e 432). Estas obras deveriam estar integradas nas encomendas efectuadas por Frei Jerónimo de Jesus. Em Março de 1692 é contratado o mestre pedreiro Pascoal Nunes para trabalhar segundo risco de Mateus de Sousa (Idem, p. 432).

Descreve o autor da História dos Mosteiros... entrando da porta da igreja pera dentro fica o coro, cujo tamanho he proporcionado ao que pede a igreja. Logo diante do coro tem lugar hum arco de pedraria branca, que começando do pavimento da igreja em ambos os lados vai com sua altura buscar o tecto da igreja, e deste arco pera diante, nos dous lados do corpo da igreja se segue em sufficiente altura bom azolejo, por cima do qual de deyxam ver dous formosos paineis de boa nam, com largas molduras de talha, os quaes payneis com sua altura se ajustam com a cimalha da igreja (História dos Mosteiros..., II, 1972, p. 174). Os dois púlpitos eram guarnecidos em talha. A estes seguiam-se duas capelas com arcos de pedraria, com retábulos de talha com duas colunas de cada lado mas mays afastadas, postas em linha direyta com seos quartões e molduras, que faz os retabolos vistosos (Idem). Adiante das ditas capelas fica novo arco de pedraria semelhante ao da entrada e ambos os dittos dous arcos nam fazem mays sacada da parede pera fora que a grossura da pedraria (Idem). Adiante fica o cruzeiro e juntamente a capela-mor que não se diferençia do corpo da igreja nem em altura nem em largura porque o tecto de abóbada corria com o corpo da igreja, diferenciando-se só pelas grades que a dividem. Nos dois lados da capela- mor, dois grandes painéis que se ajustam em largura e altura aos lados da capela. O espaço que ficava entre os painéis e o pavimento da capela era decorado com embutidos de pedra vermelha sobre branca (Idem pp. 174-175).

O retábulo da capela-mor vai até ao tecto, e é de duas colunas de cada lado retorcidas com seos trossos que acompanham a volta do arco do retábulo, em cujo meyo tem lugar huma desafogada boca de tribuna, e della pera dentro se ve huma fermosa casa com bastante grandesa e altura pera o throno que no meyo della tem seo lugar, o qual forma em cima huma charola com columnas à roda, de duas em duas, com seo tecto e quartelas nos lados que lhe servem de remate, e dentro huma boa peanha sobre a qual se ve a fermosa imagem da Virgem Senhora do Livramento, que terá dous palmos de alto, com huma coroa de prata dourada sobre a cabeça, com perfeyto estofado e suas roupas. Por diante da sanctissima imagem se ve huma cortina de ló branco que serve d´ encerrar e dezencerrar a imagem da Senhora (Idem, p. 175). A tribuna no tecto como nos lados é de boa talha tal como o trono e charola. Na altura em que escreve o autor anónimo diz que até à altura nenhuma talha tinha dourado (Idem).

Nos finais do século XVIII, o cronista da Ordem da Santíssima Trindade, frei Jerónimo de São José, refere uma igreja de uma só nave, em abóbada, com cumprimento de 50 passos e de largura 20. A capela-mor, em talha dourada, com as armas da rainha D. Maria I, formando no alto um trono onde se encontrava numa vidraça a imagem da Senhora do Livramento. Quanto às duas capelas laterais, a da parte da Epistola, onde se encontrava uma imagem de Cristo de grande devoção e outros santos num retábulo dourado, era dedicada ao Santíssimo; e a da parte do Evangelho era dedicada a Santa Gertrudes, representada numa escultura estofada de 5 palmos de altura. Aqui também estavam as imagens do Beato Simão de Roxas e de Santa Catarina. He esta Igreja alegre, com sufficiente Coro, dous pulpitos, o tecto em abobeda pintado, e as paredes ornadas com quatro preciosos paineis de molguras douradas sobre a vida da Virgem, um de 18 palmos, que se acha defronte da real Tribuna, e os outros de 14 palmos. A Sacristia he proporcionada, e ainda que pequena, muito importante pela prata que tem, riquissimos paramentos dados pelas Augustas Magestades, e mantos preciosos da mesma Senhora, singularmente bordados, pelas delicadas mãos da Serenissima Princesa e Infantas (S. JOSÉ, I, 1789, p. 311).

O altar ficava assentado numa altura que de toda a igreja se deixa bem ver. Passando as grades do cruzeiro para dentro da parte do Evangelho fica uma porta que dá para a sacristia. O tecto é de esteira com seus painéis, frisos e molduras pintados de várias cores (História dos Mosteiros..., II, 1972. p. 176). Nos cayxões tem seo respaldo, e as gavetas dos cayxões com boa guarniçam de metal dourado. Por cima do cayxam, bem no meyo delle, se ve hum nicho da mesma madeyra dos cayxões, com suas quartelas em cima, com huma imagem do Senhor Crucificado, e aos lados deste nicho tem lugar dous bons espelhos de competente grandesa, com o repaldo, encayxados na mesma obra, com que a obra da sancristia nam deyxa de ser proporcionada ao asseyo e limpeza da igreja, na qual estam os religiosos que servem de capellães da Senhora do Livramento (Idem).

A imagem da Senhora do Livramento seria de início de roca. Porém os religiosos trinitários acharam que ficaria melhor de escultura, e mandaram fazer o corpo, onde se ajustou a cabeça, as mãos e o Menino Jesus da imagem original (S. JOSÉ, I, 1789, p. 311).

O Convento, segundo o cronista frei Jerónimo de São José (Idem, pp. 311-312) pelo que respeita ao material he pequeno, mas proporcionado para os moradores que tem, que são 16 Religiosos, com sufficiente renda para o seu sustento. Conta de tres dormitórios, além de outras accomodações que tem pela cerca. Forma dous pateos, hum interior que lhe serve como jardim. Outro em que entrão os coches com as Pessoas Reaes, para a sua tribuna. A extenção da cerca he sufficiente para o edificio, rodeada de muros, e muralhas da Cidade, aonde no alto tem hum bem notavel mirante, com recreio de terra, e mar, vendo entrar, e sahir continuamente as embarcações da barra. He cultivada de orta, com hum tanque em que tem agoa perene, e diversidade de peixes, várias ruas, bastantes parreiras com singularidade de uvas, e huma vinha, não muito grande, que tudo serve de divertimento aos mesmos Religiosos. Desde o seu principio esteve este Convento dentro de muralhas com bastante aperto; porém com o corte que se fez por ordem Real, ficou toda a sua prospectiva descoberta e com mais extenção.

Em 1833, a igreja tinha capacidade para 200 fiéis, e o hospício que acompanha o templo dos lados da igreja, estava na altura ocupado por uma Companhia de Infantaria da Guarda Municipal de Lisboa (PEREIRA, 1927, p. 205).

A 17 de Junho de 1919 o edifício da igreja é cedido à Caixa Geral de Depósitos, e nos anos seguintes são realizadas obras de adaptação para agência bancária que alteraram completamente a fachada e o interior. O projecto, datado de 1921, foi um dos primeiros trabalhos do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro.

Junto ao edifício da igreja, na vertical no muro de suporte da escadaria lateral que daria acesso à tribuna real, encontra-se colocada, protegida por vidro, a lápide tumular dos fundadores da igreja. Transcreve-se desenvolvendo as abreviaturas: Sepultura de Rodrigo Homem de Azevedo / cidadão desta cidade / e de sua primeira mulher Jeronima / Jorge e Maria de Alcasiova / sua segunda molher os qoais edificarão esta casa / a sua custa na nova envo / cação do Livramento a primeira / neste Reino no ano de 606 / para si filhos e erdeiros peden hum Pater Noster por suas almas.

Inventário de extinção
ANTT, Ministério das Finanças, Convento de Nossa Senhora do Livramento, Cx. 2233

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O processo de supressão do Convento de Nossa Senhora do Livramento (172 fólios digitalizados) decorreu no seguimento da portaria de 26 de Novembro de 1833, pela qual a Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas, encarregada da Reforma Geral Eclesiástica, determinava que o bacharel Caetano Gomes Leitão e o escrivão José Gualdino Ferreira se deslocassem ao convento com três testemunhas a fim de averiguarem qual a vantagem que a religião ou o Estado alcanção na conservação do referido convento (f. 0047-0049). De acordo com a portaria deveriam verificar a aplicação dos Decretos de 5 e 9 de Agosto do 1833 relativos à conservação ou supressão do convento e fazer a relação dos religiosos que constituíam a comunidade. Se estes não ultrapassassem o número de doze, o juiz e o escrivão deveriam proceder ao inventário dos bens do convento, o qual deveria incluir: os objectos de culto religioso, a entregar à guarda do padre da paróquia a que pertencia o convento (freguesia de São Pedro de Alcântara); as obras que constituíam a livraria; os objectos de uso comum; os objectos preciosos; e o cartório discriminando títulos, dividas, encargos pios, foros, padrões de juro entre outros documentos relacionados com os bens do convento.

No dia 2 de Dezembro deu-se início ao processo de supressão, numa altura em que só residiam dois religiosos no convento: o ministro responsável - frei António Correia e um leigo de nome frei Luís da Fonseca (f. 0057-0058).

As três testemunhas notificadas pelo escrivão para assistirem ao referido inventario e dizerem quais são as utilidades que rezultão da existencia daquele convento (f. 0055-0062) foram Manuel António Afonso, Vicente Ferreira da Silva e António Tavares. Estas testemunhas concluem não existir utilidade pública na preservação do convento. Na carta do juiz supressor Caetano Gomes de Leitão para a Junta, de 18 de Dezembro do mesmo ano (f. 0067-0073), este refere a inutilidade da existência do convento pois em termos religiosos o padre nem sequer coadjuvava o pároco da freguesia. Acrescenta que para o Estado os Conventos enquanto trazem consigo hum consideravel roubo de braços, que vivem entorpecidos na ociosidade, e que por outra parte podiam utilizar hua vez empregados n´Agricultura, no Comercio e nas Artes; enquanto absorvem hua parte dos bens da Nação, que por não estarem no giro das compras e vendas desfalcão as rendas publicas, e embaração no sustento que d´elles tirarião muitas familias, tornão-se os maiores obstaculos da prosperidade nacional, prescindido ainda de serem pela maior parte o receptaculo da immoralidade e que enquamto ao de que se trata o Estado tanto não perde, que pelo contrario muito utilisa na sua supressão (f. 0069). O juiz supressor salienta ainda que na cerca do convento achava-se uma bateria militar e que o espaço ocupado pelo convento prejudicava a capacidade do quartel dessa bateria (f. 0069).

Os objectos religiosos do convento foram entregue ao pároco de São Pedro de Alcântara, mantendo-se na igreja os suficientes de modo a ser possível ficar aberta ao culto e continuar a rezar missa (f. 0070).

O parecer do solicitador da Fazenda Pública, António Germano Barreto de Pina, de 10 de Dezembro de 1833, refere que examinou a mobília do convento caracterizando-a como sendo de insignificante valor, reforçando que parte dela no que respeita a cadeiras, mesas, e bancos de necessidade se hande ali concervar para uso dos destacamentos de artilharia e artífices que ali se acham aquartelados por ordem superior, em razão de na cerca do mesmo convento se achar construido o forte mais defensável e importante de toda aquela linha: alem disto no mesmo Convento se acha em rezerva hum paiol de artelharia, muita polvora, bala, muniçõens e utensilios respetivos ao serviço da Camnpanha. Acrescenta que encontrou numa casa talvez 150 volumes truncados, em mau estado, e sem valor estimativo e alguns paineis tão ordinários que talvez se tenhão de recolher ao Depósito fazendo-se maior despesa que o seu valor». Finaliza o seu parecer salientando que "cumpre em razão do meu officio e como Português interessado no bem geral da Nação, e do Estado pedir a Vossa Senhoria faça presente a S. M. I. quanto seria util remover imediatamente daquele convento o Padre que ali se acha, porque o mais pequeno descuido, ou mesmo huma má vontade seria cauza de desgraças irreparaveis. As munições de guerra que mencionei estão na casa do refeitório, e outra contigua: não tem a suficiente sugurança, e reparos: a comunicação daquele Padre com os Soldados ali aquartelados não afiança bom resultado; sem profundar mais esta materia só direi, que he milhor evitar os crimes que puni-los (parecer do solicitador da Fazenda Pública de 10 de Dezembro de 1833, f. 0125-0127).

No seguimento da carta régia de 13 de Dezembro de 1833, redigida na sequência da representação do juiz supressor Caetano Gomes Leitão e do parecer do solicitador da Fazenda Pública, é ordenado que o juiz e escrivão com assistência do solicitador façam vender em leilão os moveis deteriorados e velhos pertencentes ao commum do dito convento, excepto bancos, mezas, e cadeiras de que está de posse a tropa ali aquartellada, que por isso se não pode vender ou inventariar. Da mesma maneira se fará vender em leilão os livros que por terem sido roubados por muiras vezes, e estarem quazi todas as obras troncadas, delles não pode obter utilidade a Bibliotheca Publica (f. 0025).

Foram leiloados mobília, livros e um relógio de parede. A livraria, que não mereceu ser inventariada pelas razões acima apresentadas, foi vendida em leilão. Os objectos vendidos renderam 46$385 réis (f. 0029- 0031 e 0070-0071).

No que respeita ao rendimento dos bens administrados pelo convento (f. 0075-0083), os prédios de aluguer rendiam anualmente 73$200 réis, de foros a dinheiro recebiam 78$000 réis, de foros em géneros 257 alqueires de trigo, 4 alqueires de azeite e uma galinha. Não estavam incluídos nestes montantes o rendimento das casas que o convento detinha em Almada (f. 0039 e 0078).

Quanto às dívidas activas e passivas, em 1833 eram devidos ao convento em dinheiro 9.511$276 réis, 392 alqueires de trigo, 4 de azeite e 2 galinhas. O convento devia a vários 227$000 réis. Tinha como e encargos pios 1435 missas todos os anos e nos bissextos 1438, e de encargos profanos um foro à igreja de São Nicolau no valor de 1000 réis.

Na consulta ao rei, de 17 de Janeiro de 1834, a Junta é de parecer que todos os bens e rendimentos do Convento do Livramento, pertencente à, então, já extinta Ordem da Santíssima Trindade, sejam incorporados nos próprios da Nação. Os dois frades deveriam ter direito a sustentação, pedindo que lhes seja dado pelo Tesouro Público a quantia de 326 réis diários em quanto não tiverem um equivalente por oficio ou beneficio (f. 0079). A Resolução Régia de 25 de Janeiro confirma o parecer da Junta (f. 0080).

Pela necessidade de se proceder a novos arrendamentos dos imóveis pertencentes ao convento e que foram incorporados nos Bens Nacionais pela Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas, encarregada da Reforma Geral Eclesiástica, ficamos a saber da existência de lojas arrendadas em prédios na Rua do Livramento, nº 77, inquilino Manuel António Afonso, e nº 78-79, inquilino Vicente Ferreira da Silva (f. 0009, 0013 e 0015).

No seguimento do processo de extinção procedeu-se à elaboração de autos de posse e avaliação dos bens rústicos. A 23 de Julho de 1834 foram avaliadas as propriedades em Cheleiros, Carvalhal, em 163$800 réis, aforadas a António Domingue, que pagava anualmente 15 alqueires de trigo e uma galinha (auto de avaliação de 30 Dezembro 1834 - f. 0021-0022). Pela mesma altura foram também avaliados dois olivais situados em Alverca, um com 46 pés de oliveira avaliado em 135$000, e outro com 21 avaliado em 60$000 (f. 0099-100).

Cronologia


1610 Conclusão da construção da capela de Nossa Senhora do Livramento, mandada edificar por Rodrigo Homem de Azevedo.
1677-04-02 Doação da capela e edifícios adjacentes à Ordem da Santíssima Trindade.
1686-05-10 Tomada de posse efectiva dos edifícios pela Ordem da Santíssima Trindade.
1687 A residência dos religiosos é elevada a convento.
1687-03-06 Jerónimo de Oliveira e Madalena de Amburgo instituem uma capela no convento.
1688-08-08 Obras na capela mor, da autoria de Mateus do Couto Sobrinho e dos mestres pedreiros João Esteves e António Martins.
1689 | 1690 Intervenções da responsabilidade do arquiteto e entalhador João Rodrigues Ramalho no altar mor e nos altares laterais.-90v. e caixa 25, livro 450, fl. 87-88)
1692-03 Contratação do mestre pedreiro Pascoal Nunes para trabalhar segundo risco de Mateus de Sousa.
1698 Reedificação da igreja por Jerónimo de Oliveira, agora Frei Jerónimo de Jesus depois de ter tomado o hábito trinitário.
1738-02-22 Fim do período de prolongada estiagem, atribuído à intervenção da imagem de Nossa Senhora do Livramento.
1746-07-25 Atribuido à intervenção da imagem de Nossa Senhora do Livramento o sucesso do nascimento da quarta filha de D. José I e D. Mariana Vitória.
1755-11-01 Intervenção da rainha D. Mariana Vitória na construção de uma igreja improvisada para a continuação dos ofícios divinos devido aos dados provocados pelo Terramoto.
1777-06-21 Grandiosa procissão do Palácio da Ajuda até ao Convento do Livramento para devolução da imagem de Nossa Senhora do Livramento que estivera no paço por doença de D. José I.
1832-03-01 Dão entrada na Comissão criada pela Ordem Geral do Exército nº 79, estabelecida na Casa da India, donativos para a aquisição de capotes e outros objectos para os Corpos de voluntários Realistas e de milícias. Da lista de doadores faz parte o «Padre Ministro» do Convento de Nossa Senhora do Livramento, com a quantia de 2$400 réis.
1833 O edifício do convento é ocupado por uma companhia de infantaria da Guarda Municipal de Lisboa.
1833-11-26 Portaria da Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas nomeando o bacharel Caetano Gomes Leitão para proceder ao processo de manutenção ou supressão do Convento de Nossa Senhora do Livramento.
1833-12-02 Inicio do processo de supressão com a entrada no convento do juiz de supressão, escrivão e três testemunhas.
1833-12-13 Carta régia a ordenar a venda em leilão da livraria e objetos do convento.
1833-12-19 Auto do leilão da livraria e objetos, que rendeu 46$385
1834-01-17 Resolução da Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas a favor da supressão do Convento
1834-05-30 Decretada a extinção de todas as casas religiosas masculinas das ordens regulares e a incorporação dos seus bens nos Próprios da Fazenda Nacional.
1834-07-23 Avaliação dos prédios rústicos situados em Cheleiros, Carvalhal e Alverca.
1834-08-19 Portaria do Tribunal do Tesouro Público sobre a venda e o arrendamento dos bens nacionais. Determina que o Perfeito da Província da Estremadura dê orientações para que se proceda à venda dos bens móveis e semi-móveis, excepto os objetos do culto divino, as peças de ouro e prata e as livrarias; e que arrende, por um ano, todos os prédios rústicos e urbanos da Fazenda Nacional.
1834-10-25 Resolução régia a confirmar o parecer da Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas a favor da supressão do Convento.
1891-06-26 Projeto para a construção de um edifício no terreno do extinto convento.
1898-06-22 Memória descritiva e orçamento (dois contos e oitocentos mil réis) das obras a executar na Igreja do Livramento, da autoria do arquiteto Domingos Parente da Silva.
1899-11-03 Aprovação régia do orçamento para as obras na igreja, disponibilizando 400$00 para o início das obras.
1899-11-16 Início das obras de reabilitação da Igreja do Livramento.
1910 A Igreja do Livramento é desafetada do culto após a revolução republicana.
1911-08-17 Em sessão da Câmara Municipal de Lisboa coloca-se a hipótese de adaptar a igreja a balneário público.
1911-12-16 Arrolamento de bens e arrendamento da Igreja do Livramento
1913-03-15 Incorporação da Igreja do Livramento na Fazenda Nacional.
1915-11-11 Relação dos objetos da Igreja do Livramento a entrar no Museu Nacional de Arte Antiga. (
1919-05-28 Pedido da Caixa Geral de Depósitos relativo à cedência definitiva da Igreja do Livramento para instalação de uma agência da Casa de Crédito Popular.
1919-06-17 Decreto de cedência definitiva do edifício da igreja à Caixa Geral de Depósitos.
1921 Alterações na fachada e interiores da antiga igreja, com base num projeto de Porfírio Pardal Monteiro.
1922-12-29 Em sessão de Câmara é atribuído o nome de Rua do Prior do Crato (Dom António) à Rua Direita do Livramento Edital de 23 de Janiero de 1923..

Fontes e Bibliografia


Material gráfico

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Cartografia

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[Enquadramento urbano | Convento de Nossa Senhora do Livramento de Lisboa, 1834].

[Enquadramento urbano | Convento de Nossa Senhora do Livramento de Lisboa, 1834].

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Manuscrito

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Inventário de extinção do Convento de Nossa Senhora do Livramento de Lisboa. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Convento de Nossa Senhora do Livramento de Lisboa, Cx. 2233.

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Material Fotográfico


Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Agência CGD | Fachada sul. DPC_20131217_002.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Agência CGD | Frente de rua. DPC_20150311_005.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2015.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Agência CGD | Frente de rua. DPC_20150311_002.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2015.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Agência CGD | Frente de rua. DPC_20150311_003.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2015.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Agência CGD | Fachada nascente. DPC_20131119_037.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Agência CGD | Fachada norte/ poente. DPC_20131119_034.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Interior | Agência CGD | Igreja | Tecto. DPC_20131119_026.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Interior | Agência CGD | Igreja | Vão. DPC_20131119_016.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Fachada Norte | Agência CGD | Escada exterior. DPC_20131119_009.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Exterior | Fachada Norte | Escada exterior. DPC_20131119_007.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Interior | Igreja | Placa. DPC_20131119_011.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2013.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2012.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2012.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2012.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor. Convento da Nossa Senhora do Livramento-5.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2012.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Museu de Lisboa Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2012.

Convento de Nossa Senhora do Livramento | Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor.
© CML | DMC | DPC | José Vicente 2012.


Inventariantes


Edite Alberto - 16-07-2014
Última atualização - 2018-07-23


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 Data: 2024-11-21