(1/2) DesignaçãoRecolhimento de Nossa Senhora do CarmoCódigoLxConv120Outras designaçõesRecolhimento de Nossa Senhora do Carmo dos Olivais; Recolhimento de Meninas Orfâs Desamparadas; Convento dos Moinhos; Quinta dos MoinhosSumárioO Recolhimento de Nossa Senhora do Monte Carmo (também conhecido como "Recolhimento de Meninas Orfãs Desamparadas" ou por Quinta ou Convento dos Moinhos) foi uma casa religiosa carmelita fundada em 1780, aos Olivais (num lugar conhecido como "Moinhos de D. Garcia"), no qual existiu também um estabelecimento de ensino feminino. Tendo passado incólume, no decorrer do século XIX, à extinção das ordens religiosas, foi, no entanto, extinto em 1910 após a Implantação da República. Em 1917 é adquirido pelo Ministério da Guerra, passando a fazer parte da Manutenção Militar, que aí instalou oficinas, depósitos, currais e um aviário. Em 1929 o edifício é alienado à Companhia Portuguesa de Petróleo Atlantic (no qual instalou os seus serviços de secretaria) e por esta à BP em 1958.
Aquando da reconversão da zona de Cabo Ruivo para acolher a Expo?98, o edifício foi demolido, tendo o seu terreno sido integrado no recinto da exposição (junto a um dos extremos da sua principal via, a Alameda dos Oceanos), fazendo atualmente parte do Parque das Nações.Caracterização geralOrdem religiosaOrdem dos Carmelitas DescalçosGéneroFemininoData de fundação1780Data de demoliçãoDécada de 1990Data de extinção1910Tipologia arquitetónicaArquitetura religiosaCaracterização actualSituaçãoRecolhimento - Demolido(a) Cerca - UrbanizadaDescriçãoEnquadramento históricoO Recolhimento de Nossa Senhora do Monte Carmo (também conhecido como Recolhimento de Meninas Orfãs Desamparadas ou por Quinta ou Convento dos Moinhos) foi uma casa religiosa carmelita fundada em 1780, aos Olivais (num lugar conhecido como Moinhos de D. Garcia). Segundo Paulo Caratão Soromenho, o recolhimento terá sido fundado por um negociante português que, por ocasião de uma tempestade ocorrida aquando de uma sua travessia marítima do Brasil para Lisboa, fez uma promessa a Nossa Senhora do Carmo de que fundaria um colégio de carmelitas se sobrevivesse à viagem (SOROMENHO, 1966b, p. 4). Assim, e embora as fontes não sejam totalmente claras nesse sentido, parece tratar-se de um recolhimento no qual também funcionava um estabelecimento de ensino feminino.
Em 1882 a compra do edifício contíguo permitiu dotar o recolhimento/colégio de melhores condições, passando assim a ser formad[o] por um assento de casas, de que sobressaía a majestosa e ampla residência, e pela cerca anexa, composta por horta, poço, tanque, parreiras (DELGADO, 1969, p. 56).
É extinto em 1910, após a Implantação da República, tendo o seu recheio sido destruído ou roubado e os seus bens arrolados. Em 1917 é adquirido por 8000$000 pelo Ministério da Guerra, passando a fazer parte do património da Manutenção Militar que no edifício instalou oficinas de canastreiros, depósitos de canastras, currais dos porcos e um aviário. A antiga cerca era explorada como horta para a produção de hortaliças e frutas para o rancho das praças e para a cantina do estabelecimento (PINTO, II, 1967).
Em 1929 o edifício é alienado à Companhia Portuguesa de Petróleo Atlantic, que nele instalou os seus serviços de secretaria, construíndo os seus depósitos e demais instalações industriais no terreno envolvente: "Quando a Atlantic Refining Co., de Filadélfia, resolveu acabar com a simples representação dos seus produtos, confiada à firma Costa & Ribeiro, e organizou uma Sociedade Anónima [...], não possuia, como é natural, quaisquer instalações, nem terrenos destinados às mesmas. Por uma questão de cautela, visto instalações desta natureza representarem uma proximidade perigosa, e ainda por os terrenos afastados do centro da cidade serem muito mais acessíveis em preço, procurou uma área onde começava a delinear-se a zona industrial da capital - Cabo Ruivo. Entrou primeiramente em contacto com a Manutenção Militar.[...] A venda à Atlantic foi feita por escritura outorgada no notário Dr. António Cornélio da Silva, em 12 de Março de 1929 [...] [tendo-se esta tornado legalmente lícita] depois de publicado o decreto nº 16809 em que o Ministério da Guerra veio declarar que considerava válida a transmissão" (SOROMENHO, 1966b, pp. 5-6).
Por sua vez, esta empresa venderia o edifício à, também petrolífera, BP em 1958.
O edifício foi demolido na decorrer da década de 1990 aquando da construção da Expo'98, tendo o seu terreno sido integrado no recinto da exposição.Evolução urbanaA Quinta dos Moinhos foi construída no início do século XIX na freguesia dos Olivais, na zona de Cabo Ruivo. Tratava-se à época de um arredor da cidade de Lisboa, zona de grandes quintas sem quaisquer outras casas religiosas nas proximidades à exceção do Convento de São Cornélio (LxConv101). A partir do segundo terço de novecentos, toda a área de Cabo Ruivo sofre uma profunda transformação com a forte ocupação por unidades industriais (ex: BP, SACOR, SHELL, SONAP, Vacuum Oil Company...). Em 1966, Paulo Caratão Soromenho fala desta transformação e da existência de alguns resquícios da bucólica realidade oitocentista: Não há muito, em toda a frente estendia-se um vasto terreno, levemente acidentado, que se limitava ao longe pelas primeiras casas da povoação. Até à porta do modesto templo seguia um caminho de pé-posto; para o Norte o horizonte fechava-se com a via férrea e para o Sul aparecia o Tejo, logo ali. O isolamento aumentava o «ambiente camiliano» que mesmo agora lá se respira, apesar do caminho asfaltado (e com bastante movimento) aberto [...] por 1958, em plano inferior ao longo da frontaria (SOROMENHO, 1966a, pp. 5-6).
Até à década de 1990, o edifício sobreviveu de forma profundamente descontextualizada no coração da principal zona industrial da cidade, constituindo-se como um dos raros edifícios pré-industrialização da área. Foi demolido em meados da década de 1990 aquando da total reconversão da zona para a realização da Expo'98. O terreno onde se localizava foi incluído no recinto da Exposição (junto a um dos extremos da sua principal via, a Alameda dos Oceanos), fazendo hoje parte do Parque das Nações.Caracterização arquitectónicaO facto de o Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo ter sido demolido na década de 1990, obriga ao recurso a fotografias antigas e a descrições de época do edifício para um melhor entendimento das suas características arquitetónicas e artísticas.
A mais completa destas descrições é dada por Paulo Caratão Soromenho, em 1966, com base na arquitetura passada e presente do edifício: no Cabo Ruivo, antigo sítio dos Moinhos, aos Olivais, entre terrenos, agora roubados ao Tejo e a linha férrea, junto ao viaduto, na Rua (ou Estrada) da Centeeira, erguido num ponto alto (debruçado sobre caminho aberto pouco antes de 1958), vê-se a fachada de um edifício de três pisos, baixo na aparência, se confrontando com o comprimento (talvez uns cinquenta metros), e formado por três corpos: o primeiro é uma construção vulgar, com porta larga e pequena janela de peito à sua esquerda, e no primeiro andar três janelas também de peito; ao meio, a capela, com porta e quatro janelas no rés-do-chão, e mais seis no primeiro andar (que interiormente correspondia ao coro, hoje desaparecido); o terceiro corpo mostra uma porta (a entrada conventual), ladeada por duas janelas, a da sacristia e a do parlatório ou locutório); no primeiro andar - três janelas. Neste lado o edifício termina e, formando esquina, segue paralelamente ao Tejo, talvez numa extensão de trinta metros, aqui com quatro pisos.
Julgo-o um edifício provàvelmente da primeira metade do século XIX, cujo motivo mais importante - a capela - se inspirou (melhor se diria: foi copiado) na fachada da igreja dos Olivais. Apesar da arquitectura pobre, a capela empresta ao conjunto, continuado pelo muro da quinta, um tom evocativo e atraente, tanto ou quanto misterioso. (SOROMENHO, 1966a, pp. 4-5).
O mesmo autor faz um pormenorizado relato de como seriam as instalações escolares em finais de oitocentos: eram no rés-do-chão. Não havia carteiras, mas uma grande mesa onde todas trabalhavam. Além da sala de estudo, neste piso as alunas tinham a casa da costura, a das flores e o lavatório. No andar nobre ficavam as celas, casa de trabalho e o recreio das freiras, os dormitórios das alunas mais velhas e das mais novas, duas retretes, o coro das freiras e o das alunas, o oratório e a farmácia. O coro das alunas tinha uma porta, de armário na aparência, que, aberta, ligava às instalações das senhoras Cantos. Os dois coros davam para a capela, com o altar-mor, no qual se venerava ùnicamente a imagem de Nossa Senhora do Carmo, cujos símbolos, de estuque, ainda hoje se conservam no tecto Em várias paredes do edifício havia nichos com imagens, uns fechados, outros não. [...]
Extensos corredores, quartos pequenos, salas grandes, sótãos e cubículos, portas e janelas, armários inesperados, degraus e recantos, esconsos e tectos altos, um pátio interior pomposamente denominado de claustro, varandas e telhadinhos (IDEM, pp. 9-10).
No aditamento ao seu artigo na separata da revista Olisipo, o autor acrescenta alguns dados relativamente à capela do edifício, de cujo recheio se distinguiam um quadro grande a óleo, representando Jesus preso à coluna (de tamanho natural), um órgão rico, com esmalte e oiro, e numa maquineta uma pequena escultura do Menino vestido de romeiro (IDEM, p. 4).CronologiaDécada de 1990 Aquando da total reconversão da zona de Cabo Ruivo para a realização da Expo?98, o edifício é demolido. 1780 Fundação do recolhimento. 1834-05-30 Decretada a extinção de todas as casas religiosas das ordens regulares e a incorporação dos seus bens nos Próprios da Fazenda Nacional. 1882 Compra do edifício contíguo ao recolhimento. 1910 O recolhimento é extinto e os seus bens arrolados. 1917 Compra do edifício pelo Ministério da Guerra, passando a fazer parte da Manutenção Militar. 1928 O Ministério da Guerra vende o edifício à Companhia Portuguesa de Petróleo Atlantic. 1958 A Companhia Portuguesa de Petróleo Atlantic vende o edifício à petrolífera BP.Fontes e BibliografiaCartografiaInstituto Geográfico Cadastral; - [Planta da Cidade de Lisboa,1950]. 1/1000. 238. MP 4100 (1C) a MP 4343 (16 U). |
Instituto Geográfico Cadastral; - [Planta da Cidade de Lisboa,1970/1983]. 1/1000. |
PINTO, Júlio António Vieira da Silva; - [Levantamento da planta de Lisboa, 1904/1911]. 1: 1000. 249 plantas; 80 X 50cm, Planta 15Q (Novembro 1907). |
ManuscritoInventário de extinção do Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Lisboa. [Manuscrito]Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ministério das Finanças, Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora de Lisboa, Cx. 2228, f. 0071-0089. |
Monografia DELGADO, Ralph - A Antiga Freguesia dos Olivais. Lisboa. 1969. |
PINTO, Armando - História da Manutenção Militar, vol. II. 1967. |
PeriódicoSOROMENHO, Paulo Caratão - O Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo aos Moinhos dos Olivais. Olisipo - Boletim do Grupo Amigos de Lisboa. Lisboa: Ramos, Afonso & Moita, Lda. Ano XXVIII, nº 112, outubro de 1965. |
SOROMENHO, Paulo Caratão - O Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo aos Moinhos dos Olivais (Aditamento). Olisipo - Boletim do Grupo Amigos de Lisboa. Lisboa: Ramos, Afonso & Moita, Lda.. Ano XXIX, nºs 113/114, janeiro/abril 1966, pp. 43-46. |
Material Fotográfico
| Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo | Exterior | Fachada norte. PT/AMLSB/FIL/000121. © CML | DMC | Arquivo Municipal de Lisboa
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| Recolhimento de Nossa Senhora do Carmo | Levantamento da planta de Lisboa, 1904-1911. |
InventariantesTiago Borges Lourenço - 2015-09-24
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